FAMILIARES DAS VÍTIMAS DO AVIÃO DA GOL RECORRERÃO A ÓRGÃO INTERNACIONAL
Representantes
dos parentes das vítimas do acidente do Voo 1907 da Gol devem entrar
com ação na Organização da Aviação Civil Internacional (Icao, na sigla
em Inglês) para conseguir com o governo dos Estados Unidos (EUA) a
cassação da licença dos pilotos americanos Joseph Lepore e Jan Paul
Paladino. Os dois conduziam o Legacy 600 que colidiu com o avião da Gol,
matando 154 pessoas no dia 29 de setembro de 2006, no norte de Mato
Grosso. Após a colisão, o Legacy pousou em segurança em uma base aérea
no sul do Pará.
A ação foi uma das propostas analisadas nesta
quarta-feira durante reunião com representantes da Advocacia-Geral da
União (AGU) para tratar da questão. Em julho, os parentes das vítimas do
voo da Gol cobraram do governo medidas para assegurar o cumprimento de
decisão da Anac que cassou a licença dos pilotos americanos. A Oaci é
uma agência especializada das Nações Unidas que trabalha com a
organização dos transportes aéreos, de modo a favorecer a segurança. Ela
também é responsável pelo desenvolvimento dos princípios e técnicas de
navegação aérea internacional.
O advogado que representa os parentes das vítimas,
Guilherme Naves disse que "pelo organismo da Icao, devido ao acordo
bilateral entre Brasil e Estados Unidos, a Icao teria que tomar conta
disso. Estamos estudando a possibilidade de entrar com uma ação para que
o governo norte-americano cumpra a decisão da Anac (Agência Nacional da Aviação Civil) que puniu os pilotos".
Brasil e os Estados Unidos são signatários da Convenção
de Chicago, que regulamenta a aviação civil internacional. Um dos
artigos, que trata das regras de tráfego aéreo, determina que os
Estados-membros da convenção devem se "comprometer a processar todos os
infratores dos regulamentos em vigor".
Após investigações sobre o acidente, a Anac puniu, em
2012, os pilotos e chegou a comunicar à Federal Aviation Administration
(FAA), que é a autoridade aeronáutica dos Estados Unidos. Contudo,
Joseph Lepore e Jan Paul Paladino não sofreram punições nos Estados
Unidos e continuam pilotando. O órgão americano teria informado que, de
acordo com a legislação em vigor no país, o prazo para aplicar a sanção,
de até seis meses após o acidente, já estava prescrito.
No início de 2013, a AGU contratou um escritório de
advocacia nos EUA para estudar a legislação americana e elaborar um
documento questionando a possibilidade de pedir aplicação da sanção com
base na data de publicação do relatório final de investigação. De acordo
com Naves, a AGU informou que os resultados ainda são "inconclusivos".
"A gente esperava ter acesso ao parecer jurídico do
escritório para saber se houve ou não a prescrição da punição", reclamou
Naves, que disse que ainda não teve acesso à documentação solicitada
pela AGU. "Isso é fundamental para que a gente tenha um norte a seguir;
para saber por que é inconclusivo (o resultado da investigação do escritório americano),
por que o FAA não pode cumprir a decisão tomada pela Anac. Esse parecer
pode juntar elementos para que eu possa levar à Icao e, com base nesse
parecer jurídico, a organização determine que o FAA cumpra a decisão que
foi tomada pela Anac no Brasil."
Durante a reunião, Naves disse que também foi aventada a
possibilidade de saber se existem processos civis correndo contra os
pilotos e pedir sua execução nos EUA, o que poderia forçá-los a chegar a
um acordo com os parentes das vítimas. "Isto poderia representar uma
troca: eles deixariam de pagar indenização para receber a cassação das
licenças", observou. Uma terceira possibilidade seria pedir a extradição
dos pilotos para que eles tenham a licenças cassadas. "Com a condenação
no Brasil, se poderia cassar a licença dos pilotos."
