NÚMEROS DE ACIDENTES PREOCUPA PROFISSIONAIS DA AVIAÇÃO AGRÍCOLA
A frota brasileira de aviões agrícolas é de 1,9 mil unidades — a segunda maior do mundo, atrás dos Estados Unidos
Foto:
Tadeu Vilani / Agencia RBS
As supersafras obtidas no país nos últimos anos são reflexo, em
parte, do uso de técnicas que levam ao aumento da produtividade, entre
as quais a pulverização aérea de lavouras. Com mais aeronaves
sobrevoando campos Brasil afora, aumentou o número de acidentes e a
preocupação do setor com a segurança na aviação agrícola.
Em 2013, foram registradas 31 ocorrências no país, de acordo com o
Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) —
181% a mais do que em 2009. No Rio Grande do Sul, foram oito ocorrências
no ano passado, alta de 167% em relação ao registrado cinco anos antes.
O elevado número de acidentes preocupa o Sindicato das Empresas de
Aviação Agrícola (Sindag), que terá a segurança como foco do congresso a
ser realizado em agosto, em Foz do Iguaçu (PR). Francisco Dias da
Silva, secretário do sindicato, ressalta que uma das bandeiras da
entidade é ter regras mais rígidas para a formação de pilotos. A
sugestão, já encaminhada à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é a
ampliação do número de horas práticas para a formação de piloto
agrícola, das atuais 370 para 500.
— Pela característica da atividade, o piloto precisa voar muito baixo
e tem menos tempo de reação em caso de problemas, o que aumenta os
riscos — explica Dias.
Outra iniciativa para reduzir os acidentes é a recém-criada
Certificação Aeroagrícola Sustentável (CAS). A ideia é reforçar o
cumprimento de todas as recomendações de segurança por parte de
empresas, agricultores e profissionais.
— Nem todos executam corretamente o planejamento de solo, o que pode
evitar colisão com a rede elétrica, causa frequente de acidentes —
exemplifica Wellington de Carvalho, professor de mecanização agrícola da
Universidade Federal de Lavras (MG) e um dos idealizadores da
certificação.
Violação de regra é causa de 15% das ocorrências
Levantamento do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de
Acidentes Aeronáuticos da 5ª Região (Seripa V) mostra que 15% dos
acidentes na aviação civil têm relação com normas não cumpridas. É esta
também a realidade da aviação agrícola no Estado, alerta Carlos Barboza,
tenente-coronel do Seripa V, responsável pela Região Sul.
— Sem seguir as recomendações do fabricante sobre o peso carregado,
por exemplo, o piloto pode fazer uma manobra com cálculo errado de
inclinação. Isso pode ser fatal. É muito frequente a violação de regras,
até mesmo básicas, por algum dos envolvidos na operação — lamenta o
militar.
No caso específico da aviação agrícola, 60% dos ocorrências têm
relação com manobras feitas em baixas alturas, perda de controle do voo
ou falha do motor, ressalta Barboza:
— O famoso jeitinho brasileiro agrava a situação. Há muita gente que,
mesmo estando fora do prazo de revisão do equipamento e sabendo, se
arrisca e deixa para fazer isso depois da safra.
A expansão e as regras da atividade
A frota brasileira de aviões agrícolas é de 1,9 mil unidades — a
segunda maior do mundo, atrás dos Estados Unidos, que contam com
aproximadamente 5 mil aviões. Por aqui, o número de aviões foi ampliado
em cerca de 30% desde 2008, quando o Brasil contava com 1.447 aviões no
Registro Aeronáutico Brasileiro, da Agência Nacional de Aviação Civil.
No ranking dos Estados, a maior parte da frota está localizada em
Mato Grosso, com 446 aviões. Em segundo lugar está o Rio Grande do Sul,
com 411 aeronaves, seguido de São Paulo (268), Goiás (234), Paraná (138)
e Mato Grosso do Sul (95).
Para atuar na área, é preciso fazer o curso de piloto privado (o que
habilita a realização da atividade como hobby) e, em seguida, o de
piloto comercial (que permite trabalhar em companhias aéreas). Somente
depois dessas etapas é possível se matricular em um curso de piloto para
aviação agrícola.
Cerca de 24% das pulverizações nacionais são feitas por aviões, em
culturas como soja, algodão, milho, arroz, cana-de- açúcar, feijão e
trigo.
O sistema tem como benefícios a redução de custos (evita o
amassamento dos grãos, que em algumas lavouras pode chegar a 8% da
colheita) e é uma opção para o tratamento de pragas e fungos em
situações críticas, como em terrenos lamacentos (épocas de chuva),
lavouras altas ou áreas alagadas, como de arroz.
fonte/foto/G1
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