BANGOR O AEROPORTO DAS EMERGÊNCIAS
No mundo das
viagens de avião, a palavra emergência não é geralmente bem-vista.
Todavia, há um aeroporto à beira do oceano Atlântico que se tem vindo a
especializar precisamente nisso.
O
Aeroporto Internacional de Bangor, localizado no Maine, nos Estados
Unidos, recebeu, desde 2005, 1.170 aviões destinados a outras
paragens. A maioria (709) dos desvios para Bangor nos últimos
doze anos foi por questões ligadas a problemas com combustível.
Seguem-se as relacionadas à meteorologia (254), emergências médicas
(95), mecânicas (90) e, por fim, de segurança (22).
“É realmente algo que nasceu da nossa localização”, explica Tony Caruso, diretor daquele aeroporto desde 1996. “Mas temos uma pista boa, longa e larga; o nosso espaço aéreo não está congestionado e temos bom apoio da FAA [Federal Aviation Administration, Administração Federal de Aviação].” Com estas infraestruturas é possível, diz Caruso, “servir qualquer aeronave, civil ou militar”.
Começou precisamente por ser uma base militar. Hoje é o destino acidental de muitos passageiros em voos transatlânticos. É que o aeroporto de Bangor, com o código BGR, é o primeiro grande aeroporto nos Estados Unidos para os voos que partem da Europa e isso, aliado ao espaço aéreo livre, faz dele o aeroporto de recurso preferido dos pilotos.
Serve de posto de reabastecimento a cerca de 10 mil voos transatlânticos por ano. Mas a especialidade são as emergências.
“É realmente algo que nasceu da nossa localização”, explica Tony Caruso, diretor daquele aeroporto desde 1996. “Mas temos uma pista boa, longa e larga; o nosso espaço aéreo não está congestionado e temos bom apoio da FAA [Federal Aviation Administration, Administração Federal de Aviação].” Com estas infraestruturas é possível, diz Caruso, “servir qualquer aeronave, civil ou militar”.
Começou precisamente por ser uma base militar. Hoje é o destino acidental de muitos passageiros em voos transatlânticos. É que o aeroporto de Bangor, com o código BGR, é o primeiro grande aeroporto nos Estados Unidos para os voos que partem da Europa e isso, aliado ao espaço aéreo livre, faz dele o aeroporto de recurso preferido dos pilotos.
Serve de posto de reabastecimento a cerca de 10 mil voos transatlânticos por ano. Mas a especialidade são as emergências.
Em outubro de 2004, o jornal americano "The Washington Post" escrevia “os incidentes são tão comuns que as enfermeiras locais dizem que
frequentemente tratam pacientes de aviões desviados: uma hospedeira
atacada, uma vítima de ataque cardíaco, uma mulher em trabalho de
parto.”
A equipa do
aeroporto tem de estar, por isso, sempre alerta. E todos têm de ter
treino em tudo, explica Caruso: assim, até o jardineiro a cortar a relva
à beira da pista pode estar em minutos a fazer a assistência a uma
aeronave.
“Temos realmente
um bom sistema aqui. Somos continuamente testados. Planeamos e fazemos
exercícios, mas estamos constantemente em treino todos os dias através
dos nossos trabalhos”, diz o diretor do aeroporto. “Cada situação é
única, mas trabalhamos bem com as agências chave”.
“Não
é raro recebermos chamadas de aviões a 20 minutos de distância e estar
prontos para os receber”, conta Caruso ao ‘Telegraph’. “A nossa equipa
entende o papel que Bangor desempenha na indústria. Os nossos
trabalhadores sentem um orgulho. Acho que não há outro lugar no mundo
como este.”
Depois dos
ataques ao World Trade Center (2001), em Nova Iorque, Estados Unidos, o
Aeroporto Internacional de Bangor passou a desempenhar novos papéis:
área de serviço para os voos a caminho - ou de regresso - da guerra; e sala de espera para voos em cuja lista de passageiros venha algum nome suspeito.
Durante
a guerra no Médio Oriente, servia para reabastecer os aviões a caminho
do Iraque ou do Afeganistão. Em pouco mais de um ano, notava o ‘Post’,
em 2004, 648 aviões, com 116.116 operacionais das forças armadas
americanas tinham passado pelo BGR. “Bangor é a primeira, ou última,
oportunidade para eles [os militares] pisarem o solo americano”,
escrevia, então o jornal.
