SOBREPREÇO E FALTA DE PROJETO TRAVAM AMPLIAÇÃO DE AEROPORTOS NO PAÍS
Com o aumento do número de passageiros, a chegada da Copa e das
Olimpíadas, os aeroportos brasileiros vão precisar de R$ 34 bilhões em
investimentos até 2030 apenas para se adequar às necessidades. As obras,
no entanto, enfrentam superfaturamento, sobrepreço e atraso por falta
de projetos executivos, mostra reportagem do Fantástico.
O aeroporto de Vitória, no EspíritoSanto,
enfrenta obras de emergência por ter esgotado a capacidade há anos e
não ter conseguido concluir a construção de um novo terminal, prevista
para 2008.
A construção começou em 2006, mas está abandonada desde 2008. Em uma
fiscalização, o Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou um rombo de
R$ 43 milhões nas obras e determinou à INFRAERO
que descontasse esse valor dos futuros pagamentos ao consórcio
responsável pelas obras. As empresas não aceitaram e paralisaram a
construção.
Segundo o TCU, houve pagamento de serviços que não constavam do
contrato ou não foram realizados. Na lista de itens com sobrepreço ou
superfaturados, estão asfalto e pista de concreto.
O consórcio, formado pelas empresas Camargo Correa, Mendes junior
e Estacon, afirmou, em nota, que não houve superfaturamento nem
sobrepreço. E que negociou com a Infraero a rescisão do contrato por não
ter condições de continuar a obra após o TCU pedir o desconto dos
pagamentos considerados indevidos.
Para o ministro do TCU, Raimundo Carreiro, a paralisação foi “pura
retaliação” contra a decisão do tribunal para evitar fiscalizações
futuras.
Da obra, restaram as sapatas de apoio da estrutura, os ferros de
construção no chão e a terraplanagem para a nova pista, exposta à chuva e
à erosão.
As dez pontes de embarque, previstas no projeto, têm sobrepreço perto
de R$ 23 milhões, tomando por base o preço de referência do TCU. Segundo
o órgão, o preço deveria ser de R$ 630 mil, já o consórcio apresentou
um custo de R$ 2,925 milhões, quase cinco vezes mais caro.
O consórcio diz que a comparação de preços por itens não deve ser
aplicada nesse caso porque a concorrência foi feita com preço fechado e
outros itens estariam com preço abaixo do mercado. Além disso, as pontes
teriam características próprias para cada aeroporto.
As obras do posto do corpo de bombeiros junto à pista e da nova torre
de controle avançam porque a Infraero conseguiu separá-las do contrato
original por serem fundamentais para a segurança do aeroporto.
Na justiça, a Infraero e o consórcio foram orientados a renegociar para finalmente terminar o aeroporto. No entanto, o TCU diz que um advogado apresentou uma petição dizendo que não se submeteria à fiscalização do tribunal. “Mas foi descartado e depois foi até um pedido de desculpas, e nós fixamos aqui esse entendimento: que só voltaríamos a analisar o assunto com os projetos completos”, diz Carreiro.
Na justiça, a Infraero e o consórcio foram orientados a renegociar para finalmente terminar o aeroporto. No entanto, o TCU diz que um advogado apresentou uma petição dizendo que não se submeteria à fiscalização do tribunal. “Mas foi descartado e depois foi até um pedido de desculpas, e nós fixamos aqui esse entendimento: que só voltaríamos a analisar o assunto com os projetos completos”, diz Carreiro.
O presidente da Infraero, Gustavo do Vale, diz que o TCU avisou, em
2009, que só autorizaria a retomada da obra com o projeto executivo
pronto. Os projetos executivos do terminal de passageiros e da
infraestrutura estão sendo desenvolvidos.
“No caso do sistema aeroviário, nós temos várias obras que estão
atrasadas por falta de projeto. Isso é um gargalo terrível”, diz o
ministro da secretaria de aviação civil (SAC), Moreira Franco. Ele diz
que agora, acompanhada pelo TCU, a negociação vai avançar.
Há 58 obras de aeroportos em andamento, incluindo os 15 maiores do
país. Desde 2004, o número de passageiros de avião no Brasil cresce 11%
ao ano e os embarques chegaram a 200 milhões por ano. Até 2030, a
previsão é que passem dos 500 milhões por conta do aumento da renda do
brasileiro e da queda de 50% no preço das passagens desde 2004.
