USO DE DRONES SE POPULARIZA NO JORNALISMO, MAS DIVIDE OPINIÕES PELO RISCO DE ACIDENTES


A Arena Castelão, em Fortaleza (CE), estava tomada por trinta mil torcedores naquele domingo, 27 de janeiro de 2013, data da reinauguração do estádio depois das obras para a Copa do Mundo. Quem foi assistir aos jogos Fortaleza x Sport e Ceará x Bahia, além da emoção de ver seu time jogar um clássico em um estádio novinho em folha, também levou um baita susto.

Uma pequena aeronave motorizada que registrava imagens do local perdeu o controle e se chocou contra a torcida. Por sorte, ninguém se feriu. Considerados uma versão mais avançada dos aeromodelos, os drones são veículos aéreos não tripulados (VANT), equipamentos controlados à distância que têm dividido opiniões mundo afora.

Devido ao seu baixo preço – modelos mais simples custam a partir de R$ 2,3 mil – e, pelas inúmeras possibilidades de uso, os dispositivos têm encontrado um terreno fértil em diversos setores da economia, desde a agricultura ao mercado cinematográfico e publicitário.

Quando acoplados a uma câmera de filmagem ou de fotografia, eles são usados para o monitoramento de plantações, do trânsito ou para o registro de eventos, como aniversários e casamentos. Sua maior vantagem é fornecer imagens de alta qualidade e com melhor custo-benefício em relação a um helicóptero, por exemplo.

Tanta versatilidade acabou chamando a atenção da imprensa que, nos últimos anos, integrou as aeronaves não tripuladas à cobertura jornalística. No Brasil, o jornal Folha de S.Paulo estreou a tecnologia, com a filmagem aérea das manifestações contra o aumento das passagens do transporte público, em junho de 2013, na capital paulista. 

Na ocasião, a TV Folha contratou os serviços da GoCam, empresa especializada em filmagens com aeronaves não tripuladas, para sobrevoar a região da Marginal Pinheiros e Largo da Batata, onde se concentravam os manifestantes. “A gente usou o drone porque ele traz outro ponto de vista. É um novo campo que se abre. As imagens de helicóptero são muito altas, enquanto as feitas do chão são muito baixas. Esse meio termo é o que exploramos de forma inovadora”, explica João Wainer, diretor da TV Folha e do documentário “Junho”, sobre os protestos em São Paulo.

Não demorou muito para que outros veículos também fizessem suas experiências. No Carnaval deste ano, o portal Terra contratou uma empresa especializada em filmagens aéreas feitas a partir de drones para mostrar aos internautas, em tempo real, os blocos de rua do Rio de Janeiro e da Vila Madalena, na capital paulista. O jornal O Estado de S. Paulo também estuda o uso das aeronaves, tanto que já adquiriu dois modelos, mas aguarda as autorizações necessárias para as primeiras experiências.

Risco calculado
Pesando a partir de dois quilos, e podendo chegar a quase meia tonelada dependendo do modelo, um veículo não tripulado que sobrevoa a uma distância de mais de cinquenta metros de altura pode facilmente causar acidentes com mortes. É justamente por isso que a legislação sobre a atividade é tão restritiva em alguns países. 

Nos Estados Unidos, por exemplo, o uso desse tipo de aeronave está restrito às iniciativas militares, o que tem gerado polêmica entre as empresas de comunicação, que acusam o governo de tentar interferir na liberdade de imprensa.

No Brasil, onde ainda não há legislação específica para a operação de drones não utilizados para lazer, esporte ou competição, como no caso das empresas jornalísticas, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) promete, até o fim do ano, bater o martelo para a criação de uma nova lei. Em fevereiro de 2014, o órgão apresentou algumas diretrizes que, antes de votadas, serão levadas à consulta pública.

Dentre as principais propostas, destaque para a liberação de voos em áreas públicas abertas quando o equipamento pesar até 25 kg e sobrevoar abaixo dos 120 metros de altura. A medida permite, no caso, a filmagem de manifestações e grandes eventos, como o Carnaval. No ano passado, a Folha também utilizou os drones para mostrar o trânsito na volta do feriado do Réveillon, operação que seria autorizada segundo a nova lei. As exigências se intensificam de acordo com o seu peso. A proposta prevê ainda a proibição do transporte de pessoas, animais ou artigos perigosos.

Enquanto a nova legislação não entra em vigor, por hora, não há restrição para a compra do drone por um cidadão, instituição ou empresa, mas sua operação depende de uma autorização específica da Anac e do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Segundo Jefferson Bispo Ferreira, da Gerência Técnica de Relações com a Imprensa da entidade, mesmo com o Certificado de Autorização de Voo Experimental (CAVE), apenas operações experimentais sobre áreas não densamente povoadas são permitidas, ou seja, não permite operações com fins lucrativos e nem em áreas urbanas.

A norma é semelhante à legislação em vigor há dois anos na França. Segundo o fotógrafo francês Eric Bergeri, fundador da idrone.TV, que presta serviços de filmagem na capital paulista, como o Brasil ainda não tem regras estabelecidas, ele segue as de seu país. Entre elas, jamais sobrevoar locais com grande concentração de pessoas, nem voar perto de aeronaves e aeroportos. Esse é o motivo que o levou a não prestar serviços para veículos de comunicação. “Eu quase nunca trabalho em meio urbano porque teria que fechar as ruas para evitar o fluxo de pessoas e carros. Então, não dá para trabalhar com jornalismo, porque é mais imediato. Trabalho mais com publicidade e cinema”.

Já para Luis Neto, fundador da GoCam, que opera desde 2009 em São Paulo, é possível calcular alguns riscos e fazer um trabalho seguro. Pensando nisso, ele criou a DroneStore, que comercializa, presta manutenção e treinamento para os interessados em operar as VANTs. “Como hoje os equipamentos têm GPS, bússola, vários sensores, isso facilita a segurança”, explica o profissional, que acumula mais de vinte anos de aeromodelismo.

fonte/PortalImprensa/foto/AP

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