MINISTÉRIO PÚBLICO BRASILEIRO ACUSA DE SUBORNO OITO FUNCIONÁRIOS DA EMBRAER
As autoridades brasileiras entraram com uma ação criminal contra oito funcionários brasileiros da Embraer SA acusados de subornar autoridades
da República Dominicana em troca de um contrato de US$ 92 milhões para
fornecer aviões de guerra ao exército daquele país.
A queixa criminal, que corre sob
sigilo e a que o The Wall Street Journal teve acesso, é um dos primeiros
esforços conhecidos do Brasil em processar seus cidadãos por
supostamente pagarem propinas no exterior, um marco conseguido
com a ajuda do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e a comissão
de valores mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês).
As agências americanas também estão
investigando alegações de suborno envolvendo a empresa na República
Dominicana e em outros lugares e forneceram evidências para as
autoridades brasileiras, segundo um pedido de ajuda por assistência
legal feita no ano passado pelo Ministério Público federal brasileiro.
A Embraer, uma das empresas mais
conhecidas do Brasil, é a terceira maior fabricante de aviões comerciais
do mundo e emprega mais de 18.000 funcionários em suas fábricas no
Brasil, China, Portugal, França e Estados Unidos. Suas ações são
negociadas na bolsa de Nova York.
"Em função do assunto ser objeto de uma
investigação em andamento no Brasil e nos EUA, a empresa não pode fazer
mais comentários sobre qualquer aspecto do caso, incluindo os processo
no Brasil, onde a companhia não é parte da investigação", informou a
Embraer em uma declaração por e-mail.
A Embraer revelou, em 2011, que
estava sendo investigada nos EUA por possível violação da Lei de
Práticas de Corrupção no Exterior, uma lei anticorrupção que é aplicada
com rigor. A investigação está em andamento e, como as ações da Embraer
são negociadas em Nova York e alguns dos supostos pagamentos passaram
pelos EUA, segundo um pedido de assistência legal, os EUA têm jurisdição
para investigar a Embraer.
Os porta-vozes do Departamento de Justiça dos EUA e da SEC não quiseram comentar.
O Ministério Público brasileiro
apresentou uma queixa de 31 páginas em um tribunal penal no Rio de
Janeiro em agosto, o primeiro passo de um processo criminal. Um
porta-voz do Ministério Público não comentou.
A queixa alega que os executivos de
vendas da Embraer concordaram em pagar um suborno de US$ 3,5 milhões
para um coronel aposentado da força aérea dominicana, que então
influenciou legisladores para aprovar o negócio e um acordo de
financiamento entre a República Dominicana e o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES. A venda foi realizada e as
aeronaves foram entregues.
O coronel aposentado, Carlos
Piccini Nunez, estava servindo como diretor de projetos especiais do
exército dominicano em 2008, mesmo período das negociações do contrato
que proveria a República Dominicana com oito aviões Embraer Super
Tucano. Esse avião turboélice, usados em apoio a ataques, é o preferido
dos exércitos de países em desenvolvimento, em função de sua baixa
manutenção e preços acessíveis.
A Força Aérea da República Dominicana e o Ministério de Defesa do país não responderam aos pedidos para falar com Piccini.
A queixa criminal alega que o
vice-presidente de vendas da Embraer, Eduardo Munhos de Campos, prometeu
pagar o suborno, e que ele foi ajudado na obtenção do pagamento por
Orlando José Ferreira Neto, outro vice-presidente; pelos diretores Acir
Luiz de Almeida Padilha Júnior, Luiz Eduardo Zorzegon Fumagalli e
Ricardo Marcelo Bester; e os gerentes Albert Phillip Close, Luiz Alberto
Lage da Fonseca e Eduardo Augusto Fernandes Fagundes.
A Embraer não informou se eles ainda
estão empregados na empresa. Vários deles parecem ter se mudado com base
em seus perfis no LinkedIn. Eles não retornaram pedidos para
comentários ou não puderam ser contatados. Seus advogados no Brasil não
foram identificados.
Advogados americanos de Munhos e
Fumagalli não comentaram. O advogado americano de Close, Danny Onorato,
disse: "Nós estamos cientes da queixa criminal no Brasil e a estamos
estudando." Não ficou claro se os outros acusados também possuem
advogados americanos.
Os funcionários da Embraer são acusados
na queixa brasileira de corrupção em transações internacionais, o que
pode levar até oito anos de prisão se condenados, e lavagem de dinheiro.
A queixa alega que "todas as evidências
indicam" que parte do suborno de US$ 3,5 milhões era destinada a um
senador dominicano, que não é nomeado no documento.
Os e-mails coletados na queixa criminal
parecem mostrar os executivos da Embraer tentando fazer pagamentos
diretamente para três empresas de fachada designadas por Piccini. Mas o
departamento de supervisão da Embraer impediu a transferência total em
2009, forçando a equipe de vendas a elaborar um novo plano, diz a
queixa.
O grupo supostamente ocultou os recursos
dos pagamentos ao alocá-los como honorários de consultoria para um
acordo de venda de aviões para a Jordânia, o que nunca aconteceu,
segundo a queixa criminal.
fonte/WSJ/FAB/Notimp
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