POR QUE VOCÊ NÃO DEVE COLOCAR GASOLINA DE AVIAÇÃO NO SEU CARRO

Qualquer fã de carros já ouviu histórias sobre usar gasolina de aviação em carros para obter um desempenho mágico e instantâneo. Se você procurar na internet, verá que este é um assunto muito popular. O mesmo vale para combustível de jato ou urina de pégaso. Até onde isso é verdade? Será que esse tipo de combustível é mesmo um soro mágico?

O assunto veio à tona quando recebi um email de um gentil leitor chamado 4X (será um robô amigo?) sobre este carro apreendido em Dubai depois de ser capturado a mais de 345 km/h. O carro e o motorista foram pegos e quando a polícia inspecionou o carro descobriu que:
“[...] ele estava equipado com um sistema computadorizado, outro motor e um tanque de combustível de jato, além de cilindros extra e outras modificações… o motorista disse que usou “gasolina de avião” para aumentar a velocidade e admitiu que o combustível e as modificações foram fornecidas por uma oficina”.

Descrição confusa, não? Outro motor? Cilindros extra? Gasolina de avião? A foto também não ajuda – parece apenas um motor com coletor azul e turbo, mas os tais motores e cilindros extra não aparecem. Não parece que o autor do texto entende muito de carros e a referência ao “combustível de jato” confirma isso.



A ideia da “gasolina de avião” ser usada para melhorar o desempenho não confunde apenas o autor. E, como loucos por modificações automotivas, é claro que todos nós já sonhamos em abastecer um popular com gasolina de avião para dar pau em supercarros. Mas há vários mitos e muita confusão a respeito do combustível de jato, gasolina de aviação e outros combustíveis não-automotivos e o que eles são capazes de fazer. Então qual é a verdade sobre a gasolina de avião?

Vamos começar com o combustível de jato, que é um dos mais mencionados. Na sua cabeça, quando você pensa em colocar combustível de jato em um carro, a maioria das pessoas imediatamente imagina que haverá uma onda colossal de potência e dois riscos negros no lugar onde o carro estava. Como os motores a jato são enormes e potentes, as pessoas imaginam que a gasolina deve ser o líquido mágico da explosão.

A verdade, contudo, é muito mais mundana. O combustível de aviação tem mais a ver com óleo de aquecimento, do que com gasolina premium. O combustível de jato (há muitas variações, mas o mais comum é o Jet A) é um parente muito próximo do antigo diesel comum e querosene. Você pode até colocá-lo em seu carro ou picape a diesel, mas como ele não lubrifica muito bem, é preciso adicionar algum tipo de aditivo lubrificante.

A questão aqui é que você não pode colocar Jet A em um carro movido a gasolina, por que isso seria como abastecer o carro com diesel. Se isso acontecer ele não vai destruir o motor, mas você terá que drenar o tanque e limpar os componentes da linha de combustível, além de fazer seu carro andar muito, muito mais lento.

O princípio de funcionamento dos motores a jato é totalmente diferente dos motores de pistão, por isso as propriedades do combustível precisam ser bem diferentes. Além disso, o diesel é altamente resistente à combustão, o que faz dele uma escolha melhor para aeroportos, onde você não deve ter poças de líquidos altamente inflamáveis por todos os lados.



Parte do mito do uso de combustível de jato como super-gasolina para carros vem do combustível conhecido como “avgas”, ou gasolina de aviação. Avgas é para aeronaves com motores de pistão ou rotativos. A maioria destes combustíveis são praticamente os mesmos da época em que foram formulados, durante a Segunda Guerra, onde foram usados em motores de pistão sobrealimentados. Por isso eles tendem a ter índices de octanagem elevadíssimos, geralmente perto de 100.

O alto índice de octanagem é o poder de sedução do avgas – e algumas pessoas tentaram usá-lo como substituto da gasolina de corridas, mas isso não é uma boa ideia. A alta octanagem é importante para evitar a pré-detonação (batida de pino), mas o avgas é menos denso e exige regulagem especial de carburação ou bicos injetores, e é desenvolvido para utilizações diferentes que a gasolina especial de carros.

O avgas mais comum é o 100LL – onde “LL” significa “low lead”, ou “pouco chumbo”, em uma tradução livre, mas é importante notar que isso não significa “sem chumbo”. Há chumbo adicionado como antidetonante, e ele destrói componentes caríssimos dos motores modernos, como o catalisador.
Por isso, a ideia de usar gasolina de aviação no carro parece legal, mas é uma daquelas coisas que funciona melhor no papel – ou em uma história fajuta para contar aos policiais de Dubai. Pode parecer legal encher o tanque com isso, mas não espere que isso termine bem.

fonte/foto/Jalopnik

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