AVIAÇÃO GERAL PREPARA-SE PARA DECOLAR NA CHINA

Apesar que grande parte da atenção tem sido focada na indústria aeronáutica comercial chinesa, em meio ao rápido crescimento econômico do país, a atual crise econômica e a demanda doméstica trazem boas oportunidades à aviação geral.

Claro, existem vários empecilhos regulatórios, mas a China está revisando as regras como parte de uma revisão maior da indústria aeroespacial, e os estudos sendo feitos, levam em conta a opinião da indústria. O processo, contudo, é lento devidos os íntimos laços que este tipo de indústria mantêm com os militares.

Longe dos centros econômicos costeiros, existe um déficit de infraestrutura. O governo tem investido mais em aeroportos e na infraestrutura, como parte de um pacote de estímulo, visando combater a atual crise econômica e objetivando melhorar a acessibilidade de diversas regiões. Entretando, levará anos para que os efeitos sejam perceptíveis.

A aviação geral representava apenas 0,001% do PIB chinês e empregava 7.000 pessoas em 2007. Atualmente, existem na China, 900 aeronaves com registro civil e 74 operadores - cerca de um décimo da quantidade existente na Austrália, que tem apenas 2% da população da China. Existem alguns pequenos aeroportos e em sua maioria incapazes de receber a aviação geral ou fechados a ela.


Diamond Aicraft

Entretanto, de certa forma, a China lembra muito os EUA, décadas atrás. O país tem uma grande população espalhada por uma vasta área geográfica. A proliferação de companhias aéreas tem levado a uma grande demanda por pilotos e novas escolas de aviação. O interesse na aviação esportiva está apenas começando. O uso de helicópteros no setor civil começa a crescer, notadamente, no segmento de busca e resgate.

Nos EUA, a GAMA, (General Aviation Manufacturers Association), a associação dos fabricantes de aeronaves para a aviação geral, informa que existem 231.000 aeronaves pertencentes à aviação geral nos EUA, e que o setor emprega mais de 1.3 milhão de pessoas e contribui com 1% do PIB americano, ou seja, com 150 bilhões de dólares.

Existem quase 4.000 aeroportos com pista pavimentada nos EUA, comparado aos 500 para as companhias aéreas.

Boa parte disso deve-se aos grupos de lobby, tais como a GAMA e a National Business Aviation Association, (NBAA), que sempre estão lutando para trazer as autoridades a discutir os assuntos que afetam a aviação geral. Por enquanto, apesar de algumas tentativas de organizar associações semelhantes na China, a experiência não vingou, assim cabe à indústria lutar pelos benefícios.

´´A aviação geral contribui para a melhoria do sistema de transporte chinês, complementando serviços em pequenos mercados onde as companhias aéreas não chegam,´´ afirma Kevin Wu, vice-presidente da Textron China.

A Cessna, subsidiária da Textron, empresa que fabrica vários modelos de aviões para a aviação geral, acredita no crescimento contínuo da demanda pelos seus aviões, impulsionada pelos segmentos governamental ou para-governamental. O treinamento de pilotos continua a ser um segmento forte e assim os operadores procuram por aviões que vão desde os modelos a à pistão, até mesmo aos jatos para treinamento avançado.

Vários fabricantes têm tomado iniciativas pra fabricar seus aviões na China e atender assim à demanda. A Diamond Aircraft assim o fez quando em 2006 assinou um acordo para a fabricação do modelo monomotor DA40 na China, em uma joint venture com três outras empresas parceiras na província de Shandong. A fábrica quando pronta, terá 30.000 m2 e terá capacidade para fabricar 1.000 aviões por ano.

Engenheiros canadenses e alemães ajudarão seus colegas chineses a garantir que os aviões fabicados na China, estejam dentro dos padrões da EASA (European Aviation Safety Agency), e os aviões serão comercializados na China e em mercados importantes da Ásia.

Oficialmente,a aviação geral conta com 450 aviões de asa fixa, registrados na China. 152 deles são Diamond DA40 e DA42. Até o fim de 2009, serão 200 aviões deste modelo a voar na China.

Em 2007, a Cessna, anunciou a intenção de investir na fabricação dos aviões ultraleves esportivos 162 Skycatcher, em parceria com a Shenyang Aerospace. Espera-se que a produção atinja 700 unidades anuais, quando a produção atingir o ponto ideal. A Cessna aposta que o modelo terá um importante papel no treinamento de novos pilotos na China e a empresa pretende ter presença permanente no país.

