APOSENTADOS DAS EXTINTAS VARIG E TRANSBRASIL ACAMPAM NO CONGRESSO
Grupo está acampado no Salão Verde desde terça e teve colchonetes apreendidos (Foto: Fabiano Costa/G1)
Apenas com a roupa do corpo, um grupo de 27 ex-funcionários da Varig e
da Transbrasil está acampado desde a última terça-feira (6) no salão
verde da Câmara dos Deputados para pressionar a presidente Dilma
Rousseff a recebê-lo no Palácio do Planalto. Os aposentados do fundo de
pensão Aerus prometem se manter no Congresso Nacional até que seja
confirmada a audiência com a chefe do Executivo.
Os antigos comandantes, comissários, mecânicos e assistentes
administrativos das duas companhias aéreas falidas querem propor a Dilma
que a União assuma os pagamentos das pensões do Aerus. Em
contrapartida, prometem retirar todas as ações judiciais que pedem que o
Executivo se responsabilize pelas dívidas do fundo.
Desde 2006, quando o Aerus sofreu intervenção do governo federal por
conta da falência da Varig, os beneficiários deixaram de receber as
aposentadorias integrais. Os aposentados do Aerus reclamam que,
atualmente, recebem apenas 8% do valor original da pensão.
A média de idade dos antigos funcionários das duas companhias aéreas
que vieram a Brasília para tentar o encontro com Dilma é superior a 65
anos. No grupo, há idosos com 82 anos.
Eles desembarcaram na capital federal na terça, um dos dias mais
movimentados no Congresso, e foram pedir o apoio dos parlamentares que
integram a comissão externa da Câmara que acompanha a situação dos
aposentados do fundo de pensão Aerus.
Na ocasião, o coordenador do colegiado, deputado Rubens Bueno (PPS-PR),
intermediou uma audiência do grupo com o presidente da Casa, Henrique
Eduardo Alves (PMDB-RN). Eles também se reuniram com o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
A secretaria-geral da Presidência, responsável pela interlocução do governo com a sociedade civil, disse ainda que a situação dos pagamentos a aposentados da Aerus está sendo analisada pelo Supremo Tribunal Federal em processo sob a relatoria da ministra Cármen Lúcia.
A secretaria-geral da Presidência, responsável pela interlocução do governo com a sociedade civil, disse ainda que a situação dos pagamentos a aposentados da Aerus está sendo analisada pelo Supremo Tribunal Federal em processo sob a relatoria da ministra Cármen Lúcia.
De acordo com a Secretaria-Geral, a ministra decidiu favoravelmente ao
pedido dos ex-funcionários da Varig e da Transbrasil, mas o ministro
Joaquim Barbosa pediu vista durante o julgamento, o que impediu que
fosse concluído.
A assessoria informou que o Planalto aguarda a decisão final do
Supremo, mas destacou que já está tomando as providências necessárias
junto à Previdência Social e à Advocacia-Geral da União para agilizar os
pagamentos caso prevaleça a posição da relatora da ação. Informou
também que mantém contato permanente com o Sindicato dos Aeronautas para
acompanhar a questão.
Reunião com Dilma
Apesar de terem ouvido manifestações de apoio dos chefes da Câmara e do Senado, os aposentados dizem fazer questão de conversar diretamente com a presidente da República.
Apesar de terem ouvido manifestações de apoio dos chefes da Câmara e do Senado, os aposentados dizem fazer questão de conversar diretamente com a presidente da República.
Segundo o diretor da Federação Nacional dos Trabalhadores da Aviação
Civil, Osvaldo Rodrigues, Dilma teria dito a Renan Calheiros que está
disposta a recebê-los, porém, por falta de tempo na agenda, não teria
conseguido agendar uma audiência nesta semana.
Decidido a deixar Brasília somente depois de apresentar as
reivindicações a Dilma, o grupo resolveu acampar no Salão Verde. Eles
não foram para o Palácio do Planalto porque imaginaram que seriam
barrados pela segurança.
A Secretaria-Geral da Presidência informou que não recebeu pedido oficial dos aposentados para uma reunião no Planalto.
Na Câmara, o grupo se concentrou em uma área em formato de círculo
próxima ao corredor que dá acesso ao gabinete de Henrique Alves. Lá,
espalharam diversas faixas com mensagens para a presidente da República.
Uma delas diz "Presidente Dilma, será que essa tortura nunca vai
acabar?".
Acampamento improvisado
No local, há algumas poltronas, mas em número insuficiente para todos os pensionistas. Mesmo com idade avançada, muitos deles têm usado os carpetes verdes da Casa como cama. Na tarde desta sexta (9), em meio ao expediente da Câmara, quem passava pelo recinto podia ver parte dos ex-funcionários da Varig e da Transbrasil tirando cochilos sobre o chão.
