ACERVO DO MUSEU DA VARIG PODE IR A LEILÃO
Foto:
Diego Vara / Agencia RBS
Orgulho dos gaúchos durante décadas, a história da Varig corre o risco de não ser conhecida pelas gerações futuras. O acervo do museu da companhia, fechado desde 2006, pode ir a leilão no próximo ano para o pagamento de dívidas.
Mesmo que a reabertura do local seja intenção dos gestores da massa
falida, as negociações para que uma organização pública ou privada
assuma o material não evoluíram nos últimos anos.
Situado em um hangar na área do aeroporto Salgado Filho, em Porto
Alegre, e cercado por um muro, o local abriga peças de valor inestimável
para a aviação brasileira, como o primeiro bilhete emitido pela Varig, o
primeiro simulador de voo e antigos uniformes da companhia que reinou
durante anos no céu do Brasil.
Conforme os atuais gestores da massa falida da companhia, responsável
pela guarda do museu, a maioria dos itens está protegida por redomas de
vidro, como ocorria quando o local estava aberto ao público e visitas
periódicas são realizadas para manutenção e limpeza.
A peça que desperta maior interesse, porém, é o antigo DC-3, prefixo
PP-ANU, que repousa em um terreno do estacionamento de uma empresa de
guindastes. A fuselagem está em bom estado de conservação, mas a
aeronave apresenta sujeira e musgo, resultado da ação do tempo. O acesso
à cabine está protegido por um cadeado, mas é possível notar a
necessidade de reforma nas poltronas. Todos os meses aparecem pessoas —
inclusive do Exterior — pedindo para acessar o terreno e tirar fotos do
avião.
Ao lado do DC-3 está um tanque extra de combustível de um avião Super
Constellation, utilizado para longas distâncias. Ao lado do avião há
duas placas de bronze. Em uma delas, está uma frase do ex-presidente
Getúlio Vargas que diz: "A aviação é a predestinação histórica dos
brasileiros".
A reabertura do espaço, no entanto, não será fácil. O acervo está sob
o controle da massa falida da empresa e o processo judicial está na 2ª
Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), aos
cuidados da juíza Márcia Cunha. Os interessados em assumir o museu devem
encaminhar um projeto, que será analisada pela juíza e pelos
representantes dos credores. Segundo o gestor judicial da massa falida
da Varig, Jaime Canha, nada foi formalizado até agora e se a questão não
evoluir, o acervo corre o risco de ser leiloado no primeiro semestre do
próximo ano.
— Nossa intenção é que todos esses itens sejam assumidos por alguém
que tenha responsabilidade e cuidado adequado. A memória da Varig
agradeceria isso — afirmou.
Atualmente, existem cerca de 10 mil credores trabalhistas da antiga
Varig e desde dezembro passado começaram os leilões de bens da empresa
para o pagamento de dívidas. O valor arrecadado no último leilão,
realizado em junho, foi de R$ 22,6 milhões, envolvendo basicamente a
negociação de imóveis. Na ocasião, seis aeronaves sucateadas (modelos
Boeing 727 e 737) foram adquiridas por R$ 153 mil. Em outubro, devem ser
leiloados outros imóveis da empresa.
PUCRS tem interesse no acervo
Disposição para assumir o acervo é o que não falta para o diretor da
Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS, professor Elones Ribeiro. A
ideia surgiu logo após o encerramento das operações da Varig e a
universidade chegou a formalizar uma carta de intenções, mas o processo
não avançou. Os itens ficariam dentro do Museu de Ciência e Tecnologia
da instituição de ensino.
O antigo avião DC-3 seria recuperado e colocado em frente ao prédio.
Além disso, o material também serviria para os alunos da disciplina de
História da Aviação, dentro da faculdade. Os recursos para viabilizar o
projeto seriam obtidos com fundos de pesquisa.
— Gostaríamos de trazer todo o material para a universidade, pois
tudo o que está no museu é muito importante para a história da aviação
comercial brasileira — ressalta o professor.
Também para a memória do povo gaúcho a reabertura do museu seria
fundamental, conforme assinala a coordenadora da Comissão de Graduação
da Faculdade de Museologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Lizete Dias de Oliveira. Segundo a professora, a capital gaúcha
conta com um bom número de museus, mas o espaço seria um acréscimo
substancial.
— A Varig foi uma empresa muito importante para o nosso Estado e por
isso seria relevante dispor de um museu que reconte a história da
companhia e demonstre a relevância dessa instituição no Brasil e no
século 20 — enfatiza.
fonte/ZeroHora
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