ENTRE POUSOS E DECOLAGENS
Os moradores do Lago Sul não aguentam mais o barulho provocado pelas turbinas dos aviões que decolam do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. Atualmente, muitas aeronaves passam em cima das casas, provocando constantes transtornos decorrentes dos prejuízos trazidos pela poluição sonora. A discussão não é recente, muito pelo contrário, os habitantes desta região convivem com o problema há anos. Em 2006, medidas foram tomadas para amenizar o impacto provocado pelo excesso de ruído, no entanto, no início de abril deste ano foram feitas alterações nos procedimentos de pousos e decolagens no local, o que levou pra longe a tranquilidade conquistada. "Os vidros das casas chegam a tremer, pois o fluxo é constante. No caso dos aviões de carga, é ainda pior. Eles são bem mais barulhentos que esses comuns e partem nas madrugadas", conta a professora Heloísa Doyle, 57 anos, moradora do Setor de Mansões Dom Bosco. "Antes, eles sobrevoavam uma área não habitada: ali no Jardim Botânico", assinala. Heloisa se refere ao antigo procedimento de decolagem de alguns aviões no JK, que, prioritariamente, partiam da 11R, uma pista nova inaugurada há cerca de quatro anos. Eles realizavam subida íngreme na mesma direção da cabeceira da pista até atingir seis mil pés em relação ao nível do mar. Depois de atingir a altura recomendada, o piloto poderia manobrar em direção ao destino do voo.
Atualmente, os aviões que voam em direção ao norte do País mantêm a direção da pista, seguindo em linha reta. Uma nota oficial no site da Força Aérea Brasileira (FAB) do dia 30 de abril esclarece essa situação. De acordo com informações do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta I), a mudança teria como objetivo principal dar mais fluidez ao tráfego aéreo, já que duas pistas estariam sendo usadas para o escoamento dos aviões e seria baseada em recomendações da Organização de Aviação Civil Internacional (Icao, sigla em inglês). Unidos em busca de mudanças moradores de algumas quadras do Lago Sul se reuniram na segunda- feira para discutir o problema. Eles estão confeccionando uma carta para ser entregue às entidades aeronáuticas. A primeira a receber o documento, pessoalmente, será a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que confirmou ao Jornal de Brasília a existência de reclamações em função das mudanças.
Segundo o aposentado, Cesar Palvarini, 66 anos, o repasse de informação desencontrada é preocupante. "Um dia eles nos disseram que a pista nova (11R) estava em manutenção, por isso, as decolagens iam acontecer a partir da velha (11L). Mas, no dia seguinte, notamos aviões partindo dela", comenta. "Procuramos eles novamente disseram o oposto: que era a velha que estava em manutenção. Muitas vezes, chegamos a acreditar que estão plantando um pouco de confusão na nossa cabeça para não sabermos do que reclamar". O Aeroporto ocupa uma das primeiras posições no ranking dos mais movimentados do Brasil, com capacidade operacional de 555 mil pousos e decolagens por ano. Em nota, o Cindacta I informou que os controladores vêm solicitando aos pilotos que façam o maior gradiente de subida para diminuir ao máximo o ruído para residências próximas á área de decolagem. O professor de física Sérgio Garavelli alerta que os aviões a jato podem chegar a emitir níveis de 140 decibéis na decolagem. "Na Universidade Católica fizemos um trabalho sobre isso e foi possível medir níveis de 88 dB no Núcleo Bandeirante. Estes níveis podem incomodar muito, principalmente no período noturno", justifica.
A funcionária pública aposentada, Dinaura Nogueira, 61 anos, sentiu na pele os efeitos da poluição sonora. "Eu tinha taquicardia. Mas isso não aconteceu só comigo, muitas vizinhos reclamavam de pressão alta e estresse". Ela também é moradora do Lago Sul e ex-prefeita da Quadra QI 17. "Estão privilegiando aspectos econômicos em detrimento da saúde e tranquilidade dos moradores", arremata. O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) informou que o assunto está sendo analisado e que nos próximos meses será finalizado um plano intregrado dos órgãos envolvidos para mitigar o problema.
fonte/JornalDeBrasília
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