OS CARONEIROS DOS ARES




Que os aviões estão superlotados no Brasil já não chega a ser novidade para ninguém. As enormes filas nos guichês de check-in e a espera interminável para ultrapassar a máquina de Raio-X tiram a paciência de qualquer um que dependa do transporte áereo.

Na hora de entrar no avião, depois de esperar e esperar, ainda é preciso formar fila:

- Assentos das fileiras 1 a 15 do lado direito, das fileiras 16 a 31 do lado esquerdo, por favor - orienta o funcionário da companhia aérea, já sem vontade de responder perguntas de quem ficou em dúvida.

Fora das filas, os passageiros que pagaram tarifas mais caras, idosos, crianças, ou quem tem cartões de fidelidade da companhia, cartão de crédito de algum banco que tenha acordo com a companhia ou ainda os furões habituais.

Todos a bordo, sentados e com os cintos "afivelados", e a porta vai ser fechada. Calma, ainda não. É hora dos caroneiros. De repente o corredor do avião é tomado por 10 ou mesmo 20 funcionários da companhia aérea que desejam voltar para casa. Por algum detalhe de escala, o último voo daquela gente caiu naquele aeroporto. E é preciso encontrar lugar nos aviões para levar o pessoal para casa.

Só que o avião está lotado.

Às vezes no check-in o atendente avisa:

- Só tem lugar no meio, já acabaram corredores e janelas.

Sem opções você aceita. É preciso ir para casa. Encolhe bem os ombros, vai ao banheiro antes do embarque e reza para que o passageiro da janela não queira fazer xixi. Levantar naquele aperto é um desafio incômodo.

Aí os caroneiros entram no avião e "tchun", rapidamente ocupam aquele corredor que estava livre 5 segundos antes. Você pagou o bilhete e vai no meio. O co-piloto gordo risonho viaja grátis e dormindo no assento do corredor.

Os caroneiros encontram assentos mesmo em aviões lotados e com overbooking. Deve ser alguma mágica.

Caroneiro é uma praga quase tão ruim como amigo de comissário. Você está em um voo transatlântico. Pagou caro para um assento na classe executiva. Quer um pouco de tranquilidade, sossego. O dia seguinte será longo, você precisa descansar. Aí do seu lado tem um cidadão que, de cara, pede duas taças de champanhe, antes de o avião decolar. E segue a trilha etílica com vinho, vodka ou o que mais estiver à mão. A odisseia só é interrompida pelo discreto contato de um comissário, de vez em quando.

Sim, esse é o amigo do comissário. Comprou econômica, ganhou executiva pela amizade. Combinam sair para a balada no destino no dia seguinte. E você, ao lado, precisa passar 12 horas escutando conversa de bêbado. Sem dormir.

O avião perdeu o glamour. Os caroneiros ajudam a piorar sua viagem.

Na próxima vez, considere ficar em casa. Pode ser muito melhor.



Eduardo Tessler é jornalista e consultor de empresas de comunicação. Edita o blog
Mídia Mundo

fonte/foto/TerraMobileBrasil
Enhanced by Zemanta

Comentários

Unknown disse…
Este Sr. foi muito infeliz nas suas colocações. Talvez sua idéia tenha sido fazer piada preconceituosa as custas de milhares de trabalhadores (pilotos e comissários) que moram fora de base. Pelas poucas palavras que li, este Sr. me pareceu ser muito egoísta e mau educado, quem o conhece deve poder comprovar tal fato. O fato é temos que nos locomover de nossas casas para o trabalho, da mesma forma que possívelmente este Sr. deveria estar fazendo, muito provavelmente as custas de uma empresa, o que não o descaracteriza de certa forma como um caroneiro também. São pessoas deste tipo, que vemos todos os dias voando conosco que acabaram com o glamour na aviação, pessoas que não pedem por favor, não dizem obrigado, não esperam o sinal de atar cintos apagar para levantarem-se e por aí vai, não vamos nem entrar no mérito de como um cidadão como este se comporta atrás de um volante de um carro, ou numa fila de supermercado... A educação está acabando, este Sr. está reclamando porque ele deve ter se levantado para ocupar um assento melhor (que ele não reservou) e um "caroneiro" deve ter sentado antes, frustrando sua vontade. Pra mim está bem claro, talvez vocês percebam também. Só que as empresas e ou a ANAC nunca vão proibir o acesso livre dos caroneiros, porque senão a aviação pára. São milhares de caroneiros que não aguentam viver em SP e procuram outros lugares, e outras que viveram desde suas infâncias em outras cidades e não querem perder seus vínculos, apesar da paixão em voar. Desculpem o desabafo, mas foi demais...
Roberto Fantinel disse…
Obrigad o pela visita, acho que as empresas aéreas deveriam rever e aumentar o número de cidades "bases" para os tripulantes. Viver em São Paulo e ter que lutar todo dia com o trânsito caótico para se locomover para o trabalho está humanamente impossível. Será que as cias. estão querendo que os "tripulantes tirem suas folgas dentro da aeronave???".

Postagens mais visitadas deste blog