70 ANOS - DIA D - A PREVISÃO DE TEMPO MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA
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de junho de 1944. 6 de junho de 2014. O dia D, dia da invasão aliada da
Normandia na Segunda Guerra Mundial e que foi decisivo para derrotar
Hitler e a Alemanha nazista, completa hoje 70 anos. Muitos não sabem,
mas o destino da maior força naval militar jamais vista no mundo foi
salvo por um boletim meteorológico. Foi a previsão do tempo mais
importante da história, insuperada, e que ajudou a libertar a Europa e a
abreviar a odiosa catástrofe que se abateu sobre a humanidade.
Madrugada de 4 de Junho de 1944.
Portsmouth, Inglaterra. O sol está prestes a nascer e adivinha-se um
dia de céu limpo e de bom tempo, mas a contrastar com o tempo estão os
semblantes dos responsáveis máximos do exército aliado reunidos na
Southwick House. São 04h15 da manhã. Anos de preparação foram investidos
na invasão da Normandia, mas,agora, apenas algumas horas antes do
início das operações do Dia D, surge o Capitão James Stagg a sugerir um
adiamento de última hora. Como oficial comandante do serviço de
Meteorologia da Operação Overlord, o britânico Stagg não era um
comandante de campo de batalha, mas o destino final da invasão dependia
exclusivamente daquilo que decidisse. A sua previsão do tempo.
Os
dias possíveis para a invasão da costa de França se desenrolar com
sucesso eram poucos. Muito poucos. E tinham de reunir várias condições:
maré baixa, para expor as defesas subaquáticas colocadas pelos alemães
nas praias da Normandia, e também lua cheia a iluminar obstáculos e
locais de desembarque para os planadores que iriam levar as forças
aero-transportadas para trás das linhas inimigas nazistas. Eisenhower,
comandante supremo das forças aliadas tinha escolhido o dia 5 de Junho
como data para a invasão. Era o primeiro de três dias em que todas as
condições estariam reunidas para que o desembarque se fizesse com
sucesso, porque para além da lua cheia e da maré baixa pedia-se ainda
que não existisse vento forte e mar agitado que poderia virar
embarcações de desembarque e sabotar o assalto anfíbio; tempo úmido que
podia atolar o exército e espessa camada de nuvens que poderia impedir o
apoio aéreo necessário na operação.
A
tarefa crítica, mas nada invejável, de previsão meteorológica do
notoriamente inconstante Canal da Mancha recaiu numa equipa de
meteorologistas da Marinha Real, do Escritório Meteorológico Britânico e
da Força Aérea. Observações feitas na Terra Nova realizadas a 29 de
Maio relataram uma mudança das condições atmosféricas. Os
meteorologistas britânicos previram uma tempestade para 5 de Junho. Os
meteorologistas norte-americanos, por seu lado acreditavam que uma alta
pressão iria desviar a frente da tempestade avançar e proporcionar céu
limpo e ensolarado ao longo do Canal da Mancha. Stagg, único
meteorologista a quem era permitido contato direto com o General
Eisenhower, tinha que tomar a decisão final.
Manhã de 5 de Junho de 1944.
O céu está limpo e o vento não passa de uma brisa, mas Stagg está
convencido que a tempestade está apenas a algumas horas de distância e
recomenda o adiamento. Eisenhower concorda. Relutante. A invasão ficava
adiada por 24 horas. Do outro lado do canal, as previsões dos
meteorologistas alemães são idênticas às de Stagg. Só com uma diferença.
Para o meteorologista-chefe da Luftwaffe, o mau tempo se manteria
durante junho todo. Apoiados na previsão, os comandantes nazistas se
convenceram que a iminente invasão aliada era impossível e muitos
abandonaram a costa Norte de França para participar em jogos de guerra
organizados pelo Fuhrer. Entre eles estava o Marechal de campo Erwin
Rommel que voltou para casa para oferecer pessoalmente a sua esposa par
de sapatos que havia comprado em Paris.
Mas
as previsões meteorológicas alemãs eram feitas com menos recursos que
as dos aliados, pois como refere John Ross, autor do livro “A previsão
para o Dia D e o meteorologista por trás da maior jogada de Ike”, "os
Aliados tinham uma rede muito mais robusta de estações meteorológicas no
Canadá, Groenlândia e Islândia; tinham navios e vôos meteorológicos no
Atlântico Norte a que ainda se juntavam as observações das estações
meteorológicas na República da Irlanda". Essas estações meteorológicas,
em especial as de estação localizada em Blacksod, no extremo oeste da
Irlanda, provaram ser cruciais para detectar a chegada de um período de
calmaria nas tempestades que Stagg e seus colegas previram e que
acabaram por permitir a invasão no dia 6 de Junho. O que estava em causa
era o elemento surpresa. Os aliados, em especial Eisenhower,
acreditavam que se a tempestade durasse muito tempo, esse elemento
surpresa desapareceria. Por isso, e apesar da chuva e dos ventos que
uivavam no exterior, Eisenhower aceitou o conselho de Stagg e adiou a
invasão da Normandia por 24 horas.
Madrugada de 6 de Junho de 1944.
O tempo nas horas iniciais do Dia D ainda não era o ideal para a
"Operação Overlord". O mau tempo que ainda se fazia sentir na região,
especialmente a densa nebulosidade e os fortes ventos fazem com que
milhares de pára-quedistas das tropas aliadas errem as zonas de
desembarque e que alguns dos bombardeios errem os seus alvos alemães. No
mar, o cenário também não era bom. Os ventos fortes e a ondulação fazem
com que várias lanchas de desembarque naufraguem. Ao meio dia, no
entanto, o tempo tinha melhorado. O período de calmaria que Stagg
previra tinha chegado e os alemães tinham sido apanhados de surpresa. A
maré da Segunda Guerra Mundial, enfim, começava a mudar.
Algumas
semanas depois da invasão, Stagg enviou um memorando a Eisenhower
dizendo que se o adiamento tivesse sido feito para mais tarde, os
aliados teriam enfrentado o pior tempo no Canal da Mancha em mais de
duas décadas. “Agradeço aos deuses da guerra por termos avançado quando o
fizemos”, concluía Stagg. John Ross defende que se a invasão se tivesse
dado a 5 de julho, como insistiram os meteorologistas americanos, a
invasão teria sido um desastre. “Havia demasiadas nuvens sobre a
Normandia para que Eisenhower pudesse usar o seu melhor e mais
importante ativo, as forças aéreas e aero-transportadas”, defende o
historiador. “Só com elas se poderia fazer uma cobertura eficaz dos
tanques, da artilharia e das reservas de infantaria alemã. Os ventos
teriam sido demasiado fortes para o lançamento de pára-quedistas que
impedissem a chegada de reforços e, no mar, as ondas seriam demasiado
altas para que as lanchas de desembarque conseguissem colocar em terra
tanto homens como mantimentos e máquinas. O elemento chave da surpresa
estaria perdido e a libertação da Europa ocidental poderia ter demorado
mais um ano”.
(Com pesquisa e texto de André Amaral/Expresso CV)
fonte/foto/MetSul
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