Para o perito em aviação Roberto Peterka, os pilotos
foram responsáveis pelo acidente. "Eles não cumpriram os procedimentos
operacionais estabelecidos e descumpriram legislações próprias do
desempenho das atividades como piloto", disse. Peterka, que atuou como
assistente de acusação durante o julgamento, avalia que a solução não
virá em curto prazo. "Justamente por se tratar de dois países, existe
muita burocracia, muita coisa para se estudar a este respeito",
sentenciou.
Em outubro de 2012, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) condenou os pilotos americanos a pena de três anos, um mês e dez dias de prisão. A decisão alterou a condenação anterior, da Justiça Federal em Sinop (MT), de quatro anos e quatro meses, em regime semiaberto, pena que foi transformada em prestação de serviços comunitários. O Ministério Público Federal e os representantes das vítimas recorreram e aguardam o Superior Tribunal de Justiça (STJ) fazer novo julgamento.
Em outubro de 2012, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) condenou os pilotos americanos a pena de três anos, um mês e dez dias de prisão. A decisão alterou a condenação anterior, da Justiça Federal em Sinop (MT), de quatro anos e quatro meses, em regime semiaberto, pena que foi transformada em prestação de serviços comunitários. O Ministério Público Federal e os representantes das vítimas recorreram e aguardam o Superior Tribunal de Justiça (STJ) fazer novo julgamento.
O acidente
O voo 1907 da Gol, que fazia a rota Manaus-Rio de Janeiro, com escala
em Brasília, caiu no norte do Mato Grosso, em 29 de setembro de 2006 e
matou os 148 passageiros e seis tripulantes. O acidente ocorreu após uma
colisão com um jato executivo Legacy, fabricado pela Embraer, que
pousou em segurança numa base aérea no sul do Pará.
Os
pilotos do Legacy, os americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, são
acusados de não terem acionado o Sistema de Alerta de Tráfego e
Prevenção de Colisão (TCAS), equipamento responsável pelo contato entre a
aeronave e as torres de transmissão. A denúncia do Ministério Público
Federal, apresentada em maio de 2007, relata que o transponder do avião
da Gol permaneceu ligado durante todo o voo, mas o do Legacy, a partir
de um certo momento, foi desligado. O transponder é um aparelho que
interage com os radares secundários do controle aéreo e com outros
transponders, fornecendo informações sobre a posição e o deslocamento
das aeronaves.
A
sequência de erros que causou o acidente passou também por uma falha de
comunicação entre controladores brasileiros e pilotos do jato, que, sem
entender as instruções, teriam posto a aeronave na mesma altitude do
voo da Gol, 37 mil pés. Em maio de 2007, os pilotos e quatro
controladores de voo foram denunciados pelo Ministério Público Federal
por crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo nacional.
Os americanos foram absolvidos da acusação de negligência em dezembro de
2008, mas, em 2010 a Justiça anulou a absolvição e ordenou o reinício
do julgamento.
Em
maio de 2011, eles foram condenados pela Justiça de Mato Grosso a
quatro anos e quatro meses de prisão em regime semiaberto por expor a
perigo aeronave própria ou alheia e pelo ato ter resultado em morte. A
pena, no entanto, foi convertida em prestação de serviço comunitário e
proibição do exercício da profissão e seria cumprida nos Estados Unidos,
onde os pilotos residem.
Em
2008, os controladores de voo Leandro José Santos de Barros e Felipe
Santos dos Reis foram absolvidos sumariamente de todas as acusações pela
Justiça Federal. Jomarcelo Fernandes dos Santos também foi isentado do
crime, em maio de 2011. Na mesma decisão, a Justiça de Mato Grosso
condenou Lucivando Tibúrcio de Alencar a prestar serviços comunitários
por atentado contra a segurança do transporte aéreo.
Na
Justiça Militar, a ação penal militar para apurar a responsabilidade de
cinco controladores que trabalhavam no dia do acidente - quatro
denunciados pelo MPF e João Batista da Silva - só foi instaurada em
junho de 2008. Em outubro de 2010, quatro deles foram absolvidos -
apenas Jomarcelo Fernandes dos Santos foi condenado por homicídio
culposo. Ele recorreu ao Superior Tribunal Militar (STM), mas o órgão
manteve a condenação, em fevereiro de 2012.
fonte/AgBrasil/Terra
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