TITÂNIO RUSSO PARA A INDUSTRIA AEROESPACIAL AMERICANA


Num marco de cooperação aeroespacial entre Rússia e Estados Unidos, a Boeing e a Russian Technologies criam empresa para manufatura de componentes de titânio com finalidades aeroespaciais.

A Boeing e a JSC VSMPO-AVISMA Corporation, empresa integrante do grupo estatal russo Russian Technologies (controladora da Rosoboronexport, Oboronprom, dentre outras companhias russas dos setores Aeroespacial e de Defesa) anunciaram no início de julho a abertura das instalações da joint-venture Ural Boeing Manufacturing (UBM), na cidade de Verkhnyaya Salda, na região de Sverdlovsk. As instalações, equipadas com equipamentos e tecnologias no estado-da-arte, irão manufaturar componentes em titânio para diversas aeronaves, como o Boeing 787 Dreamliner, e outros modelos russos. A criação da UBM é um marco na cooperação entre os Estados Unidos e a Rússia no setor Aeroespacial.

Sergey Viktorovich Chemezov, diretor-geral da Russian Technologies comentou em entrevista distribuída pela Russian Technologies, e traduzida para o português pela reportagem de Tecnologia & Defesa, os planos e atividades desta nova joint-venture.

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Sergey Viktorovich Chemezov

Todos conhecem sua biografia perfeitamente bem. Mas, para, em segredo, construir sobre os Urais em tempos de crise um das empresas mais modernas do mundo, e juntamente com os americanos - isto é o que eu chamo de façanha! Como você gerenciou isto?

Na Rússia, temos um dizer a esta respeito: "Uma colher é desejada quando o horário do almoço está próximo".

É verdade que nós, digo a VSMPO-AVISMA e a Boeing, não tornamos pública, de modo geral, a construção. Nós planejamos o tempo para a inauguração destas instalações, usando suas palavras, uma das mais modernas empresas do mundo, ou segundo alguns analistas, a mais moderna empresa do mundo, para coincidir com a visita do presidente dos Estados Unidos à Rússia. Eu acredito que os motivos por trás de nossas ações são óbvios e claros para todos.

Com a ideia de criar nossa joint-venture Ural Boeing Manufacturing - este é o seu nome exato, nós acordamos com a Boeing de constituir a joint-venture em 2006, e em 2007 assinamos um acordo com este objetivo. A construção da nova planta, sua montagem, treinamento de pessoal e equipagem com máquinas de cinco eixos levaram dois anos. Nós estamos muito satisfeitos de termos feito tudo em tempo para a sua inauguração durante a visita do novo presidente dos Estados Unidos à Rússia.

A joint-venture é de fato uma união de líderes em seus ramos de atuação na Rússia e Estados Unidos - Russian Technologies State Corporation, representada pelo maior fabricante mundial de titânio, a VSMPO-AVISMA, e a Boeing, líder mundial na indústria aeronáutica.

Como um industrial, eu acredito que os laços econômicos não são menos instrumentais em desenvolver relações entre duas grandes potências do que contatos políticos. E em certos casos, tais laços mesmo predeterminam estes contatos políticos. Nós estamos orgulhosos de estarmos contribuindo para o desenvolvimento de laços econômicos mutuamente benéficos para os dois países.

E qual é o interesse da VSMPO-AVISMA, a maior fabricante de titânio do mundo, em constituir uma joint-venture com a Boeing?

O fato é que a mais moderna aeronave, o Boeing 787 Dreamliner, nunca decolará sem o titânio russo, que é o mais leve e forte metal existente. O titânio russo voa também com todas as outras aeronaves fabricadas pela Boeing: 737, 747, 767 e 777. E, é claro, é também usado em modelos avançados de aeronaves russas.

Nós fechamos com a Boeing um portfólio de encomendas e garantimos contratos de longa-duração até 2015. Contratos nos valores de bilhões de dólares já foram implementados. Nós nunca deixamos a Boeing, e a companhia americana também não nos deixou. Eu espero que esta situação permaneça no futuro! A Boeing, a VSMPO-AVISMA e a Russian Technologies se dedicaram a criar uma potente aliança mutuamente benéfica. Ela é capaz de lidar com as mais desafiantes tarefas industriais do século 21 com padrões mundiais de qualidade usando tecnologias do estado-da-arte.

