CRISE SUFOCA FORNECEDOR DA EMBRAER

As 70 empresas que compõem a cadeia de fornecedores da indústria aeronáutica na região de São José dos Campos (SP) tentam se ajustar ao impacto da crise, com demissões, redução de despesas e a busca de novos negócios. Segundo os empresários ouvidos, mais de 90% das empresas enfrentam dificuldades para sobreviver. A principal causa da crise é a queda de metade das encomendas feitas pela Embraer, que respondem por quase 100% da receita do setor.

Enquanto a Embraer fez seus ajustes, demitindo 4,2 mil funcionários e cortando custos, os fornecedores ainda buscam medidas de curto prazo para evitar um colapso nas operações, dizem empresários. O diretor do Ciesp de São José dos Campos, Almir Fernandes, menciona, por exemplo, a dificuldade para renegociar a dívida com fabricantes de equipamentos. Já não querem mais alongar os pagamentos.

"Nos últimos dois anos foram investidos R$ 60 milhões em maquinas para atender os pedidos crescentes da Embraer antes da crise. Agora, corre-se o risco até de serem devolvidas", diz o diretor do Centro para a Competitividade e Inovação do Cone Leste Paulista, Agliberto Chagas.

Segundo ele, a retração das vendas na Embraer atingiu a cadeia aeronáutica como um todo, mas algumas empresas foram mais afetadas e vêm operando a 10% da capacidade. Foram demitidos cerca de 2,5 mil, de um total de 5 mil, desde o início da crise, há quase um ano. "Com o volume de produção atual não é possível sobreviver. As empresas estão reduzindo pela metade a jornada de trabalho e deixando funcionários em casa, porque não tem dinheiro nem para demitir", relata o diretor de uma delas.

O BNDES divulgou um plano de socorro às empresas do polo aeronáutico, mas reconhece que essa é uma tarefa de longo prazo, que tem como objetivo principal criar uma cadeia competitiva e menos dependente da Embraer. Para o curto prazo, o banco afirma que trabalha em três ações específicas. A primeira delas é a negociação com a Embraer para que faça mais encomendas de longo prazo.

"Com os pedidos de longo prazo, as empresas dessa cadeia ganham fôlego para continuar suas atividades e, ao mesmo tempo, os novos contratos servem de garantia para que consigam novos empréstimos no banco", explica o assessor da presidência do BNDES, Carlos Gastaldani. Segundo ele, ainda este mês o banco deve aprovar uma ampliação do Pró-aeronáutica. Criado em 2007, o programa dispõe de R$ 100 milhões em caixa. Outra alternativa de curto prazo, diz Gastaldani, são linhas de capital de giro e o fundo de aval.

O BNDES ampliou os prazos de pagamento e amortização do Programa Especial de Crédito (PEC), voltado a capital de giro com taxa fixa de 19,15% ao ano para pequenas e médias empresas. Segundo o diretor, ainda este mês será implementado o Fundo de Aval, que minimiza riscos de operações de crédito e elimina um dos principais obstáculos para essas empresas: dificuldade de apresentar garantias.

Enquanto isso, há empresas buscando se diversificar para driblar a crise. "Estamos fortalecendo a área de defesa e os setores de petróleo e gás", diz o diretor da Friuli, Gianni Cucchiaro Bravo, que acumula prejuízo de R$ 1 milhão no primeiro semestre e teve de demitir 126 funcionários, ficando com 94, por conta da queda de pedidos. "Antes da crise, a Embraer previa fabricar 19 aviões/mês dos modelos 170/190. A cadência caiu para cerca de oito este ano", explica Bravo. Especializada em usinagem aeroespacial, a Friuli dependia 90% da fabricante de jatos. "Já baixamos para 52% com contratos para defesa e óleo".

A Graúna, também especializada em usinagem, segue a mesma trilha. "Até a nossa carteira de exportação foi afetada pela crise e tivemos de demitir mais de 100 empregados", conta o presidente, Urbano Cícero de Fleury Araújo. Ele diz que tem feito esforços para sobreviver. Araújo espera o apoio do BNDES em um plano de capacitação tecnológica, orçado em R$ 10 milhões, para motores aeronáuticos e estruturas E aposta, como alternativa, em equipamentos e serviços para a indústria do petróleo.

fonte: Valor SJCampos

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