VALOR DO ALUGUEL DERRUBA COMÉRCIO NO AEROPORTO SALGADO FILHO
Loja
de importados Dufry cerrou pela última vez as cortinas de ferro no
segundo piso do terminal principal em razão do custo de locação, que
subiu para R$ 95 mil por mês
Foto:
Ricardo Duarte / Agencia RBS
Erik Farina
Dois anos depois da rodada de licitações da Infraero que culminou no
reajuste do aluguel para lojas do aeroporto Salgado Filho, aparecem
indícios de que parte dos negócios não conseguirá sobreviver aos novos
valores. Nesta terça-feira, fechou as portas a loja de importados Dufry
que operava no segundo piso do terminal principal. Cinco meses antes,
foi o restaurante Hangar.
A Dufry havia renovado o contrato em 2009, após participar de pregão
eletrônico do qual saiu vencedora ao propor aluguel de R$ 95 mil. Até
então, o valor mensal era de R$ 19 mil. Com os reajustes previstos no
contrato, o pagamento já estava em R$ 105 mil, valor que somado às taxas
de iluminação, lixo e outras cobradas pela Infraero chegava a R$ 110
mil mensais.
Além da disparada na despesa, a Dufry sofreu com o lento crescimento
da economia. Desde a renovação do aluguel, a loja não havia conseguido
lucro um mês sequer. Conforme profissionais próximos da empresa, o
operação do Salgado Filho foi a primeira da rede Dufry a fechar em um
aeroporto no país.
O caso não é isolado. Há cinco meses encerrou as atividades o
restaurante Hangar, que operava no terceiro pavimento desde a
inauguração do terminal 1. Após o pregão eletrônico em 2011, que o
Hangar só conseguiu vencer depois de embate na Justiça, o aluguel passou
de cerca de R$ 40 mil para R$ 150 mil.
– Redução no quadro de funcionários, negociação de prazo com
fornecedores, pesquisa de mercado, promoções, fabricação própria de
lanches, nada, absolutamente nada foi capaz de deter um aluguel mensal
abusivo – desabafa Simone Crespo Pilla, que administrava o Hangar, em
carta à Redação de Zero Hora.
Outras lojas passam pelo desafio de fechar o mês no azul. Conforme o
gerente de um restaurante no aeroporto, o alto valor do aluguel o obriga
a cobrar muito mais caro pela alimentação do que cobraria em um
shopping center. Conforme os lojistas, outros dois negócios estariam na
iminência de fechar as portas nas próximas semanas: uma loja de
vestuário e outra lanchonete. Procurada para falar sobre o valor do
aluguel e o destino dos espaços comerciais que vagaram, a Infraero em
Porto Alegre não se manifestou.
Disputa entre grandes empresas inflaciona preços
O alto valor dos aluguéis no aeroporto pressiona o preço de produtos e
serviços, e quem sofre são os passageiros que passam pelo Salgado
Filho. O engenheiro carioca Juliano Medeiros Filho aguardava na tarde de
ontem voo para o Rio de Janeiro, e se disse surpreso com o valor dos
lanches. Por um cappuccino e um pão de queijo, pagou R$ 11.
– O valor descola totalmente da realidade do comércio de Porto
Alegre. Mas esse é um problema de praticamente todos os aeroportos no
país – afirma Juliano.
Nem precisa ser de outro Estado para se surpreender com os preços no
aeroporto da Capital. Em lojas de lembrancinhas, um cuia simples e uma
bomba sem ornamentos custam R$ 43,50. Almoçar em um bufê significa
desembolsar o equivalente a R$ 52,90 o quilo. Quem estiver com voo
atrasado e queira aproveitar para fazer as unhas terá de pagar R$ 23 a
uma manicure.
– Temos de dobrar o preço do produto em relação ao que pagamos ao
fornecedor para cobrir as despesas – afirma Elaine Pereira, gerente da
loja de artesanato Tapera.
O alto valor dos aluguéis nos aeroportos brasileiros está associado a
licitações que já começam em valores elevados e à entrada de
concorrentes que já têm outras lojas no mesmo terminal, e portanto podem
reduzir a margem de lucro de alguma delas, conforme especialistas em
varejo.
No caso do restaurante Hangar, que fechou no ano passado, o valor da
disputa disparou em razão da entrada de um empresário que já tinha um
restaurante no Salgado Filho. Além disso, os espaços em aeroportos são
considerados nobres em razão do público de alto poder aquisitivo que
costuma atrair, o que chama grandes empresas nos pregões, inflando o
valor final.
– Além do aluguel, há outras taxas previstas em contrato que elevam o
custo aos lojistas – explica Vilson Noer, presidente da Associação
Gaúcha para o Desenvolvimento do Varejo (AGV).
Menos opção
Em 2011 venceram contratos de 28 lojas, mas apenas 17 renovaram,
em razão do reajuste elevado. As demais foram licitadas novamente. Nos
últimos anos, algumas opções de comércio ou lazer desapareceram do
Salgado Filho:
Cinema, poltronas reclináveis, joalheria, loja de artigos infantis e agência do Banco do Brasil
O custo médio mensal do aluguel para o comércio (R$/m2)Comercio de rua na Azenha ou Assis Brasil: 50 a 70
Comércio de rua no Centro: 80 a 120
Shopping Center para classe média: 250 a 280
Shopping Center para classe média alta: 280 a 330
Aeroporto Salgado Filho: 350 a 520
Comércio de rua no Centro: 80 a 120
Shopping Center para classe média: 250 a 280
Shopping Center para classe média alta: 280 a 330
Aeroporto Salgado Filho: 350 a 520
fonte/ZeroHora
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