TUCANO DA FAB ABRE FOGO CONTRA AVIÃO DO TRÁFICO

Um pequeno avião carregado com cocaína por pouco não foi abatido por uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) nas proximidades de Cristalina (GO), a 140km de Brasília, no fim da tarde de ontem. Os pilotos receberam alerta para que pousassem imediatamente, mas decidiram prosseguir viagem. O Tucano da FAB disparou um tiro de advertência, mas os criminosos não se intimidaram. Em seguida, os militares efetuaram outros dois tiros de abate, forçando os traficantes a aterrissar a aeronave em uma fazenda. Os criminosos — as autoridades não souberam precisar quantos — fugiram se embrenhando na mata.

Segundo fontes da Polícia Federal, o avião vinha da Bolívia, com cerca de 150 quilos de cocaína, quando foi interceptado já sobre o espaço aéreo de Goiás. Os pilotos da FAB pediram a identificação e a origem da aeronave, mas não receberam respostas. Depois de dar o primeiro tiro de advertência, conforme determina a Lei do Abate(1), os traficantes desviaram a rota do voo, retornando em direção à Bolívia. Os militares pediram autorização do Comando da Aeronáutica, que consentiu com o tiro para abater a aeronave não identificada.

“Foram dados dois tiros para acertar o avião”, explicou a fonte da PF, que pediu anonimato. Ao perceberem que poderiam cair, os traficantes decidiram voltar à rota original e aterrissar. Os policiais federais que seguiram para o local não sabiam informar a nacionalidade do avião, nem precisar o total de cocaína que ele carregava, mas calcularam em cerca de 150 quilos. Esse foi o segundo caso no país em que a FAB atira em uma aeronave suspeita. O primeiro aconteceu em junho, em Rondônia. Mas até hoje, desde a instituição da Lei do Abate, nenhuma aeronave chegou a cair após ser interceptada.

Próximo ao local do pouso, a PF apreendeu um veículo que estava escondido na mata. Os agentes acreditam que o carro seria utilizado pelos traficantes. Dezenas de policiais federais das superintendências de Goiás e do Distrito Federal seguiram para o local, depois de avisados pela FAB. Todo o material recolhido na aeronave seria transportado para Brasília, inclusive a cocaína apreendida. A PF não tem pistas dos traficantes, nem sabia informar o destino da droga. O avião, depois de passar por uma perícia, deverá ser trazido ao Distrito Federal.

Goiás se tornou rota alternativa do tráfico boliviano, hoje, o que mais cresce na América do Sul, conforme mostrou reportagem do Correio em agosto passado. Pequenos aviões partem das regiões bolivianas produtoras de coca e voam diretamente para pistas clandestinas construídas em fazendas ou no meio da mata goiana. Há dois meses, a FAB interceptou um avião, em Mato Grosso, que partiu de uma pista clandestina próxima de Caiapônia (GO). Depois da apreensão de mais de 400 quilos da droga, a Polícia Federal começou a trabalhar intensamente na região, utilizada por traficantes que tentam evitar rotas conhecidas para carregamentos de grande quantidade de cocaína, como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre.

Goiás, rota da cocaína

A apreensão de uma aeronave com 150kg de cocaína alvejada pela Força Aérea Brasileira (FAB) ontem, próximo à Cristalina (GO), a 140km de Brasília, confirmou o que a Polícia Federal já estava investigando desde o início deste ano: Goiás pode ser uma das principais bases de apoio utilizadas pelo narcotráfico. Em menos de dois meses, dois aviões de pequeno porte com cocaína foram interceptados em Mato Grosso do Sul, após decolarem do interior goiano. Nesse mesmo período, o volume de cocaína apreendido pela PF superou os 600kg, droga que seria distribuída no Centro-Oeste e no Sudeste do país.

Com a repressão policial nas fronteiras, principalmente em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná, o tráfico tem encontrado dificuldades nas rotas para fazer a droga chegar ao Brasil. Os confrontos entre a polícia e os criminosos no Rio também contribuíram para que fosse necessário encontrar alternativas, e Goiás foi escolhido por ficar em uma região central do Brasil, onde praticamente não existia o tráfico de drogas em grandes escalas. Pelo estado, passavam as chamadas formiguinhas, que são pessoas contratadas principalmente no Norte do país para trazer pequenas quantidades de pasta base de cocaína para Brasília e também levá-las para o Nordeste.

Segundo fontes da Polícia Federal, as investigações realizadas até agora não descartam que haja pistas de pouso clandestinas próximas ao Entorno de Brasília. Normalmente, o narcotráfico arrenda propriedades rurais com documentação falsa, enganando os proprietários dos imóveis. Em Caiapônia (GO), por exemplo, onde a PF apreendeu mais de 460 quilos de cocaína em agosto passado, uma fazenda utilizada pelos traficantes foi alugada por uma pessoa residente em São Paulo. A área de inteligência da PF está rastreando aquisições recentes de imóveis por desconhecidos, principalmente vindos de outras regiões.

No caso do primeiro avião apreendido em agosto, a PF conseguiu localizar os dois pilotos, que foram encontrados exaustos em uma fazenda próxima à cidade de Rondonópolis (MT). Eles contaram que receberam R$ 4 mil para fazer o transporte. A PF não descarta que o grupo que atuou na ocasião seja o mesmo que tentou ingressar com 150 quilos de cocaína ontem. A aeronave quase foi abatida por um avião Tucano(1) da FAB. Fontes da Polícia Federal não informaram de onde a cocaína teria saído, mas provavelmente seria das localidades de Chimore e Chapare, zonas de maior produção de coca na Bolívia.

Até a noite de ontem, policiais federais trabalhavam nas proximidades de Cristalina e Catalão, na tentativa de encontrar os traficantes que fugiram por uma mata depois do pouso forçado pelos tiros de advertência.

Ataque

Os aviões Tucano da FAB são próprios para treinamento e ataque de solo, por isso o modelo é usado em missões de interceptações de aeronaves suspeitas. Fabricado pela Embraer, o Tucano hoje é um dos mais usados pela Aeronáutica, mas também por forças do Paraguai, Iraque, Egito, Inglaterra, França, Honduras, Argentina, Colômbia, Venezuela, Peru e Qatar. Além de metralhadoras, pode até carregar foguetes.

fonte/Correio Braziliense

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