EM MEIO A DIVERGÊNCIAS, MORADORES ESPERAM INDENIZAÇÕES


Gustavo T. de Miranda
N/A
Vítimas ainda esperam ser ressarcidas
Moradores próximos do local do acidente aéreo que matou o presidenciável Eduardo Campos e seis membros da sua equipe, no Boqueirão, em 13 de agosto, receberam com ceticismo os primeiros dados revelados pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Segundo as informações preliminares divulgadas, o piloto do Cessna Citation 560XLS+ fez o trajeto diferente do previsto na carta. “A gente não pode concluir que ele tenha feito um atalho. Ele fez um procedimento diferente do que estava previsto”, disse, anteontem, o tenente-coronel da Aeronáutica Raul de Souza.


Residentes dos arredores onde o jato caiu consideram que a investigação não muda a pendência em torno dos pagamentos de indenizações e da responsabilização pelos prejuízos causados pela destruição deixada pelo acidente.

“Os pilotos já estão mortos, não podem se defender. Dizer que eles são culpados não muda em nada a nossa situação. Continuamos com prejuízo. Fiquei cinco meses fora de casa porque meu apartamento foi atingido. O responsável pelo avião nunca me procurou nem se dispôs a pagar meu prejuízo”, diz Mirian Martinez.

Ela é moradora de um apartamento na Rua Vahia de Abreu, num edifício afetado pelo desastre. “Voltei para casa faz pouco tempo. Estava impossível ficar aqui. Foi uma coisa de louco esse período na casa dos outros. Depois que um acidente aéreo acontece na sua casa, você não sabe nada. Ninguém resolve sua vida”, desabafa.

O aposentado Davi Teixeira, de 92 anos, avalia da mesma maneira. “A gente vê no jornal essas informações e pensa que está tudo resolvido. Ainda bem que a gente tinha o seguro do condomínio. Mas, mesmo assim, o seguro só paga prejuízos estruturais. Os danos internos ficam a fundo perdido”, critica.

Habilitação
Na segunda-feira, o Cenipa afirmou que o piloto Marcos Martins e o copiloto Geraldo Magela Barbosa, envolvidos no acidente, não eram especificamente habilitados para pilotar o avião. O centro argumentava que eles tinham habilitação para o Cessna modelo 560, e não o 560 XLS+, que era o do avião acidentado.

Poucas horas depois, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que ambos estavam com licença e habilitação válidas para voar o Cessna 560 no momento do acidente, “o que permitiria operar todas as aeronaves desta família para as quais eles estivessem treinados”. Segundo a Anac, o comandante Marcos Martins fez mais de 90 voos no modelo da aeronave acidentada.

O comandante Flamarion Almeida, especialista em aviação aposentado, comenta, no entanto, que o treinamento dos pilotos é importante. “Esse tipo de aeronave é muito caro. Não existe simulador com tanta disponibilidade. Os pilotos precisam ir para os Estados Unidos, realizar horas de voo a custos altíssimos. Isso, sem dúvidas, interfere no contexto em que aconteceu o acidente”.

Com 30 mil horas de voo no currículo, Almeida diminui o peso da investigação chefiada pelo Cenipa. “Não há como caracterizar com propriedade o que aconteceu. Não há o voice recorder (gravador de voz) e o flight data recorder (caixa preta). A única coisa que nos resta é conjecturar. Conjectura é sempre uma hipótese”, explica.

Até 2010, o brigadeiro Jorge Kersul Filho, hoje na reserva, chefiava as investigações de acidentes aéreos no Brasil, no Cenipa. Ele estava à frente do órgão quando aconteceram dois grandes acidentes da história da aviação brasileira: a queda dos aviões da Gol e da TAM, em 2006 e 2007. Para ele, a investigação está transcorrendo dentro do esperado.

“O procedimento (de mudança de rota) não foi feito corretamente. Para mim, ainda não está claro o que eles fizeram a partir da arremetida. O Cenipa já deve ter as hipóteses do que aconteceu, mas deve estar sendo responsável para falar no momento certo”, afirma.

fonte/foto/ATribuna

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