MOMENTO PARA A TAM EVITAR OS ALIENÍGENAS


A identidade de uma empresa é, na maioria das vezes, a essência do sucesso empresarial da companhia. Não existe no Brasil nenhuma empresa aérea tão identificada com o seu fundador como a TAM. O Comandante Rolim Amaro e a TAM se fundiram em um só ser. Hoje, os seus herdeiros, especialmente D. Noemy, Maria Claudia e Maurício Amaro são guardiões, não da sua herança ou da sua memória, mas do próprio Rolim.

A TAM, sem os seus ensinamentos, seria mais uma empresa aérea. Uma companhia de aviões e não o conjunto de valores inéditos que foram colocados em prática pela coragem do seu fundador.
Quem viveu a história da TAM, quem acompanhou a chegada dos primeiros F100 ou presenciou o voo rasante do primeiro A330 em Congonhas, sabe que a empresa surgiu como resultado de uma cultura capitaneada por um único homem.

Há alguns dias reencontrei D. Noemy e Maria Claudia em um evento para apresentação do novo serviço de bordo da empresa. Conversamos longamente e na presença delas eu sentia a presença do próprio Rolim. Era como se ele estivesse ali. Não se trata de nenhum fenômeno espiritual. Conversando com elas, observando a espontaneidade do sorriso, cheguei à conclusão que Rolim e sua família também formavam um só ser. O que ele foi em vida era fruto da família que possuía. Da esposa compreensível e amiga que sempre teve. Dos filhos que davam os primeiros passos na própria TAM.

Recordo do orgulho que ele tinha em ver todo o cuidado da Maria Claudia com o novo serviço internacional da TAM. No voo inaugural de Miami para São Paulo, ele foi me visitar na classe executiva e perguntou: “O que achou do serviço, Magnavita?” Ao expressar a minha satisfação com as riquezas dos detalhes, ele me disse: “Foi tudo cuidado pela Maria Claudia!”.

Lembro também do seu orgulho quando voamos de volta o primeiro Top TAM, de Recife para São Paulo, a bordo do Citation Excel que ele tinha acabado de receber. No cockpit estava Maurício Amaro, hoje comandante do A320 e cada vez mais parecido com o pai. Durante a viagem, ao lado de Luís Eduardo Falco e Rubel Thomas, Rolim não cansava de elogiar: “O Maurício é um grande piloto. Nasceu para voar!”. No mesmo voo, D. Noemy, que o comandante chamava carinhosamente de Nono, separava frutas, que haviam sido embarcadas pela comissária e repassava para o marido.

O Rolim que conhecemos é fruto desta unidade familiar que o fazia se sentir pleno. Uma unidade familiar que ele levava para a empresa, com os seus colaboradores mais íntimos como Umberto D'Angelis e Antônio Carlos Gabrielli. Tinha também o Falco, já citado, para quem ele delegava dizer os “nãos” e o serviço de artilharia pesada.

Neste cenário, a TAM cresceu e, hoje, a família, como principal acionista, tem a responsabilidade de escolher o seu futuro presidente. O comandante deve se arrepiar com a ideia de colocar um estranho no comando da empresa. Como um executivo, geralmente empavonados pelo glamour de presidir uma empresa aérea líder, irá entender tamanha simbiose e tamanha cultura particular?

A solução X, Y, Z ou até B, ou K... poderão levar a empresa a perigosos solavancos. A TAM que se reencontrou publicamente com o seu fundador na campanha de marketing há dois anos, não pode correr o risco de servir de laboratório de gestão para neófitos em aviação.

Nos quadros da TAM existem soluções fidelizadas com a identidade da companhia. Quem assumir, sabe que os acionistas majoritários são os guardiões dos princípios do fundador. Dificilmente um head hunter irá achar alguém que, no mundo externo, compreenda que Maria Claudia, Maurício e D. Noemy formam a essência do Comandante Rolim. Eles cresceram com a TAM e principalmente a TAM cresceu com eles. Conhecem cada segundo da história da companhia.

Presidir a TAM será, na realidade, dar continuidade a uma filosofia empresarial criada pelo próprio Rolim. Como alguém de fora poderá fazer isso? Os nomes externos que estão surgindo, antes mesmo de pisar na empresa, já começam a fazer jogo pela imprensa. Querem ser plenipotenciário em um campo que desconhecem e querem no fundo afastar a influência da família acionista.

É como se, em vida, algum maluco quisesse afastar Rolim da presidência da TAM. Façam um exercício mental e respondam, imaginem o Rolim em casa, de pijamas, afastado da presidência da TAM...

É exatamente algo parecido que poderá ocorrer com a escolha de algum nome de fora e que não conheça a aviação. Este é um momento em que a TAM precisa ouvir o seu fundador, acreditar na sua gente e nos seus acionistas.

Depois de conversar com Maria Claudia e D. Noemy no coquetel de lançamento do novo serviço de bordo, deixei o Morumbi convicto de que Rolim é fruto da família que tem e que a TAM e Rolim formam realmente uma só pessoa. Alguém que chegue de fora, cheio de empáfia e vaidade, só irá estragar essa essência de humildade e vontade de servir que transformou a TAM na maior empresa aérea do país.

Cláudio Magnavita é presidente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet), membro do Conselho Nacional de Turismo e presidente da Aver Editora (Aviação em Revista e Jornal de Turismo).

fonte/Jornal do Brasil

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