FALHAS DO PILOTO RESULTARAM EM ACIDENTE QUE MATOU FERNANDÃO, APONTA RELATÓRIO
Cinco pessoas estavam no helicóptero
Foto:
Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás / Divulgação
Uma série de imprudências resultou no acidente aéreo que ceifou a vida de Fernandão, aos 36 anos.
O relatório da tragédia, elaborado pelo Centro de Investigação e
Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Aeronáutica,
indicou uma sucessão de pequenos erros do piloto Milton Ananias e
afastou a possibilidade de falha mecânica no helicóptero em que viajava o
ídolo colorado.
Fernandão e mais quatro pessoas, entre elas o
aviador, morreram no acidente ocorrido na madrugada de 7 de junho de
2014, em Aruanã (GO). O ex-jogador e amigos pescavam e jogavam cartas em
um acampamento em uma ilhota no meio do Rio Araguaia – no período de
secas da região, formam-se pequenas praias ao longo do rio. O voo fatal, às 1h27min, levaria o grupo ao centro de de Aruanã. Depois, Fernandão pretendia retornar para sua casa em Goiânia.
Zero
Hora teve acesso ao relatório de Cenipa, concluído em setembro.
Conforme a investigação realizada pela Aeronáutica, o voo não poderia
ter ocorrido. O piloto estava com o Certificado de Aeronavegabilidade em
dia, porém não possuía habilitação de voo por instrumentos e a
aeronave, um Esquilo AS 350BA, não era homologada para esse tipo de
operação. Os dois avais eram indicados para realizar o voo a partir de
um banco de areia no meio do rio, local ermo e sem iluminação, que
também não era homologado ou registrado.
O relatório descreve que
as condições meteorológicas eram favoráveis e o vento calmo. O documento
descartou falhas no motor durante a decolagem e não identificou
anormalidades nos comandos de voo e no sistema hidráulico da aeronave,
que pertencia à Planalto Indústria Mecânica, empresa do ex-jogador e de
seu sócio, Alberto Nunes.
O Esquilo caiu 430 metros após o ponto
da decolagem, ao lado do acampamento. Na escuridão da madrugada, o
helicóptero subiu na vertical até 10 metros de altura, fez um giro de
cauda à direita, deslocou-se na horizontal a 30 metros de altura e
tombou, chocando-se direto com o solo, sem bater em nada no ar. O Cenipa
entendeu que, possivelmente, a ausência de referências visuais no setor
de decolagem ocasionou a desorientação do piloto, levando-o a atuar nos
comandos de voo de forma inadequada, ultrapassando os 30° de inclinação
a cerca de 30m do solo.
O relatório destaca que Ananias não
cumpriu o período indicado para adaptar sua visão à escuridão. A
investigação também afirma que a aceleração do Esquilo durante a
decolagem ¿pode ter criado no piloto uma forte sensação de que o nariz
da aeronave movia-se para cima de forma excessiva, quando, de fato, isso
não estava acontecendo¿. O sentimento errôneo teria feito com que
Ananias levasse o bico da aeronave para baixo, ocasionando a queda.
—
Ocorreu uma sucessão de pequenos equívocos. O piloto foi vítima de
desorientação espacial, quando não há noção do horizonte. Antes de
decolar, ele saiu de local iluminado e foi para um local escuro, o que
potencializa a desorientação. Houve uma falha de procedimento. Não foi
falha de pilotagem — avalia o tenente-brigadeiro José Carlos Pereira,
ex-comandante de Operações Aéreas da Aeronáutica.
Cláudio Roberto
Scherer, comandante aposentado da Varig e instrutor do curso de Ciências
Aeronáuticas da PUCRS, entende que o relatório do Cenipa aponta para
falha humana. Contudo, Scherer destaca que outras variáveis devem ser
levadas em conta na conduta de Ananias.
– O piloto profissional
tem o dever de dizer não, de alertar que o voo naquela situação era
perigoso. Por vezes, a pessoa não se acha com autoridade suficiente para
dizer não, pois acha que corre o risco de perder o emprego – avalia o
professor.
Em um trecho o relatório indica que ¿é possível que o
piloto não tenha negado a realização do voo noturno ao seu patrão, ainda
que estivesse fora da regulamentação, motivado pela intenção de manter
seu emprego e o vínculo com a atividade aérea.
A investigação não
conseguiu determinar se contribuiu para tragédia a fadiga de Ananias.
Coronel reformada da PM de Goiás e experiente aviador, Ananias
apresentou-se para o trabalho por volta de 10h20min de 6 de junho e
decolou meia hora depois. Pousou em uma residência em Aruanã, às
13h44min, descansou das 14h às 19h.
Entre 19h26min e 19h36min,
realizou o deslocamento até o acampamento no Rio Araguaia, onde ficou
por mais de cinco horas - exames toxicológicos indicaram que não houve
consumo de álcool ou estimulantes. O acidente ocorreu à 1h27min do dia
7, 1h37min após o horário em que a jornada deveria ter sido finalizada
(23h50min).
Zero Hora tentou contato com Alberto Nunes,
sócio da empresa Planalto, proprietária da aeronave, porém ele não foi
localizado. O acidente com o ídolo colorado também foi investigado pela
Polícia Civil de Goiás, que concluiu o inquérito sem apontar culpados
pelo acidente. Segundo a Assessoria de Comunicação do órgão, o caso está
com o Ministério Público, que poderá decidir pela continuidade das
apurações a partir do relatório do Cenipa.
fonte/foto/ZeroHora
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