CONSTRUÇÃO DO AEROPORTO DE VACARIA DEMOROU TANTO, QUE PROJETO PERDEU SENTIDO
Ex-diretor do Departamento Aeroportuário do Estado (DAP) no governo Pedro Simon, o engenheiro Fernando Bizarro lembra que o aeródromo de Vacaria nasceu para impulsionar os negócios na região. Integrava um plano maior para dotar o Estado de linhas aéreas regulares. Mas os entraves burocráticos, as licenças ambientais, os desacordos com as empreiteiras provocaram sucessivos atrasos.
– As obras demoram tanto para acontecer que, quando ficam prontas, as circunstâncias já mudaram – lamenta o ex-diretor do DAP.
Bizarro observa que o mesmo ocorreu com o aeroporto de Torres. À época do projeto, milhares de argentinos frequentavam o Litoral Norte, inclusive comprando imóveis. Imaginava-se que poderiam chegar ao balneário em voos charter (fretado por uma empresa para destinos turísticos), mas a crise argentina cortou a migração dos hermanos.
Reunião em Brasília define Caxias como prioridade
A organização Contas Abertas se manifestou sobre o aeródromo de Vacaria, que ficou com uma pista de R$ 20 milhões perdida no meio do campo – como ZH mostrou na edição de quinta-feira. Diretor executivo da entidade, Gil Castello Branco critica que o caso evidencia a "incompetência dos gestores" desde o planejamento até a execução da obra:
– Foi um ônus para uma geração, mas sem significar um bônus para a geração seguinte. Infelizmente, mais um desperdício de recursos públicos.
Castello Branco diz que os governos posteriores poderiam ter redirecionado o projeto, ajustando-o à nova realidade. Não foi por falta de avisos. Em 2003, o Plano Aeroviário do Estado, aprovado pelo Comando da Aeronáutica, informou que a região serrana de Vacaria tinha apenas 2% do total da população e 1,7% do PIB gaúcho, o que "denota sua pouca expressão econômica".
Nesta sexta-feira, em Brasília, o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Caleb de Oliveira, tratou dos R$ 310,8 milhões que o governo federal investirá em 15 aeroportos gaúchos. Não foi definido quanto será aplicado em cada terminal, mas Caxias do Sul está entre as prioridades. Caleb recebeu garantias de que não faltarão recursos adicionais, caso a verba total seja insuficiente.
Corrida de obstáculos
O ex-diretor do DAP Fernando Bizarro, que acompanhou o projeto do aeroporto de Vacaria desde o início, relata a trajetória da obra:
Governo Simon
Em 1987, lança o projeto que inclui os aeroportos de Torres, região das Hortênsias (Gramado e Canela) e Caxias do Sul. A ideia é dotar o Estado de linhas aéreas regulares, conectadas ao país.No caso de Vacaria, acredita-se que será útil para o transporte de maçãs.
É feita a desapropriação da área, mas a obra esbarra no primeiro obstáculo. É preciso remover uma bateria de foguetes antigranizo (evita danos aos pomares), situada perto do aeródromo.
Governo Collares
O projeto fica em espera.
Governo Britto
Seguem estudos do projeto.
Governo Olívio
Terraplenagem é paralisada. Construtora alega que o solo é mole, e exigiria mais gastos. Governo suspende obras.
Governo Rigotto
Continua o impasse em torno do solo e de questões ambientais.
Governo Yeda
Retoma a obra e conclui o asfaltamento da pista, com investimento de R$ 20 milhões, principalmente do governo federal.
Com a produção em larga escala e preço mais atrativo, a maçã é transportada de caminhão ou navio para ser competitiva em relação às concorrentes. O preço subiria muito se fosse utilizado o transporte aéreo.
Governo Tarso
Aeroporto recebe autorização da Anac para a operação apenas de aviões particulares. Não pode funcionar com linhas comerciais de passageiros ou de cargas. Promete concluir o terminal, mas encolhendo o tamanho em relação ao projeto original.
fonte/ZeroHora/foto/CacoKonzen
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