Também em 2007, a Liberty Aerospace, assinou um acordo com a Anyang Angel Aero Science and Technology Development, para a fabricação de seu modelo biplace XL2, em uma joint venture que tem o objetivo de produzir 800 aeronaves destinadas às escolas de pilotagem chinesas. Os aviões serão fabricados pela mão-de-obra local que é muito mais barata.

A maioria dos helicópteros estão concentrados em dois segmentos: civil e para-público e alocados em sua maioria nos serviços de busca e resgate. Existem 124 helicópteros civis na China, em comparação a mais de 10.000 nos EUA.

Um importante fator que ajuda a promoção do mercado de helicópteros , é a lembrança da importância que eles tiveram logo após o devstador terremoto ocorrido na provìncia de Sichuan em maio de 2008. O terremoto derrubou milhares de construções, bloqueou estradas, destruiu ferrovias e pontes. Contudo, os helicópteros foram empregados com sucesso, no resgate de pessoas que estavam presas em locais inacessíveis, nas regiões montanhosas e vales profundos.

Eurocopter

Uma grande beneficiária é a Eurocopter. A empresa está presente na China por muitos anos, e lá é produzido sob licença, o modelo AS365/29 e em uma joint venture, produz o modelo EC120.

O mais novo projeto é uma joint venture com a Avicopter, para desenvolver e produzir o modelo EC175/Z15. A empresa, inclusive, identificou parceiros para a criação de uma escola de pilotagem e um centro dotado de simuladores de voo. A Eurocopter espera tirar vantagem da crescente necessidade de helicópteros na China; principalmente, nos já citados segmentos de busca e resgate e também, na indústria petrolifera. Outros segmentos carentes de helicópteros, são as operações policiais e os serviços de emergência hospitalar. O objetivo da empresa é a manuntenção de uma longa tradição de cooperação e parcerias na China.

A companhia chinesa AVIC, está ansiosa em incentivar o segmento da aviação geral e tem aumentado sua capacidade de produção de helicópteros e está construindo uma fábrica para a produção de aeronaves de asa fixa, em Zhuhai. Está fábrica se somará às fábricas já existentes em Guizhou, Hanzhong, Jinmen e Shijiazhuang.

A fabricante não revelou o tipo de aeronave que pretende fabricar, contudo, tentou comprar uma empresa ocidental no segmento da aviação geral, objetivando adquirir tecnologia. Em 2007, lançou uma oferta pela divisão aeroespacial da firma holandesa Stork NV's, a qual acabou sendo adquirida pela empresa financeira britãnica Candover Investments.

A aviação geral encara numerosos desafios, sendo o maior deles, as restrições de uso do espaço aéreo chinês. Os militares dividiram o espaço aéreo em quatro setores e os controlam de forma estrita e assim os procedimentos de autorizações de planos de voo são lentos e consomem muito tempo.


O Eurocopter EC175 foi desenvolvido em parceria com a chinesa Avicopter

´´ Não é segredo que as restrições existentes no espaço aéreo chinês, deverão ser relaxadas para que a aviação geral possa florescer,´´ afirma Todd Dunke, diretor internacional de vendas do jato Citaton, da Cessna. ´´ Estamos trabalhando com os grupos regulatórios liderados pela CAAC (Civil Aviation Administration of China) e com a FAA, contudo, ainda há muito trabalho a fazer para conseguirmos mais espaços aéreos livres.´´

A China pensa em liberalizar as regras dos voos de baixa altitude, como componente de seu 11º plano quinquenal, abrangendo os anos de 2006 a 2010. Em agôsto, a CAAC aprovou um plano piloto que será iniciado em 2010, em preparação do primeiro parque industrial da aviação geral na China. O plano permitirá aos operadores a utlização do espaço aéreo abaixo dos 9.800 pés, para voos entre o aeroporto e pontos turísticos específicos. Talvez venha a ser um modelo para o futuro.

Outro grande problema é a infraestrutura, em particular a falta de pequenos aeroportos bem equipados e serviços relacionados. Devido o setor privado não poder administrar aeroportos, a tarefa recai toda sobre o governo e assim levará algum tempo para ser resolvido. Também não existe separação clara entre a aviação geral e os voos comerciais regulares, especialmente no que se refere aos marcos regulatórios envolvendo a segurança de voo e às tarifas de importação cobradas para a entrada de aeronaves fabricadas no estrangeiro. Embora haja uma crescente quantidade de oficinas de manutenção, a aviação geral ainda depende muito de oficinas fora do país para a realização de manutenções e checks.

