UM CORPO NOVO NA PAISAGEM DA RAMPA
Revitalizar a área da Rampa, em Santos Reis, é um projeto de importância incontestável e alvo de uma discussão antiga. Após mais de dez anos de especulações, debates e tentativas, foi anunciada oficialmente na semana passada a liberação de recursos - via Prodetur/RN e Secretaria Estadual de Turismo - que levaria a aguardada revitalização à frente. No entanto, nem todos estão satisfeitos com as projeções estabelecidas às reformas por vir. Questionamentos sobre respeito ao patrimônio histórico e seus limites já começaram a ser feitos, muito antes de as obras terem data para iniciar.
Aldair Dantas
Obra do Centro Cultural da Rampa inclui Museu e o Memorial do Aviador, um prédio de estrutura alta que, antes mesmo de ser construído, já tem sido alvo de críticas.
O chamado Centro Cultural Rampa dispõe de um orçamento de oito milhões de reais em recursos do Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), com licitação prevista para os próximos 40 dias. As obras incluiriam o Museu da Rampa e a construção do Memorial do Aviador - e é neste apêndice que reside a insatisfação de alguns. Paulo Heider, arquiteto da Fundação José Augusto há mais de 30 anos, acha que a construção de um novo prédio comprometeria a integridade do sítio histórico. "Eles tratam aquele local como um mero terreno. Mas é um espaço que precisa ser preservado", afirma.
O terreno - que pertence atualmente ao Estado - foi ponto das primeiras viagens de hidroaviões em Natal no começo do século XX, e utilizado inicialmente como estação de passageiros da Panair do Brasil. No final dos anos 30 foi construído o declive para facilitar o acesso dos hidroaviões, surgindo daí o nome 'rampa'. Em 1943, com o encontro dos presidentes Franklin Roosevelt e Getúlio Vargas, o local se tornou base aérea militar.
Paulo Heider: "É como se asfixiasse a paisagem"
A questão para Paulo Heider é clara. "A própria legislação do Estado definiu que em um espaço tombado não se pode construir nada que afete a visibilidade do local. É o que aconteceria com a Rampa. Eu considero uma agressão. E minha opinião é endossada pela legislação", diz. O arquiteto da FJA acredita que o novo prédio se sobressairia ao antigo, diminuindo sua importância e prejudicando a visualização original da área. "É como se asfixiasse a paisagem. É algo do porte de um elefante branco", ressalta.
O novo prédio seria construído na área que já foi usada como estacionamento e atualmente é um pátio de asfalto abandonado. O Memorial do Aviador que está na maquete é um prédio térreo, de aspecto moderno, grandes janelas, recepção e bilheteria, dispondo de auditório para 126 pessoas, espaço em homenagem aos aviadores e promoção de eventos culturais, área de administração e instalações sanitárias. A área antiga da Rampa teria áreas de exposições temporárias e permanentes, bar temático, loja de souvenir, e espaço externo com uma área de contemplação do Rio Potengi, estacionamento para carros próprios, táxis, guias, ônibus de turismo, calçadão à beira-rio e outros equipamentos.
Segundo Paulo, as reformas deveriam ser apenas práticas. "Uma guarita, uma parede para banheiros, algo assim. Acredito que recuperar é fundamental, mas enxertar um prédio enorme e invasivo é outra história", diz. Para ele, a homenagem aos aviadores poderia ser feita de outras formas. "Poderiam transferir a coluna capitolina para lá, por exemplo. Tem a ver de fato com a época e ficaria muito bonito", afirma. "Sei que estou fazendo barulho sozinho, mas sigo achando que podem haver outras soluções", ressalta.
Jeane Nesi, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, também compartilha de ideia parecida sobre o memorial da Rampa. "Minha opinião, apenas como arquiteta, é de que o novo prédio competiria com o antigo, e venceria. Ele tem proporções enormes, e prejudicaria a visibilidade em certos ângulos. O entorno da área também deve ser considerado", analisa. Segundo ela, a questão é doméstica. "O terreno é do Estado e o próprio governo permite essa construção. É algo que deve ser resolvido entre eles", ressalta.
Carlos Dantas: "O sítio original já não existe mais "
O arquiteto Carlos Ribeiro Dantas, responsável pela elaboração do projeto, afirma que o novo centro cultural não descaracteriza a Rampa, pois tudo foi realizado dentro dos conformes e possibilidades. "O sítio original não existe mais como antigamente, pois foi dividido entre o distrito naval e o Estado. Uns 2/3 dele não existe mais como um sítio completo. Minha ideia era não descaracterizar o prédio antigo, mantendo-o isolado, e fazer um prédio novo que atenderia às novas funções", explica.
Carlos Dantas ressalta que seu projeto foi apresentado em público, conforme a lei, discutido e aprovado. "Apresentei tudo há dois anos, em audiência pública. Quem se incomodou, deveria ter reclamado na época", disse.
Ele reafirma seu respeito pela Rampa e sua história, enfatizando que não vê nada de agressivo no projeto. O assessor de comunicação da Fundação Rampa, Leonardo Dantas, diz que durante um ano participou de discussões sobre o assunto, e não soube de reclamações. "Entendo a questão da visibilidade, mas seria preciso um espaço novo de qualquer forma. Há tempos esperamos algo concreto sobre a Rampa, e finalmente está acontecendo", afirma.
O secretário estadual adjunto de turismo, George Lima de Oliveira, entende que as divergências fazem parte do processo, e tudo ainda pode ser discutido. "Nestes casos, solicitamos ao arquiteto um parecer através de relatório sobre as revisões que ele propõe serem feitas. Os pontos devem ser debatidos até se chegar à melhor conclusão para todos", diz. Também foi posta em discussão as reformas relativas ao Centro de Turismo, para questões de acessibilidade. Segundo ele, no caso da Rampa, já foi obtida a licença junto ao Idema, necessária para para o lançamento da licitação.
UMA NOVELA NA RAMPA
Rumores atestam que em 2013 Natal se tornará cenário de novela: "O Caribe é aqui", título provisório do folhetim escrito por Walter Negrão, seria rodada em Natal, tendo um piloto da FAB como personagem principal. Leonardo Dantas, da Fundação Rampa, afirma que tudo ainda é boato, e nada foi confirmado. "Até agora não fomos procurados. Mas se a novela está em fase de roteiro, deve haver tempo para isso. Não sabemos se seria uma novela de época, passada na II Guerra, ou nos dias de hoje. Seria ótimo se fosse verdade, pois a Globo tem padrão de qualidade", explica. Se a Rampa estiver diferente de 70 anos atrás, restarão os efeitos especiais..."
fonte/foto/TribunaDoNorte
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