MÉDICO MORRE EM QUEDA DE ULTRALEVE

Um acidente com uma aeronave do tipo ultraleve fez a terceira vítima em pouco mais de uma semana, na manhã de ontem, no Pará. O ultraleve que transportava o médico Edilberto de Almeida Tavares, 44 anos, caiu ao lado da sede da Associação de Agricultores, na comunidade de Passagem Grande, próximo a Salvaterra, na Ilha do Marajó. O acidente aconteceu por volta das 11h. O médico ainda foi encontrado com vida, mas não resistiu aos ferimentos e morreu poucos minutos depois.

Segundo moradores da comunidade onde ocorreu o acidente, antes do ultraleve atingir parte da sede a associação, foi possível verificar que uma de suas asas estava quebrada, o que impediu sua estabilidade e fez com que a aeronave iniciasse um movimento de queda livre. A vice-prefeita do município, Isabel Gonçalves, que mora às proximidades do local do acidente, fez o reconhecimento do corpo.

De acordo com o amigo de Edilberto, Raimundo Araújo, ele era experiente em pilotar ultraleves. “Esse ultraleve era novo, mas antes desse ele já havia tido três. O avião experimental era um meio de transporte para ele, que sempre vinha para Salvaterra quando não estava trabalhando”.

Araújo contou que o médico costumava viajar acompanhado de amigos ou de familiares, mas dessa vez estava sozinho. “Perdemos uma pessoa idônea. Ele era muito bom e carismático, por isso era muito querido”, comentou. Para o amigo, uma ventania ou uma manobra podem ter sido a causa do acidente, já que, nesse período de agosto, a área é acometida com fortes ventanias.

Edilberto trabalhava no Hospital Municipal de Curralinho. Para a população local, a morte do médico foi uma perda irreparável. “Eu perdi um pai”, resumiu a idosa Isabel, que era paciente e sempre contava com o apoio do médico. Antes de chegar a Curralinho, Edilberto atuou em Salvaterra, Cachoeira do Arari e São Sebastião da Boa Vista.

O corpo de Edilberto foi velado na Câmara dos Vereadores de Salvaterra. Pela parte da tarde, o irmão da vítima, Edir Tavares, foi até o município assim que soube do acidente. Edir acompanhou o transporte do corpo até a capital paraense.

CORTEJO

Cerca de mil pessoas seguiram em cortejo até o aeroporto de Salvaterra, a 1 km da Câmara dos Vereadores, para prestar as últimas homenagens. Edilberto era solteiro e completaria 45 anos no próximo dia 13 de agosto. Segundo informações, o médico havia sofrido outros três acidentes.

>> Dia e hora do enterro ainda não foram confirmados

Por volta das 16h, o corpo do médico foi trazido para o Instituto Médico Legal (IML), em Belém, onde passou por perícia, e em seguida foi levado para a capela Mortuária da Beneficente Portuguesa, onde aguardará a chegada da mãe e de uma irmã, que estavam em viagem a Paris. A previsão é que elas cheguem dentro de três dias. A família ainda não confirmou dia nem hora do enterro, que será no cemitério Recanto da Saudade, na BR-316. Edilberto foi candidato do PMDB à prefeitura de Salvaterra em 2008.

No último dia 2, também um domingo, outro acidente também com ultraleve deixou duas vítimas em Benevides, na Região Metropolitana de Belém. O avião experimental caiu quando estava a cerca de 100 metros do chão, em um local de mata fechada, próximo à pista de pouso Hípica, de onde o ultraleve decolou. Os dois ocupantes do ultraleve eram os empresários João Sampaio Oliveira Filho, 29, filho do dono da empresa rodoviário Expresso Modelo, e José Lauro da Silva Júnior, 52, dono da distribuidora de alimentos Pantanal. Os dois eram moradores de Castanhal, no nordeste paraense.

>> Atividade é fiscalizada por associação e Anac

A fiscalização e a regulamentação para vôos em ultraleves são realizadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pela Associação Brasileira de Ultraleve (ABU). De acordo com o piloto e instrutor de voo Rayson Bentes, a vistoria é realizada sempre que algum fiscal vê algum ultraleve. “Não há um tempo preciso para que a Anac faça uma vistoria. A responsabilidade maior é do piloto. Ele que deve avaliar as condições do motor do ultraleve”, diz.

Os cuidados antes de decolar, de acordo com o instrutor, que é um dos funcionários da empresa de José Lauro, vítima recente de um acidente com esse tipo de aeronave, é verificar o motor, a água e o combustível. Para pilotar um ultraleve é necessário ter Certificado de Piloto Desportivo (CPD), que pode ser tirada pela ABU. O curso consta de exame teórico e aulas práticas em pistas adequadas.

No Estado, existem muitas pistas construídas por empresários para abrigar e pilotar o ultraleve, como em Belém, Outeiro, Benevides, Marabá, Itaituba, entre outros municípios. A aula prática tem a duração de uma hora e custa, em média,

R$ 400.

O instrutor, que atua há 12 anos na profissão, explica que não existe um número de aulas específico para que o interessado se torne apto a voar sozinho. Para ele, só a experiência adquirida com o tempo de prática é que determina que uma pessoa possa voar no ultraleve sem o auxilio do instrutor.

Ivan Fernandes partilha da mesma opinião. Praticante há exatos 19 anos da atividade, Fernandes começou a voar pelo prazer de estar no ar e longe dos problemas da terra, do trabalho, do estresse do dia a dia. “Além de ser um esporte prazeroso, é uma válvula de escape”, conta o arquiteto, que ressalta os cuidados necessários para levantar voo sem risco de pane no ar, além de reforçar a importância de fazer o curso de piloto.

Para ele, que já sofreu acidente há alguns anos, o erro mais comum é voar com o tempo ruim. Ter uma visibilidade boa para voar a uma altura de até mil pés do solo é essencial para ter um passeio com segurança e diversão.

A principal causa dos acidentes, de acordo com Bentes, é o tempo que a pessoa fica sem praticar: Quando volta a pilotar, esquece algum cuidado. Um ultraleve custa de R$ 15 mil a R$ 240 mil. fonte: Diário do Pará


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