NINGUÉM CONSEGUE EXPLICAR A CAUSA DO DESAPARECIMENTO DO AVIÃO DA MALAYSIA AIRLINES
Quase 24 horas depois do último contacto com o
Boeing 777 da Malaysia Airlines, que partiu de Kuala Lumpur com destino a
Pequim, ainda ninguém conseguia avançar uma explicação plausível para o
misterioso desaparecimento da aeronave, nem - crucialmente - encontrar
qualquer vestígio do seu paradeiro, apesar de uma complexa operação de
busca e salvamento no mar do Sul da China.
Nenhum responsável quis pronunciar-se em definitivo
sobre o destino das 239 pessoas que seguiam a bordo do avião – 227
passageiros, entre os quais cinco crianças com menos de cinco anos, e 12
membros da tripulação – mas ao fim de tantas horas de silêncio, parecia
quase impossível acreditar que tivessem sobrevivido ao acidente.
“Estamos consternados. As operações de busca e salvamento vão
prolongar-se pelo tempo que for necessário”, prometeu o
primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak.
Os meios marítimos e
aéreos disponibilizados por seis países – aviões, helicópteros, fragatas
e outras embarcações das Marinhas, Guardas Costeiras e Força Aérea da
Malásia, Vietname, China, Singapura, Filipinas e Estados Unidos – apenas
conseguiram localizar duas largas manchas de combustível, com uma
extensão de cerca de 15 a 20 quilómetros e paralelas entre si, que são
consistentes com o rasto que seria deixado por um jacto. A hipótese mais
provável é que o avião se tenha despenhado no oceano.
“Dois dos nossos aviões detectaram duas estrias de combustível,
de um comprimento de cerca de 15 a 20 quilómetros, paralelas e a cerca
de 500 metros uma da outra”, declarou o general vietnamita Vo Van Tuan. A
operação aérea foi interrompida durante a noite, mas as buscas no mar
prosseguiram sem interrupções. Segundo o ministro dos Transportes da
Malásia, Hishamuddin Hussein, “não deixarão de ser feitos todos os
esforços possíveis para localizar o avião”, que contactou com terra pela
última vez cerca de uma hora depois de descolar e desapareceu do radar
um minuto antes de entrar na zona aérea do Vietname.
Embarcações
da agência marítima da Malásia não encontraram qualquer sinal do avião
na zona onde o avião estabeleceu contacto pela última vez. As operações
estendiam-se por uma área de cerca de 240 quilómetros, ao largo da ilha
vietnamita de Tho Chu, nas águas do mar do Sul da China. O ministro dos
Transportes sublinhou que os meios no local estão a “investigar todos os
ângulos possíveis”, baseados na informação fornecida pelo Exército do
país e também pelas autoridades vietnamitas.
Fontes malaias ligadas
à investigação citadas pela Associated Press disseram que, por
enquanto, nenhuma causa foi determinada e nenhum cenário foi afastado
para explicar a ocorrência – incluindo a possibilidade de se ter tratado
de um acto terrorista. Em conferência de imprensa ao final do dia, o
director geral de aviação civil da Malásia disse que uma revisão das
imagens relativas ao embarque dos passageiros e das bagagens não tinha
revelado “nada de anormal ou preocupante” ou qualquer sinal de
sabotagem.
O voo MH370 da Malaysia Airlines partiu pouco depois
da meia-noite de sábado da capital Kuala Lumpur – a rota para Pequim
tornou-se um dos trajectos mais procurados da companhia detida
maioritariamente pelo Estado malaio.
Segundo o presidente da
Malaysia Airlines, Jauhari Yahya, na altura do último contacto, o voo
MH370 encontrava-se a 120 milhas náuticas (cerca de 225 quilómetros) da
localidade de Kota Bharu, na costa Leste da Malásia, e seguia a uma
altitude de 35 mil pés. Como notava o especialista em aviação da CNN,
Richard Quest, nessa fase (cerca de duas horas após a descolagem), o voo
encontrar-se-ia na fase de “cruzeiro”, que é aquela que é considerada
mais segura do ponto de vista da ocorrência de imprevistos ou
vicissitudes. “Nessa altura do voo não é suposto que alguma coisa possa
correr mal”, reparou.