Vender barras de titânio é muito fácil, mas é atividade menos lucrativa. Por isto é que desde o início da cooperação com a Boeing, a VSMPO-AVISMA Corporation foi gradualmente se movendo em direção à produção e venda de produtos com valor-adicionado. A criação do complexo de fabricação é um lógico elemento desta política.

E por que exatamente a joint-venture?

O ponto é que até agora nós tínhamos falta de experiência na fabricação que nós precisamos, e outra razão é que sem a joint-venture nós teríamos dificuldades em obter todo o maquinário e outros equipamentos.

Ontem, nós lançamos o complexo de máquinas mais avançado do mundo. Ele tem equipamentos únicos em termos de modernidade. Entre outras coisas, a tecnologia empregada na UBM permite à empresa valiosos conhecimentos na produção de titânio e num futuro próximo possibilitará a ela que inicie a produção de placas finalizadas. De qualquer modo, este é nosso objetivo imediato.

O que são esses equipamentos únicos?

Eles são as mais avançadas máquinas de cinco eixos da MAG Cincinnati para aplicações robustas, no caso, o processamento de titânio. Eu não quero incomodá-lo com termos técnicos. Eu apenas digo que as máquinas podem cortar uma esfera numa placa de titânio com uma precisão do tamanho de um terço de um fio de cabelo humano. Acredito que esta comparação é suficiente para indicar o potencial dessas máquinas.

Mas o que é também importante é que a administração anterior do governo dos Estados Unidos, referindo-se a medidas de proibição aplicáveis, muitas vezes impediu a exportação de modernos equipamentos para a Rússia. O presidente Obama aboliu esta discriminação, e somos gratos a ele por esta decisão.

Estou certo de que você ouviu diversas opiniões de que o fato de fornecedores russos responderem por 40% da demanda da Boeing por titânio, a estadunidense Boeing supostamente acaba se apoderando do titânio russo. Qual é a sua opinião a respeito?

Isto não é verdade. Deve ser lembrado que a Rússia não é somente uma fornecedora de titânio, mas também é uma fonte de conhecimento, know-how e ideias necessárias para a fabricação de equipamentos aeronáuticos americanos modernos. Por exemplo, os escritórios da Boeing nos EUA e em Moscou estão cheios de empregados de alto-nível que tomarão parte da fabricação do Dreamliner. Isto não é uma surpresa. Hoje, um produtivo competitivo de alta-tecnologia criado sem cooperação internacional é difícil de imaginar.

A aeronave russa Sukhoi Superjet 100, que foi apresentada internacionalmente no recente salão de Le Bourget, foi desenvolvida em cooperação com a companhia italiana Alenia Aeronautica e com a Boeing. Os fornecedores dos principais sistemas do Superjet incluem nomes como as francesas Snecma e Thales, a alemã Liebherr, a estadunidense Honeywell, e outras companhias líderes do Ocidente.

Quais serão as tarefas com as quais a joint-venture terá que lidar e como ela irá se integrar com a cadeia de produção da VSMPO?

A UBM executará atividades de manufatura primária sobre placas de titânio produzidas pela VSMPO-AVISMA. A manufatura final sobre as estruturas de titânio devem ser realizadas na planta da Boeing em Portland, nos Estados Unidos, e em outras empresas de processamento ou subcontratadas. Além do mais, os restos do titânio trabalhado serão imediatamente enviados para a VSMPO-AVISMA para reciclagem. Isto tornará possível criar uma cadeia cíclica próxima única para apoiar a fabricação de produtos de titânio semi-acabados, placas e outros tipos de produtos.

Então, eu gostaria de desejar a este novo negócio um trabalho muito bem coordenado e novos contratos. Eu desejo a nós, quero dizer, às partes russas e estadunidenses, novos modelos de aeronaves e equipamentos espaciais, naturalmente com titânio russo, e também modernas tecnologias russas e estadunidenses.
fonte: tecnologia&Defesa

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