BALÃO FEZ AIRBUS PERDER SENSOR NO RIO DE JANEIRO COMO NA QUEDA DO AIR FRANCE 447, DIZ CENIPA
Avião da TAM com 95 passageiros ficou sem dados em 2011, após decolar.
Companhia respondeu que melhorou treinamento de pilotos, diz relatório.
Relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos (Cenipa), divulgado nesta segunda-feira (30), aponta que um
banner de plástico fixado em um balão de ar provocou a interrupção de
três pitots (sensores de velocidade) de um Airbus da TAM no Rio de Janeiro, em 2011, quase provocando um acidente semelhante ao do AF 447.
Em 1º de julho de 2009, um Airbus da Air France que fazia o trajeto
Rio-Paris perdeu as informações de velocidade após o congelamento das
sondas pitot e caiu no Oceano Atlântico, deixando 228 mortos. Em junho
de 2012, o G1 divulgou com exclusividade o resultado da investigação do BEA, da França,
que apontou que o pilotos não receberam treinamento suficiente e não
compreenderam que estavam sem indicadores de velocidade confiáveis,
fazendo com que a aeronave perdesse sustentação e caísse no mar.
Segundo o Cenipa, o caso no Brasil ocorreu dia 17 de junho de 2011 com o
voo JJ-3756, que partiu do Aeroporto Santos Dumont às 8h54 com destino a
Confins, em Belo Horizonte. A aeronave, que levava 95 passageiros e
seis tripulantes, chocou-se com o balão seis minutos após a decolagem, a cerca de 10 mil pés de altitude (mais de 3 mil metros).
Apesar das semelhanças entre os episódios, o caso do AF 447 não é
citado no relatório de investigação. O BEA, no entanto, acompanhou as
apurações do novo caso.
Fotos no relatório do Cenipa apontaram os tubos pitot fechados pelo plástico do balão (Foto: Cenipa/reprodução)
A investigação da Aeronáutica apontou o balão como o principal fator
que contribuiu para o incidente. O piloto e o copiloto da aeronave de
prefixo PT-MZC não adotaram as atitudes devidas, desconsideraram os
alarmes e também não avisaram os órgãos responsáveis pelo controle aéreo
que estavam sem indicadores de velocidade confiáveis, diz o relatório.
A FAB constatou ainda que, mesmo após o acidente da Ar France,
a TAM não tinha em seu programa de operações treinamento para os
pilotos entenderem o que estava acontecendo com o avião quando há perda
de informações confiáveis de velocidade. O G1 questionou a TAM sobre os problemas levantados no relatório e aguarda retorno.
Mesmo sem informações sobre a velocidade até o pouso, o Airbus chegou
ao destino e ninguém ficou ferido. Segundo o Cenipa, um acidente só não
ocorreu porque as condições visuais eram boas. Ao contrário do acidente
da Air France, em que uma tempestade e a escuridão da noite contribuíram
para que os pilotos não conseguissem reverter a situação, os pilotos da
TAM voavam durante o dia e com um tempo bom, sem nuvens que os
atrapalhassem.
Relatório do Cenipa mostrou que parte plástica de balão ficou presa na asa de Airbus da TAM (Foto: Cenipa/reprodução)
Durante a apuração, a companhia aérea informou aos investigadores que
adotou as correções determinadas para que os pilotos tivessem melhor
capacitação para identificar a ausência de informações verdadeiras de
velocidade e que decisões tomar em relação a isso em todas as etapas do
voo.
Colisão com balão
Segundo a investigação do Cenipa, os controladores do Rio informaram à tripulação, no momento da decolagem, que havia balões de ar quente na região, mas piloto e copiloto perceberam o balão tardiamente. Eles acionaram, então, ao mesmo tempo, os controles, tentando evitar a colisão.
Segundo a investigação do Cenipa, os controladores do Rio informaram à tripulação, no momento da decolagem, que havia balões de ar quente na região, mas piloto e copiloto perceberam o balão tardiamente. Eles acionaram, então, ao mesmo tempo, os controles, tentando evitar a colisão.
O banner de plástico do balão cobriu três sensores de velocidade e um
sensor de temperatura externa. Assim como ocorreu com o caso do AF 447, o
fechamento dos pitots fez com que a cabine recebesse informações
discrepantes de velocidade, e o piloto automático se desconectou.
Da mesma forma que ocorreu no acidente com o voo da Air France, o Airbus passou de um sistema em que possui todas as proteções (chamado de “normal law”) para um que modo de voo em que não há mais proteções automáticas de voo (denominado “alternate law”), permitindo que o piloto faça qualquer tipo de ação.
Da mesma forma que ocorreu no acidente com o voo da Air France, o Airbus passou de um sistema em que possui todas as proteções (chamado de “normal law”) para um que modo de voo em que não há mais proteções automáticas de voo (denominado “alternate law”), permitindo que o piloto faça qualquer tipo de ação.
Na queda do AF 447, os pilotos, sem saber que estavam em alternate law,
tomaram atitudes bruscas, elevando o bico da aeronave, provocando a
perda de sustentação que levou à queda do avião.
O Cenipa identificou ainda que o comandante disse para o copiloto
desconsiderar os alarmes sobre as discrepâncias de velocidade,
importantes para entender o que estava acontecendo, e que o comandante
também falhou ao não declarar “qualquer tipo de emergência, contingência
ou prioridade para pouso”. Também havia pouca familiaridade do copiloto
com as tabelas nas telas que deviam ser checadas durante a situação,
segundo o relatório.
O texto da investigação diz que, ainda em 2011, ao ser notificada pelo
Cenipa, a TAM respondeu “que existe atualmente um projeto de
desenvolvimento perante o programa de treinamento de pilotos de forma
que o tripulante venha a ter um periodicidade semestral no simulador” e
que cumpre as normas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) sobre a
questão.
Segundo o relatório, a Diretoria de Segurança Operacional da companhia
respondeu, em setembro de 2011, que cumpriu todas as orientações
corretivas determinadas pelo Cenipa para que os pilotos e copilotos
tenham o treinamento para perda do pitot.
fonte/G1
Comentários