ESPECIALISTA EM TRANSPORTES DEFENDE O USO MILITAR DO AEROPORTO AUGUSTO SEVERO


Contrariando a opinião da classe empresarial e de gestores públicos, o professor de engenharia de transporte da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Rubens Ramos, defende a utilização militar do espaço físico do desativado Aeroporto Internacional Augusto Severo, em Parnamirim, acreditando no potencial tecnológico da estrutura para ser transformado em Centro de Desenvolvimento Aeroespacial. 

O posicionamento do especialista em transportes se baseia na anunciada instalação do Centro de Treinamento Operacional para pilotos pela Força Aérea Brasileira (FAB), que será a primeira estrutura do tipo no país. Pelo que divulgou as autoridades militares, o local vai congregar uma série de cursos para formar aviadores militares e capacitar oficiais em rotinas administrativas.

As informações sobre a nova estrutura ainda são mantidas em sigilo pelo alto comando da Aeronáutica. Segundo a assessoria de imprensa da FAB, o centro vai ser ajustado à estrutura da Base Aérea de Natal (BANT), que opera na vizinhança do antigo Augusto Severo, fechado para a aviação comercial no último dia 31 de maio.

A base potiguar é usada hoje para finalizar a formação do piloto aéreo militar brasileiro, sendo responsável pelo treinamentos de segurança do espaço aéreo nacional em caças supersônicos. “Falta uma compreensão da importância daquele espaço. A área do Augusto Severo sempre foi estratégica para a aviação e deve continuar assim”, defende o especialista, que tem pós-doutorado em Economia de Transporte pela Universidade de Lyon, na França.

Ele acredita ser um desperdício transformar o antigo terminal aeroportuário numa rodoviária, como foi sugerido pela classe empresarial potiguar. A sugestão da Federação da Indústria do Rio Grande do Norte (FIERN) é de que a área do Augusto Severo poderia ser transformada em Centro de Convenções, rodoviária e museu. Ramos contrapõe esta possibilidade, justificando as condições estratégicas e geográficas da estrutura de Parnamirim para a aviação internacional.

“Serviu de ponto de rota para os aviões que cruzaram o Atlântico durante os anos de 1930. Depois disso, durante a Segunda Guerra, foi base aérea do Exército americano. Isso mostra que Parnamirim é privilegiado para a aviação. Pensar de outra forma é ingenuidade”, diz.

Na visão de Rubens Ramos, a estrutura especializada em engenharia aeroespacial vai atrair ainda uma extensa cadeia produtiva para a cidade. “Será um local voltado para a inovação e produção tecnológica. Com isso, o centro vai necessitar de uma estrutura de suporte, de logística e de corpo técnico. São profissionais que terão de ser trabalhados e capacitados para o serviço. Também abre espaço para a abertura de novos postos de trabalho para a população local”, avalia.

As perdas econômicas com o fim do aeroporto (fechamento de postos de trabalho e redução na arrecadação do ICMS), segundo o professor, seriam recompensadas com uma nova leva de empregos, empresas e movimentação financeira. “Serão centenas de novos trabalhadores, todos capacitados, com bons salários, que irão consumir em Parnamirim”, explica.

O especialista ressalta ainda que a engenharia aeroespacial perfaz o desenvolvimento e fabricação de drones (aeronaves não-tripuladas) e satélites. “O Rio Grande poderá se tornar importante centro de tecnologia. Vale lembrar que muitas das tecnologias que utilizamos hoje, como GPS e a internet, foram desenvolvidas em unidade militares”, detalha.

Outra possibilidade para o uso do antigo aeroporto foi levantada pelo Governo do Estado, que sugeriu para o local a instalação do campus do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) para o Rio Grande do Norte. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec) disporia, inclusive, de recursos provenientes do programa RN Sustentável para viabilizar a empreitada. No entanto, o projeto não foi encampado pela Força Aérea Brasileira.

FORMAÇÃO DE PILOTOS

Ao que se sabe, o futuro centro de treinamento vai congregar o corpo instrutivo para preparar aviadores militares. O espaço não terá apenas a função operacional, mas também a especialização dos militares da Aeronáutica.

Atualmente, a formação de pilotos militares é iniciada na Escola Preparatória de Cadetes do Ar, em Barbacena (MG). Por lá, os alunos cursam o equivalente ao ensino médio regular. Após a formatura, ao apresentarem condições favoráveis de saúde e psicológicas, os cadetes são aprovados para a Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga (SP).

Neste local, o alunos recebe as primeiras experiências na aviação. O aprendizado é encerrado quando o oficial atinge 125 horas de voo de instrução. Por fim, o militar é enviado à Base Aérea de Natal para receber a capacitação final, passando a operar helicópteros, caças, aviões de patrulha e de transporte.

A ideia é agregar todas as fases dentro do centro de treinamento potiguar. Além disso, a nova estrutura poderá receber parte da instrução administrativa e funcional dos militares oferecida no Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica (CIAAR), na cidade de Belo Horizonte (MG), ou na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica (EAOAR), no Rio de Janeiro (RJ).

Defesa Nacional
O fortalecimento da base aérea potiguar também é vista pelo aspecto da segurança nacional. Rubens Ramos explica que a estrutura militar cobre todo o raio de combate da região Nordeste. O governo brasileiro, em dezembro de 2013, adquiriu da Suécia 36 caças Gripen por R$ 10,8 bilhões. Os aviões militares perfazem 1,3 mil quilômetros sem a necessidade de reabastecimento. "A Base Aérea de Natal é a única que fica dentro desta circunferência, é um ponto estratégico", detalha o professor Rubens Ramos.

Os novos aviões de combate estarão em funcionamento em 2018. Dentro do valor de compra, a Força Aérea Brasileira terá direito à tecnologia. Além disso, o caça será montado no Brasil.

Hoje, no Nordeste, apenas Fortaleza (CE), Recife (PE), Salvador (BA) e Natal têm bases da Aeronáutica. A capital pernanbucana é sede do Comando Regional do Ar (COMAR) - a estrutura militar-administrativa que gerencia as atividades da FAB na região. "Uma estrutura ampla aqui no Rio Grande do Norte, por abranger os estados nordestinos, vai otimizar o uso dos recursos na defesa nacional", finaliza Ramos.

fonte/NovoJornal(RN)

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