HOMENAGEM AO SOLDADO PITHAN - RESGATE EM SANTA CATARINA

Bravura, comprometimento eluta pela vida.
A dramática história do soldado Pithan, o Bombeiro da Força Nacional de Segurança Pública foi soterrado durante operação de resgate em Santa Catarina.
Porto Alegre: Passados quase dois meses da catástrofe natural que atingiu Santa Catarina, as imagens de destruição, caos, morte, sofrimento e os dramas pessoais de quem perdeu tudo o que tinha continuam na memória de muitos brasileiros. Mas a história das equipes de resgate, dos bombeiros, policiais civis e militares, dos integrantes das Forças Armadas e de voluntários de todo país que foram às áreas da tragédia, arriscaram as próprias vidas para salvar as de outros, estas continuam desconhecidas e esperando para serem contadas.Especializado no resgate com cães e socorrista do Grupamento de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar, o soldado Milton Fernando Pithan, 42 anos, foi enviado à Santa Catarina a serviço da Força Nacional de Segurança Pública. No dia 30 de novembro do ano passado, durante uma difícil operação de salvamento na localidade de Braço do Joaquim, em Luís Alves, no Vale do Itajaí, ele foi soterrado. Sua dramática história, de bravura, comprometimento com o dever e vontade de viver comoveu o Rio Grande do Sul. Agora ela será contada com exclusividade por Defesanet, para que sirva de exemplo a profissionais, que como ele e de forma anônima, trabalham para salvar vidas, mesmo que para isso coloquem a própria em risco.
Policiais e Bombeiros de todo país estavam em Brasília realizando um curso para operações com cães farejadores na Força Nacional de Segurança Pública. Durante mais de 40 dias os novos integrantes da FNSP treinaram uma série de missões específicas. Em fins de novembro, no dia das provas finais do curso, a equipe de 26 homens foi acionada e transportada para Navegantes: iniciava a Missão Labrador. Após um dia apoiando a FAB no descarregamento de doações das aeronaves C-105A e C-130H, os militares partiram para sua primeira missão. Era uma área de escombros onde se faziam buscas a pessoas que estavam soterradas. Segundos após o desembarque do helicóptero, um dos cães labrador correu e sinalizou o local onde estava o corpo de uma criança.
No domingo (30/11) de manhã fomos acionados. O capitão nos disse que era para irmos sem os cães; a partir daí entendemos que algo estava errado. Quando entramos em forma ele nos disse que iria nos levar mas não sabia se poderia nos trazer e, se alguém não quisesse ir ele iria entender. Toda equipe concordou, fez uma oração e embarcou no helicóptero Blackhawk. No voo fizemos um pacto: todos vão e todos voltam. Chegamos ao município de Luis Alves. Na primeira missão conseguimos resgatar algumas pessoas. Em outra área várias famílias não queriam deixar suas residências com medo de saques. A ordem era tirá-los de casa utilizando força policial se fosse necessária. Toda a região havia se tornado Zona Preta.
Recusa das famílias em deixar suas casas dificultou o trabalho dos bombeiros
Muitas pessoas não queriam sair e quando avistavam as equipes de resgate fugiam para o mato. Continuamos nosso deslocamento e chegamos à residência de uma família que havia voltado. Demos a ordem de evacuação ou seriam presos. Posteriormente, soubemos que um grupo de pessoas queria ser evacuado e que a missão era voluntária. Como tínhamos formado uma equipe de quatro pessoas, todos queriam ir, mas o sargento disse que só precisava de dois. Eu e meu colega da Brigada Militar, soldado Rafael Vieira pedimos a missão. Subimos no reboque de um trator e fomos em direção ao local. Estávamos prontos para pular a qualquer momento pois sabíamos que a trepidação provocada pelo trator poderia provocar um novo deslizamento. A situação era delicada e de alta periculosidade.
Acidente
Quando chegamos na área ficamos sabendo que existia outra família isolada e que queria sair. A pé fomos ao local que era de difícil acesso. Pela experiência que tenho, caminhamos com intervalo de 50 metros um do outro para em caso de acontecer alguma coisa, um poderia salvar o outro ou dependendo da situação, pelo menos garantir a própria vida. Tiramos do local uma senhora idosa – que havia retornado – e algumas crianças. Embarcamos todos no reboque do trator e iniciamos o deslocamento quando de repente o colega gritou e tudo veio abaixo: água, lama e árvores desmoronaram. Nessa hora eu pulei.
No momento eu fiquei tranquilo pois estava inteiro, foi quando o trator veio e passou por cima do meu rosto e do meu peito. Imediatamente eu vomitei sangue e por ser da área da saúde eu disse ao Vieira: Poh, velho, eu to morrendo. Ai ele me xingou dizendo que eu não ia morrer. Vieira estava ferido e parcialmente soterrado. No momento aspirei lama, não sentia dor alguma e nem conseguia enxergar, mas ouvia tudo o que acontecia ao redor. A água continuava a descer e eu temia morrer afogado. Populares chegaram ao local e chamaram o socorro.
Resgate e recuperação
Os militares da FNSP que haviam ficado nos alcançaram utilizando motocicletas e com o auxilio de bombeiros militares do Estado de São Paulo iniciaram nosso resgate. A senhora e uma das crianças infelizmente vieram a falecer no local. Eu fui evacuado para o hospital de Itajaí por um helicóptero Esquilo do Grupamento Aéreo da Brigada Militar, que também participava da operação. Sofri múltiplas fraturas em toda face e com certeza fui salvo pelo capacete já que ele foi a primeira zona da minha cabeça a receber o impacto direto do trator. Já no hospital, após quatro dias em coma induzido, recebi a visita do Comandante Geral da Brigada Militar, Cel Paulo Roberto Mendes, que trouxe consigo de avião a minha família também. Nunca havia visto um comandante que viajasse para visitar um soldado ferido e jamais vou esquecer isso.
A partir daí começou uma árdua jornada de luta pela vida. Naquela semana três programas da cadeia nacional de televisão anunciaram a minha morte, o que provocou mais angústia e sofrimento à minha família. Após cirurgias e uma rápida recuperação, 30 dias depois voltei pra casa onde reencontrei meus familiares e passei a virada do ano, que também simbolizou o inicio de uma nova vida, sempre comprometida com meu dever, minha família e minha profissão.
O Soldado Milton Fernando Pithan, há 19 anos é socorrista do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar, em Porto Alegre. É integrante da Força Nacional de Segurança Pública onde trabalha com cães e foi voluntário para a missão de resgate que quase tirou a sua vida.
Fonte: defesa@net
Kaiser Konrad

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