AÇÃO POPULAR QUER EMBARGAR OBRA DO NOVO AEROPORTO DE NATAL
O aeroporto São Gonçalo do Amarante, na grande Natal (RN), pode ter a
obra embargada caso a Justiça Federal acate um pedido de liminar de uma
ação popular que questiona, entre outras questões, o processo de
desapropriação do terreno e a falta de compensação pelos danos
ambientais da obra.
"Não somos contra o aeroporto mas somos contra esse projeto de arremedo
de aeroporto", diz o sociólogo potiguar Paulo Araujo, consultor em
planejamento sócio-ambiental e autor da ação popular.
Araujo foi declarado "persona non grata" por políticos locais desde que
ingressou com a ação na Justiça Federal no Rio Grande do Norte na semana
passada. A obra está sob responsabilidade do consórcio argentino
brasileiro Inframerica, que venceu a concessão para construir e
administrar o aeroporto até 2038.
Depois de atrasos no licenciamento ambiental, as obras, que custarão R$
450 milhões, financiados, em sua maior parte, pelo BNDES, tiveram início
em março. O concessionário promete entregar o aeroporto em março de
2014, em tempo para a Copa do Mundo.
Localizado a cerca de 40 quilômetros do centro de Natal, o aeroporto vai
substituir o Aeroporto Internacional Augusto Severo, que fica em
Parnamirim, a 18 quilômetros de Natal.
A estrada que vai ligar Natal ao novo aeroporto ainda nem foi licitada.
Hoje o percurso é feito em uma pista de duas mãos com uma faixa no meio
até o quilômetro. O resto é estrada de terra.
DESAPROPRIAÇÕES
O projeto de construção do novo aeroporto tem mais de 15 anos, quando
tiveram início as desapropriações de terreno. Mais de 70% da área
desapropriada ainda não foi indenizada por divergências de valores.
O governo ofereceu inicialmente 10 centavos pelo metro quadrado, segundo
o advogado Igor Santos Steinbach, que representa Araujo na ação
popular.
Steinbach argumenta que a ordem de desapropriação está baseada em uma
liminar obtida pela Infraero e pelo governo estadual, mas que esse
direito não se estende ao concessionário.
"Não foi feito nenhum convênio para transferir a liminar para o
concessionário, que deverá arcar com as indenizações", diz o advogado.
COMPENSAÇÃO AMBIENTAL
O licenciamento ambiental da obra também foi feito em nome da Infraero,
que não tem mais relação com o aeroporto. "A legislação determina que
seja feita uma compensação equivalente a 0,5% do investimento no caso de
projetos de significativo impacto ambiental", diz Araujo.
Segundo ele, o aeroporto está sendo construído em uma área antes ocupada por Mata Atlântica nativa.
O projeto original da Infraero para São Gonçalo do Amarante previa uma
obra com capacidade para 40 milhões de passageiros --o aeroporto de
Guarulhos opera com 32 milhões de passageiros/ano--, com a promessa de
tornar o aeroporto um grande centro de distribuição de mercadorias para
Ásia, Europa e Estados Unidos.
Mas apesar de políticos locais ainda se referirem à obra com a mesma
grandiloquência do projeto original, o projeto concedido à iniciativa
privada no primeiro leilão de privatização do setor prevê uma capacidade
de 6,2 milhões de passageiros/ano na primeira fase. A partir de 2024, a
capacidade deverá ser ampliada para 11 milhões de passageiros/ano.
A ação popular tem como alvo a União, a Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) e a Engevix, empresa brasileira que integra o consórcio
Inframerica.
Procurado, o consórcio Inframerica disse que não foi notificado. "Após
ser notificado, o consórcio tomará as medidas judiciais cabíveis", disse
o grupo em nota.
A Inframerica diz ainda que as obras estão acontecendo em três turnos, com 1.180 funcionários.
Já a obra da estrada que ligará o aeroporto ao centro de Natal está
prevista para maio de 2014. A ordem de serviço foi assinada pela
governadora Rosalba Ciarlini no início de abril. A obra consiste em
33,27 quilômetros de pista dupla e vai custar R$ 73 milhões, financiados
pela Caixa Econômica Federal.
fonte/FolhaSP
Comentários