EM GREVE DE FOME, EX-COMISSÁRIO DA VARIG PEDE SOLUÇÃO PARA AERUS
RIO - O ex-comissário de bordo José Manuel da Rocha da Costa tem 67
anos, dos quais 32 trabalhados na Varig. Ao longo de todo esse tempo,
alimentou o sonho de que teria um futuro tranquilo, ao lado da mulher,
Maria Irene, de 58 anos, também comissária e parceira de voo na
companhia aérea. Quando se aposentou, em 2002, os planos do casal eram
curtir o tempo livre viajando e ver o filho cursar uma faculdade. Tudo
seguia como planejado até 2006, quando foi decretada a intervenção
judicial do Aerus, fundo de pensão dos ex-funcionários da Varig e da
Transbrasil.
Desde então, as aposentadoria de Costa e da esposa
começaram a minguar. Hoje, ele recebe R$ 600 por mês, quando deveria
receber cerca de R$ 8 mil. Maria Irene ganha ainda menos: R$ 300
mensais, nem um décimo dos cerca de R$ 5 mil que deveria receber.
Considerando o INSS e a aposentadoria privada de ambos, a renda familiar
é de R$ 4.400, dos quais quase R$ 2 mil são consumidos com plano de
saúde. O casal já se desfez do apartamento de três quartos que tinha em
Niterói e se mudou para um menor, de dois quartos, na mesma cidade. O
único filho, Adriano, de 21 anos, mora com eles e paga sua faculdade.
Cansado de tanto esperar por uma solução para o impasse do Aerus,
Costa decidiu tomar uma decisão radical. Desde 16h de segunda-feira, faz
greve de fome no Santos Dumont. Toma banho com toalhas umedecidas na
água da torneira do aeroporto e bebe apenas água trazida por amigos. Com
um depoimento que tem circulado na internet, sensibilizou colegas, que
têm se revezado para fazer companhia a ele. A aparência cansada revela
sua primeira noite mal dormida em pleno saguão do aeroporto, de onde
promete não arredar até que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue os
recursos de duas ações capazes de mudar a situação dos aposentados do
Aerus.
— Há seis meses, o ministro Joaquim Barbosa está com o
pedido de tutela antecipada para que a União assuma o pagamento das
aposentadorias. Em maio, uma outra ação (em que é pedido que a União
indenize a massa falida da Varig por causa do congelamento de tarifas
imposto entre 1985 e 1992) teve parecer favorável da ministra Cármen
Lúcia, mas o ministro pediu vistas do processo. Assim ninguém aguenta.
Minha vida vai parar onde?
Na sede do Aerus, 13 acampados
Segundo
o Aerus, a indenização devida pela União no caso da defasagem tarifária
seria de cerca de R$ 7 bilhões, em valores atualizados. O interventor
do fundo, José Pereira, diz que está tentando uma audiência com o STF
para hoje, numa tentativa de que as ações sejam incluídas na pauta após o
recesso do Judiciário. A pior situação é a dos 8.170 participantes do
plano 1 da Varig, que só têm recursos para poucos meses.
Na sede
do Aerus, no Centro do Rio, 13 aposentados também estão acampados desde
quinta-feira pela mesma razão que Costa resolveu fazer a greve de fome.
Dormem espalhados em colchonetes pelos corredores e passam o tempo
fazendo palavra cruzada. Entre eles está Silvio Araújo, de 76 anos,
ex-comandante da Transbrasil. Como recebe do fundo apenas um terço do
que deveria, passa o mês fazendo contas para conseguir pagar o plano de
saúde da família — sua mulher não trabalha e a filha é residente em
medicina — e os seis remédios que tem de tomar diariamente. Araújo é
hipertenso e diabético.
— Estou disposto a ficar aqui indefinidamente — disse.
O
grupo é liderado pelos diretores do Sindicato Nacional dos Aeronautas,
Zoroastro Ferreira, de 82 anos, ex-comandante da Varig, e Marcelo Bona.
Eles dizem que o grupo só deixará o local quando um representante do
governo for enviado até lá para discutir o futuro do Aerus.
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