A aeronave, com onze anos de uso, não
enfrentou condições climatéricas adversas nem emitiu nenhum sinal de
alerta ou pedido de socorro – à semelhança do que aconteceu com o voo da
Air France que desapareceu no Atlântico Sul a 1 de Junho de 2009, e
cujos destroços só foram encontrados dois dias depois. O piloto,
identificado como Zaharie Ahmad Shah, de 53 anos, era um veterano da
companhia, onde tinha acumulado mais de 18.3 mil horas de voo desde
1981. A Malaysia Airlines conta com 15 Boeings 777-200 na sua frota:
como escreveu a Reuters, a companhia tem um bom registo de segurança, e
está a recuperar de dificuldades financeiras . O último acidente fatal
da companhia ocorreu em 1995, quando um avião se despenhou próximo da
cidade de Tawau, matando 34 pessoas.
Os especialistas ouvidos pela
CNN sublinharam que a aeronave em causa é “tão sofisticada quanto
possível para um avião comercial”. O capitão na reforma Jim Tilmon
assinalou que a rota (de 3700 quilómetros) entre Kuala Lumpur e Pequim é
maioritariamente sobre terra, o que significa que muitas antenas,
radares e rádios teriam teoricamente a capacidade de interceptar sinais
do avião. A antiga inspectora-geral do Departamento de Transportes dos
Estados Unidos, Mary Schiavo, disse à mesma estação que “a total
ausência de comunicações sugere que algo muito errado ou funesto terá
acontecido”.
Um dos fundadores do FlightRadar24, uma aplicação que
tem 3000 transmissores em todo o mundo e diariamente segue mais de 120
mil voos, disse que o último registo do voo MH370 foi quando o avião
seguia a 35 mil pés, 40 minutos depois de levantar do aeroporto de Kuala
Lumpur. “O sinal estava bom e estável e de um momento para o outro
simplesmente desapareceu”, disse Mikael Robertsson. “O que quer que
tenha acontecido, foi qualquer coisa súbita e repentina.”
A
Malaysia Airlines contactou as famílias de todos os passageiros
indicados no manifesto de voo, e estabeleceu centros de assistência e
aconselhamento no aeroporto de Kuala Lumpur e num hotel do bairro de
Lido, em Pequim. A grande maioria dos passageiros do voo MH370 tinha
nacionalidade chinesa (154), mas a bordo seguiam também cidadãos da
Malásia (38), India (5), Indonésia (7), Austrália (6), Estados Unidos
(3), França (4), Nova Zelândia (2), Ucrânia (2), Canadá (2), Rússia (1) e
Holanda (1).
Os Governos da Itália e da Áustria esclareceram
entretanto que duas pessoas cujos nomes constavam na lista de
passageiros a bordo não embarcaram no voo: aparentemente alguém terá
viajado com passaportes falsos. As autoridades consulares italianas em
Phuket, na Tailândia, disseram já ter estabelecido contacto com Luigi
Maraldi, que reside naquela ilha e renovou o passaporte depois de um
roubo em Agosto de 2013. O cidadão austríaco, Christian Kozel, de 30
anos, reportou o roubo do seu passaporte durante uma viagem à Tailândia
há cerca de dois anos.
A imprensa chinesa disse que entre os
passageiros estavam 24 artistas e familiares que regressavam a casa
depois de participarem num programa de intercâmbio em Kuala Lumpur. O
governo da província de Sichuan informou que um dos mais conhecidos
calígrafos do país, Zhang Jinquan, seguia a bordo.
Em Julho de
2013, um Boeing 777 da Asiana Airlines com 291 passageiros a bordo teve
um acidente no aeroporto internacional e San Francisco, nos Estados
Unidos, no qual morreram três pessoas. Não foi possível ainda apurar se o
desastre se deveu a alguma falha mecânica ou problema estrutural da
aeronave – as investigações parecem apontar para um problema de
comunicação no cockpit como a causa do acidente.
Em
comunicado, a construtora norte-americana informou que uma equipa
técnica viajaria para a Malásia para assistir as autoridades na
investigação.
fonte/Publico.pt
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