QUALIFICAÇÃO ELEVA OS SALÁRIOS DOS BRASILEIROS

O crescimento da economia brasileira está transformando o perfil do mercado de trabalho. A demanda por profissionais qualificados cresce em ritmo acelerado, praticamente acompanhando a oferta, com efeitos diretos na remuneração de quem investiu na formação. Enquanto no início da década os rendimentos para profissionais com nível superior chegaram a encolher de um ano para o outro, nos últimos seis anos os salários para o terceiro grau vêm crescendo a uma variação de 3,8% ao ano, sendo superados apenas pelo crescimento do salário mínimo, que mostrou forte recuperação nos últimos anos. A participação do ensino superior se torna a cada ano mais evidente entre os empregados com carteira assinada. Enquanto em 1996 2,7% dos trabalhadores tinha nível superior, em 2009, o percentual acelera para 40,8%, ou 15 vezes mais.
Leon Sayegh Neto virou piloto da TAM: "Em dois anos, já pretendo me tornar comandante"

A escalada da escolaridade no mercado de trabalho aparece até mesmo em setores que antes demandavam apenas o ensino fundamental. Estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revela que, entre 2003 e 2009, a participação do nível superior na Região Metropolitana de Belo Horizonte cresceu a uma variação média de 5,3% ao ano, ao passo que o ensino médio apresentou percentual de 3,2%, seguido pelo básico, que avançou 2,7%. “Preservada essa tendência, os salários devem continuar apresentando crescimento”, diz o coordenador da pesquisa, Mário Rodarte. Segundo ele, com o avanço da demanda por profissionais qualificados, é possível que cresça a competição entre as empresas para manutenção de seus quadros, o que pode refletir positivamente nos salários.

Outro ponto destacado pelo pesquisador é que setores como a construção civil passaram a absorver trabalhadores de ensino básico, reduzindo a ociosidade dessa população. Por outro lado, o desvio de função, que carcterizava o mercado de trabalho no ensino superior, foi substituída nos últimos anos pela real demanda da formação no desempenho de funções específicas. O desafio agora é evitar o apagão dessa mão de obra qualificada prevista por diversos setores, entre eles a aviação civil.

O especialista em ciências aeronáuticas, Deusdedit Carlos Reis, diz que o segmento, termômetro da economia, já trabalha no limite de profissionais. Segundo ele, uma proposta já foi levada ao Ministério da Defesa para subsídio na formação de novos pilotos. Leon Sayegh Neto se formou no curso superior de Ciências Aeronáuticas e concorda. A qualificação funcionou como passaporte para o mercado de trabalho. “Como tinha curso superior, fui admitido na TAM com 500 horas de vôo a menos do que o normalmente exigido.” Aos 30 anos, ele está há três na companhia, como co-piloto da linha Air Bus. “Em dois anos, já pretendo me tornar comandante”, revela.

Este ano, a TAM anuncia contratação de 200 pilotos e 600 comissários. Tarefa difícil, pois a oferta costuma ser maior que a demanda de profissionais qualificados, mesmo com o atrativo salário médio inicial da aviação de R$ 7,5 mil, mais benefícios e diárias. “Sinto que faltam no mercado profissionais. Empresas aéreas de menor porte estão bonificando pilotos que indicam amigos para trabalhar”, comenta o piloto.

Nos últimos 10 anos, a participação da população com ensino fundamental caiu 4% no mercado formal. A população assalariada com ensino superior também avançou 4% no período. Rodarte ressalta que, mesmo nos setores que tradicionalmente empregam com menos qualificação, a formação técnica passa a ser exigida. A qualificação, na opinião do especialista, pode ser a chave de saída para dois gargalos do mercado de trabalho: resolver o problema do desemprego do jovem (de 18 a 24 anos, cuja taxa é 19,2%, quase o dobro da população comum), além de resolver a ameaça do apagão da mão de obra.

Ualisson da Silva Alves, 23 anos, enxergou longe. Há três anos, ele deixou o emprego, no qual recebia um salário mínimo, para participar do programa Árvore da Vida Capacitação Profissional, da Fiat Automóveis. “Avisei a família e fiquei sete meses sem trabalhar, mas valeu a pena.” Desde que concluiu a formação em eletromecânica, Ualisson trabalha em uma concessionária do grupo e seu salário cresceu 80% nos últimos dois anos.

Outro setor que chama a atenção na pesquisa do Dieese é o crescimento da área ligada a planejamento e gestão, que apresenta crescimento expressivo a partir de 2003, depois de ter experimentado forte queda nos anos anteriores. De 1996 a 1999 a atividade desacelerou apresentado queda de 3,6% ao ano. Nos últimos dez anos voltou a crescer ao ritmo de 4,1% ao ano. “A tendência é de aceleração nos ramos mais modernos da mão de obra”, aponta Rodarte. O diretor em Belo Horizonte da consultoria PricewaterHouseCoopers Francisco Macedo diz que ao ano são abertas 400 vagas para trainees, em cursos como direito e administração. “Quanto maior a exigência pela qualificação, mais difícil se torna encontrar o profissional.” Ele comenta que mesmo entre os menos experientes, a exigência de uma segunda língua torna a seleção mais complexa. O salário inicial é de aproximadamente R$ 1,2 mil, mais bolsa para faculdade e línguas.

A empresa By Brazil que tem entre suas atividades o balonismo de turismo e comercial também está com vagas abertas para o Norte do estado e região metropolitana. Mesmo sem ter exigência de nível superior completo, encontrar profissionais qualificados é um desafio. “Precisamos de representantes que tenham boa noção de mídia eletrônica, redes sociais , que saibam usar bem modernas ferramentas de trabalho”, diz o diretor da empresa Eurico Dias. De acordo, encontrar profissionais qualificados pode se tornar ainda mais difícil em regiões do interior do estado. “Percebemos que há uma grande carência nas áreas de publicidade e propaganda.”


fonte/foto/Marinella Castro (Estado de Minas)

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