Com uma pista de 3,5 quilómetros,
o Aeroporto Internacional de Bangor, como a cidade, está pronto para
receber todos aqueles que tenham de cortar a viagem a meio. Sejam eles
Clint Eastwood ou Harrisson Ford; presidentes ou candidatos a tal. E até
aqueles se percam no caminho, como Erwin Kreuz, podem contar com a
ajuda do BGR.
Da Alemanha para São Francisco, com Bangor pelo meio
Erwin Kreuz chegou aos Estados Unidos (EUA), vindo da Alemanha Ocidental, em outubro de 1977. Durante quatro dias, conta o Bangor Daily News do dia 20 de outubro desse ano, o homem pensava estar nos subúrbios de São Francisco, na costa oeste
dos EUA. Todavia, quando pediu a um taxista para o levar para o centro
da cidade norte-americana, o motorista disse-lhe que essa seria uma
viagem de 6.000 quilometros.
É
que o alemão, na altura com 49 anos, estava no lado oposto do
continente americano, na pequena cidade de Bangor, onde o avião em que
seguia parou para reabastecer e para tratar das questões alfandegárias,
já que aquele é o primeiro grande aeroporto para quem chega da Europa.
A
tripulação mudou em Bangor, espécie de entreposto para os voos
transatlânticos. Uma assistente de bordo que ali ia sair parou junto de
Kreuz e disse ao alemão que aproveitasse a estada em São Francisco.
“Kreuz ainda estava meio a dormir e provavelmente não ouviu alguns dos
outros avisos sobre o desembarque apenas para uma pequena paragem”,
escreve o jornal.
Pegou na
mala, saiu do terminal e chamou um táxi. Apesar de não falar inglês,
Kreuz conseguiu pedir para ir a um hotel. Passeou pela cidade, viu como
funcionam as casas e os negócios americanos (aquilo de que estava à
procura nos EUA).
E apesar
de estar nervoso por não saber ao certo como ia voltar para casa, Erwin
Kreuz conheceu quem o ajudasse. As peripécias que viveu transformaram-no
de um simples funcionário de uma cervejeira alemã numa estrela.
Tornou-se membro do clube Rotary local, recebeu terrenos e foi até feito membro honorário da tribo Penobscot.
Mas a história do turista acidental não fica por aqui: celebrou o 50.º aniversário com direito a tratamento protocolar, contava o "Nashua Telegraph" em 1977.
Na Casa do Estado do Maine foi recebido pelo então governador James B.
Langley e conheceu vários oficiais daquele estado norte-americano. Atrás
dele, a imprensa acompanhava de perto.
Entretanto, um jornal de São Francisco pagou a viagem a Kreuz, que foi tratado como membro da reealeza, limousines incluídas, que pode, assim, finalmente chegar ao seu destino. Conheceu mais dignitários, visitou um rodeo,
passeou nos famosos elétricos, comeu e bebeu. Recebeu mais chaves de
cidades e até rebites da Golden Bridge. No fim, acabou na Chinatown, a
ser batizado como membro honorário da família Wong (que tinha, à data,
qualquer coisa como 60 mil membros).
Com
o passar do tempo, a atenção mediática foi desvanecendo. E apesar de
querer ir viver para os EUA, teve três pedidos de casamento, mas nenhuma
oferta de emprego. Kreuz voltou a Bangor em 1978, para inaugurar um
centro comercial, onde lhe ofereceram trabalho para a manutenção desse
mesmo shopping. Comparando o que ia receber com aquilo que recebia na Alemanha (mais os benefícios sociais), percebeu que não valia a pena.
Porém,
a fama e uma entrevista onde disse preferir a cerveja concorrente
àquela em que trabalhava há quase uma década, fê-lo perder o emprego dos
dois lados do Atlântico.
Voltou ainda em 1979, mas as páginas nos jornais já não eram as mesmas.
O interesse na história foi esfumando. E à medida que os aviões mais
modernos deixavam de precisar de abastecer em Bangor, também a
relevância do aeroporto foi-se circunscrevendo: é, agora, o destino de
emergência; melhor: é a capital das aterragens de emergência.
fonte/Economico.pt/foto/Pinterest
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