MINITRO FRANCÊS CHAMA AVIÃO BRASILEIRO DE 'CARRINHO DE MÃO"
Andrei Netto
Os aviões KC-390, projeto de aeronave de transporte militar da Embraer, são para o Ministério da Defesa da França, seu primeiro cliente, nada mais do que um “carrinho de mão voador”. A expressão foi usada pelo ministro Hervé Morin para minimizar a importância da compra de 10 a 15 aviões, anunciada na segunda-feira, em Brasília.
Pelo negócio, que faz parte do pacote de venda de 36 caças Rafale ao Brasil, os franceses devem pagar entre 500 milhões e 750 milhões.
A crítica indireta foi feita por Morin em entrevista à RTL, uma emissora de rádio de Paris. Confrontado com questionamentos sobre a pertinência de adquirir os cargueiros brasileiros, em um momento no qual o consórcio francês, alemão, britânico e espanhol EADS enfrenta sucessivos atrasos e até risco de cancelamento do projeto de avião de transporte Airbus A400M, Morin se saiu com um jargão militar francês, reduzindo a importância da compra. “Nós precisamos do que chamamos um carrinho de mão voador”, afirmou, definindo o KC-390 como “um avião de transporte militar capaz de transportar muito longe”, mas “que não tem o nível de equipamentos do A400M”.
O ministro da Defesa francês definiu o projeto do A400M, apresentado em agosto de 2008 em Sevilha, como “um programa de altíssimo nível”. Para ele, o KC-390 é “um avião em torno de 50 milhões, 60 milhões, enquanto o A400M chega a 100 milhões”. Morin entende que os dois aviões não competem entre si. Essa opinião é contestada por analistas militares, críticos da adoção de várias aeronaves de mesmas características, o que eleva os custos de manutenção da esquadrilha.
Apesar do aparente menosprezo de Morin pelo modelo da Embraer, especialistas em indústria militar acreditam que o equipamento brasileiro tem chances de penetrar no mercado da União Europeia. Em favor do KC-390, pesam os sucessivos problemas industriais do A400M. Lançado oficialmente em 2003, o avião já deveria ter decolado, o que ainda não ocorreu. Em março, a EADS chegou a cogitar o abandono do projeto, antes da intervenção do governo francês, em junho.
MERCADO
Para Jean-Jacques Kourliandsky, especialista em defesa do Instituto de Relações Internacionais Estratégicas (Iris), de Paris, o KC390 tem espaço. “Há um mercado para disputar na Europa no segmento de aviões de transporte. Se será possível ganhá-lo, é cedo para dizer”, avalia. “As dificuldades do A400M geram a expectativa de um fracasso tecnológico ou de atrasos sucessivos. Ninguém conhece os verdadeiros prazos do projeto e até seu abandono já foi cogitado.”
Para o pesquisador, a compra anunciada dos KC390 pelo governo francês faz parte de “conversas globais” mantidas entre Brasília e Paris, que envolvem a venda de quatro submarinos Scorpène, do casco de submarino nuclear, dos 51 helicópteros pesados EC-725 Cougar e dos 36 Rafale. “Em um negócio como esse, é necessário dar para receber, e é possível que o ingresso do KC-390 tenha sido uma moeda de troca.”
De toda forma, estima Kourliandsky, o mercado europeu se abre ao avião brasileiro. “As Aeronáuticas europeias estão tentando encontrar uma alternativa ao A400M.”
FONTE: O Estado de São Paulo, via Notimp
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