'Puxadinho'
Em um dos maiores gargalos aeroportuários do país, o aeroporto de Guarulhos, a Infraero decidiu transformar um galpão de uma empresa aérea falida em um terminal remoto: o terminal 4. À beira de um apagão aeroportuário, em 2011, a obra foi feita com dispensa de licitação. “Por quê? Por que nós precisávamos ter um terminal pronto ainda para o final do ano de 2011”, diz o presidente da Infraero.
Em um dos maiores gargalos aeroportuários do país, o aeroporto de Guarulhos, a Infraero decidiu transformar um galpão de uma empresa aérea falida em um terminal remoto: o terminal 4. À beira de um apagão aeroportuário, em 2011, a obra foi feita com dispensa de licitação. “Por quê? Por que nós precisávamos ter um terminal pronto ainda para o final do ano de 2011”, diz o presidente da Infraero.
A obra deveria ficar pronta em prazo recorde de seis meses, mas duas
semanas antes do prazo para inauguração, o teto desabou e se perdeu a
justificativa para emergência.
“Infelizmente, o terminal levou oito meses pra ficar pronto em função
do problema que teve em dezembro de 2011, que uma parte da estrutura do
teto cedeu e foi necessário mais alguns meses. E a gente teve que
aguentar”, diz o presidente da Infraero.
O terminal está isolado do resto do aeroporto e tem só três empresas
operando. O movimento é em torno de 100 mil passageiros por mês, contra
2,8 milhões nos terminais 1 e 2, menos de 4% do total, o que lhe rendeu o
apelido de "puxadinho".
Por conta da urgência, a obra do "puxadinho" de R$ 86 milhões foi
entregue sem licitação para a construtora Delta, e mesma envolvida numa
série de escândalos em obras públicas de todo o país. Além disso, o
acabamento chama a atenção. As folhas de alumínio, que fazem o
isolamento térmico e acústico do teto, se mexem com o vento.
Os problemas do teto e também da rachadura e vazamentos foram apontados em relatório do TCU que fiscalizou a qualidade da construção.
O documento aponta falha na fiscalização. Em nota, a Delta diz que
eventuais reparos de responsabilidade da empresa serão realizados na
forma e prazo determinados pela Infraero.
A justiça federal anulou o contrato e condenou a direção da Infraero e a
da Delta a devolver o dinheiro, mas a Infraero recorreu. “Isso está
sendo contestado em segunda instância porque, afinal de contas, devolver
R$ 86 milhões de uma coisa que está pronta é a mesma coisa: como é que
eu vou devolver o terminal pra poder ressarcir R$ 86 milhões?”,
questiona o presidente da Infraero.
Ele diz que o terminal não é um puxadinho, mas um terminal
completamente independente do aeroporto. “É um terminal remoto, como ele
foi feito. Ele foi feito com base no terminal remoto do aeroporto de
Lisboa. Ele está à altura não só do aeroporto de Guarulhos como de
qualquer aeroporto do mundo”, diz.
O Brasil está na 122ª posição entre 142 aeroportos do mundo, segundo
uma pesquisa feita pelo Fórum Econômico Mundial. Antigos e superlotados,
os aeroportos brasileiros são piores do que os de países como Mali,
Tanzânia e Zimbábue.
A realização de obras sem haver um projeto executivo é uma consequência
do tempo em que o país ficou sem realizá-las, o que faz com que haja
poucas empresas neste mercado, segundo a ministra do planejamento, Miriam Belchior.
“E nós resolvemos de maneira bastante clara de que era mais importante
começar a fazer obras e entregar obras importantes que o país precisava
mesmo com eventuais projetos... Mesmo com projetos... Sem ter os
projetos executivos prontos. Porque os mais caro pro Brasil é não ter a
obra. Esse é o custo Brasil mais alto”, diz a ministra.
Para dar conta do investimento necessário aos aeroportos, o governo
anunciou a transferência de mais aeroportos para administração privada,
como já fez com Guarulhos, Viracopos e Brasília. As empresas vencedoras da licitação administram e fazem ampliações nos terminais.
fonte/G1
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