A Textron, proprietária da Cessna e da fabricante de helicópteros Bell, defende a tese que a China deve tomar várias medidas para ajudar a aviação geral a decolar e que o espaço aéreo deve ser liberado e uma coordenação entre civis e militares ser estabelecida para otimazar a capacidade da aviação civil e a segurança nacional.

A Textron, defende a redução de tarifas e taxas e a criação de mais aeroportos para a aviação geral, dotados de fornecimento de combustível e demais serviços. Claro que entre os serviços necessários, devem ser citados os equipamentos de segurança, tais como: luzes e instrumentos de aproximação e que os custos de utilização dos aeroportos seja mais convidativo à aviação geral.

Áreas adicionais de teste como uma existente em Xian, poderiam ser criadas para avaliar os resultados da nova infraestrutura e das novas políticas para o setor. Também serveriam para demonstrar a utilidade da existência de uma aviação geral forte e dinâmica, perante os governos locais e negócios fora do ramo aeronáutico.

Em um ambiente regulatório operacional e favorável, com a infraestrutura melhorada e os seviços correlatos em funcionamento, a Textron, estima que o mercado da aviação geral na China, poderia crescer a taxas anuais de 20%, entre 2010 e 2015. Isto movimentaria $ 1 bilhão de dólares anuais e criaria 43.000 empregos, afora outros benefícios indiretos.

Contudo, a China ainda está muito longe de atingir tais objetivos. ´´ A China ainda não está preparada para a aviação geral, tal como a entendemos. A burocracia ainda é o maior obstáculo,´´ afirma Feinig, da Diamond. ´´ Porém, sabemos que na China as coisas mudam muito rápido se houver vontade política. Esta vontade política já foi declarada pelo governo chinês.´´

A China e seus dragões e gaivotas


A AVIC planeja desenvolver novos aviões em sua sede em Zhuhai.

A AVIC General Aircraft está vendendo 30% de suas próprias ações, a companhias ligadas aos governos de Guangdong e Zhuhai e está mudando sua sede de Pequim para Zhuhai, que é uma cidade costeira no sul da China, uma região de rápido crescimento econômico, no delta do Rio Pérola.

A nova sede será no centro da cidade de Zhuhai, mas somente estará operacional em 2011, porque a construção dos novos edificíos nem começou. Contudo, a companhia já iniciou a construção de uma fábrica para a montagem dos aviões, no aeroporto de Zhuhai. A obra estará pronta em novembro de 2010 e lá vai exisitir um centro técnico de apoio aos clientes.


Grob

Ainda nao se sabe qual modelo de aeronave de asa fixa será montado em Zhuhai, mas existem várias póssibilidades.

A AVIC está desenvolvendo um pequeno avião anfíbio chamado Seagull, um monomotor destinado a usuários recreativos. Também manteve conversações com a PLC Mielec, objetivando produzir na China o avião polonês M18B Dromader, um avião utilitário. O departamento de agricultura da província de Heilongiiang, fez um pedido de compra de 15 M18Bs em 2007.

Enquanto tais iniciativas podem vir a fluir nos próximos anos, uma ambição de longo prazo da AVIC, é construir um grande avião anfíbio do tamanho do 737. Este avião, com o nome provisório de Dragon 600, seria eequipado com quatro motores tipo turboprop e seria utilizado em missões de resgate e combate a incêndios. A empresa está estudando a aquisição de alguma fabricante de aviões no Ocidente, para agilizar sua entrada no mercado ocidental.

Atualmente, existem dois aviões chineses certificados pela FAA, o Harbin Y12 para 19 passageiros e o Hongdu N5, um avião agrícola para lançar defensivos, contudo, nenhum dos dois vendeu bem nos EUA.

A aquisição de uma fabricante ocidental daria à AVIC, a posse de uma marca reconhecida nos mercados ocidentais, uma rede de apoio de produto, internacionalmente estabelecida e pessoal com experiência na obtenção das certificações ocidentais.

Administradores da extinta empresa alemã Grob Aerospace, revelaram em dezembro de 2008 que a AVIC estaria interessada na aquisição da companhia, mas outra empresa alemã acabou adquirindo a companhia.

Fontes ligadas à indústria aeronáutica nos EUA, afirmam que a AVIC General Aircraft, sondou a Piper Aircraft e a Spectrum Aeronautical.

A Spectrum é uma nova empresa baseada na Califórnia e que busca construir jatos executivos e tenta obter a certificação de seu primeiro avião, enquanto a Piper dispensa apresentações.

A Imprimis, uma empresa de invstimentos de Cingapura, adquiriu 100% da Piper em maio e a fabricante informou que pretende crescer no mercado asiático.

Fonte: FG / BGA

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