No local, há algumas poltronas, mas em número insuficiente para todos os pensionistas. Mesmo com idade avançada, muitos deles têm usado os carpetes verdes da Casa como cama. Na tarde desta sexta (9), em meio ao expediente da Câmara, quem passava pelo recinto podia ver parte dos ex-funcionários da Varig e da Transbrasil tirando cochilos sobre o chão.
Para fazer a higiene pessoal, os aposentados têm usado banheiros da
Câmara. Eles, no entanto, reclamam que na última noite a Polícia
Legislativa fechou o acesso ao banheiro mais próximo ao Salão Verde,
obrigando-os a caminhar na madrugada até o piso inferior do Legislativo.
As refeições dos aeronautas também têm sido feitas na Câmara. Pela
manhã, assessores da comissão externa do Aerus têm fornecido alimentos
para que eles tomem o café-da-manhã. O almoço e a janta, contudo, são
realizados nos restaurantes do parlamento. Já água e refrigerantes estão
estocados em fardos em pleno Salão Verde para amenizar os efeitos da
forte seca que atinge o Distrito Federal nesta semana.
De acordo com Osvaldo Rodrigues, na noite desta quinta (8), policiais
legislativos confiscaram colchonetes que haviam sido levados para os
ex-funcionários da Varig. O diretor da Fentac, que, apesar de ainda não
estar aposentado, decidiu acampar junto com os pensionistas do Aerus,
também se queixou de que a potência do ar-condicionado da Casa foi
colocada na potência fria durante a madrugada, o que teria causado
incomodo aos idosos.
Mesmo em condições adversas para a idade, o grupo enfatiza que não
pretende desistir do protesto. Para se distrair, alguns assistem à
televisão em telefones celulares. Outros, usam um notebook que foi
instalado no Salão Verde para se comunicar com amigos e familiares por
meio da internet. Uma webcam foi acoplada ao equipamento e tem
transmitido ao vivo a manifestação.
Ex-funcionários
da Varig e Transbrasil evitaram Planalto para não serem expulsos e
dizem que não deixam a Câmara enquanto não forem recebidos por Dilma
(Foto: Fabiano Costa/G1)
Aos 82 anos, o ex-comandante da Varig Zoroastro Ferreira
assegura que não irá sair do Congresso enquanto não for confirmada a
audiência com a presidente da República. No momento em que o G1 foi conversar com o aposentado do Aerus, ele estava dormindo no chão, dentro do círculo formado pelos pensionistas.
Natural de Campinas (SP), Ferreira trabalhou durante 38
anos para as empresas Varig e Cruzeiro do Sul. Ao longo da carreira,
pilotou aeronaves de grande porte como o Airbus 310.
Após quase quatro décadas comandando o manche dos aviões
das duas companhias aéreas brasileiras, ele se aposentou em 1986 com um
alto padrão de vida. À época, contou o ex-comandante, ele recebia o
equivalente a R$ 9 mil do fundo de pensão Aerus e outros 12 salários
mínimos da Previdência Social.
Em 2006, a falência da Varig e a subsequente intervenção
do governo no fundo Aerus acabaram com os planos de uma aposentadoria
tranquila do ex-piloto paulista. De uma hora para outra, ele passou a
receber menos de um salário mínimo da previdência privada.
A queda brusca na renda o obrigou a se desfazer da maior
parte do patrimônio. Segundo Ferreira, lhe sobrou apenas uma casa que
ele havia passado para o nome dos cinco filhos.
Diabético, hipertenso e cardiopata, o antigo comandante
da Varig gasta atualmente mais da metade da pensão do Aerus com
remédios. Com o crachá que usava nos tempos em que pilotava grandes
aviões no peito, Ferreira disse que pretende pedir pessoalmente à
presidente da República a restituição das aposentadorias integrais do
fundo.
“Não podemos ser culpados por uma coisa que pagamos a
vida inteira. Deixamos de ganhar porque o governo não fiscalizou os
fundos de pensão. Queremos pedir a Dilma para ela acabar com essa
calamidade”, ressaltou.
Colega de acampamento de Ferreira, a ex-comissária de
bordo Vera Leal, 60 anos, disse que, se for preciso, está disposta a
transferir sua casa para o Salão Verde para conseguir falar com a
presidente. A carioca, que trabalhou nas companhias aéreas Cruzeiro do
Sul e Varig, se aposentou em 2000.
Ela contou que apesar de ter contribuído ao longo de 27
anos para o Aerus, hoje ganha apenas 8% do valor que deveria receber
mensalmente do fundo de pensão. Com lágrimas nos olhos, Vera disse que a
batalha para tentar recuperar o investimento no fundo de pensão tem
sido “desagradável e desgastante”.
“Estamos em uma situação na qual não sabemos como será o
nosso amanhã. Desde 2006, mais de 800 aposentados do Aerus já morreram
sem que se tenha resolvido o problema. O nosso emocional está acabando”,
disse a ex-comissária.
fonte/G1/foto/FabianoCosta
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