LULA APRENDEU A COMPRAR AVIÃO VOANDO

A decisão do presidente Lula, sem ouvir a opinião de ninguém, de comprar aviões de caça Rafale, da empresa francesa Dassault, que coroou a visita do presidente da França, Nicolas Sarkozy, ao Brasil, marcada pela cordialidade francesa de um sedutor de nascença, provocou uma reação de espanto nos sussurros ministeriais e a crítica dos parlamentares de oposição, à cata de um tema para o enterro do escândalo da roubalheira no Senado, que sobra para a Câmara dos Deputados.

Para o distinto público, entretido com a fila dos feriados e com um olho para acompanhar, pela televisão, a Parada do Dia da Independência, o bis dos vendavais que maltrataram o Sul, ainda não refeito das inundações de novembro do ano passado, são prioridades que relegam a compra dos aviões para mais uma das manias presidenciais.

E, de fato, é por aí que se pode chegar a uma avaliação próxima da verdade. Lula está em plena campanha para garantir a eleição da ministra Dilma Rousseff nas eleições de 3 de outubro de 2010. E, se o momento não é dos mais satisfatórios, com a queda na última pesquisa do CNT/Sensus, de 69,8% para 65,4% dos índices de popularidade, atribuída a erros políticos como o discurso em que tomou posição na crise do Senado, em defesa do presidente José Sarney; a crise da Receita Federal e o fracasso da saúde pública, especialmente no surto da gripe suína.

Além da queda que não quebrou nenhum osso, mas deixou arranhões na pele sensível, a senadora Marina Silva (AC) que se desligou do PT, insatisfeita com a dúbia política ambiental do governo que oscila mais do que roupa na corda em dia de ventania, para se filiar ao Partido Verde e ser lançada como candidata à Presidência de República, aparece na pesquisa estimulada entre 4,8% e 11,2% das intenções de voto.

É apenas uma amostra, que deve despertar preocupação. O governador de São Paulo, José Serra, só perderia para o presidente, que não pode ser candidato, depois de repelir as tentadoras manobras de um terceiro mandato com uma emenda golpista a uma Constituição já tão maltratada que parece roupa de mendigo.

Mas vamos voltar à compra dos caças franceses. Lula orgulha-se de ser um instintivo, que supriu as deficiências da formação de menino pobre, alfabetizado no curso para torneiro-mecânico do Senai, que foi o maior líder sindical do país, fundou o Partido dos Trabalhadores das suas atuais decepções, foi o deputado federal mais votado para a Constituinte que aprovou a remendada Constituição de 1988, derrotado em três eleições e eleito no segundo turno para tomar posse em 1° de janeiro de 2003, e reeleito para o mandato que termina em 1° de janeiro de 2011.

A mania de grandeza, o justo orgulho pela história sem paralelo da sua biografia, denunciou os primeiros sinais na montagem do maior ministério da história deste país e que ainda ganharia banha com a criação de novas pastas que nunca deram o menor sinal de sua existência. Sem falar no Ministério do Nada do ex-ministro Mangabeira Unger que voltou à sua cátedra nos Estados Unidos antes de salvar a Amazônia.

A autossuficiência, a vaidade, o orgulho de Lula foram inflando com os elogios do cordão que cada vez aumenta mais e os êxitos administrativos de evidente sucesso. A pasta que o ministro Patrus Ananias gerencia com exemplar transparência coleciona êxitos como o Bolsa Família, o Bolsa Escola, a Merenda Escolar.

O presidente que mais viajou pelo Brasil e pelo mundo sem termo de comparação é o presidente Lula da Silva. E como curte o avião com uma das mais adoráveis alegrias da vida e é curioso e bisbilhoteiro, procura informar-se com os comandantes, pilotos, mecânicos com o auxílio dos intérpretes. O presidente que fechou o negócio com o presidente Sarkozy não é um leviano que arrisca o dinheiro público numa compra precipitada, só para agradar ao ilustre visitante. Mas é o experiente viajante que já passou por todas situações sem revelar medo.

Portanto, o ministro paisano da Defesa, Nelson Jobim, poderia ter se poupado do passo em falso da desculpa de que o negócio dos caças franceses não foi fechado.

Na véspera, o ministro das Relações Exteriores, Celso Jobim, já mandara o recado com todas as letras: a decisão de Lula fora política.

Política, mas com o respaldo de um presidente que aprendeu a comprar aviões, voando.

fonte: Jornal do Brasil/ Villas-Bôas Corrêa

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