HÁ 50 ANOS, DISTRITO FEDERAL VIVIA SEU PRIMEIRO DRAMA AÉREO



 (Reprodução/ Edilson Rodrigues/CB/D.A Press )



O anoitecer de 27 de setembro de 1961 registrava uma movimentação incomum no acanhado terminal provisório do Aeroporto Internacional de Brasília. Mesmo com poucos desembarques previstos, jornalistas e centenas de admiradores de um líder político em ascensão, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, aglomeravam-se no local. A bordo do Caravelle PP-VJD da Varig, que fazia o voo 592-J, Brizola foi avisado pelo comandante que a aterrissagem ocorreria em breve. Quando isso ocorreu, porém, às 18h32, os 63 passageiros e os nove tripulantes sentiram um impacto brutal. Em seguida, ouviram um estrondo. Minutos mais tarde, salvos, mas muito assustados, viram o avião ser destruído pelo fogo.


O primeiro acidente aéreo da história da nova capital — em perdas materiais, o maior da aviação comercial brasileira até então — completa 50 anos na terça-feira. Sem deixar vítimas, trouxe a certeza de que só por muita sorte se evitara uma tragédia que, além do abalo emocional, provocaria fortes repercussões políticas — o país saía da crise da renúncia de Jânio Quadros, além da tentativa de impedir a posse de João Goulart. Brizola, líder da Campanha da Legalidade, encerrada apenas 20 dias antes, era o nome mais em evidência, mas o Caravelle transportava também três ministros, diversos deputados e alguns jornalistas. “Nascemos de novo”, escreveu no dia 30, no Correio Braziliense, um dos sobreviventes, o repórter Elton Campos, dos Diários Associados.

 (Reprodução/ Edilson Rodrigues/CB/D.A Press )

Os relatos divergem sobre o momento exato em que começaram os problemas do voo 592-J. À época, o fotógrafo Carlos Contursi, que integrava a comitiva do governador, contou ter ouvido, pouco antes do pouso, gritos de passageiros que viajavam mais atrás, alertando que o avião estava em chamas. Em seguida, sentiu um choque violentíssimo contra o solo, viu bagagens de mão caindo dos compartimentos e pensou que o Caravelle iria se desintegrar.

Uma informação da Varig, divulgada na mesma noite, confirmou a versão de incêndio na turbina esquerda, que teria sido controlado antes da aterrissagem. Mas o relatório oficial da investigação realizada pela Guarnição Aérea de Brasília negou a ocorrência de problema técnico e atribuiu o acidente a falha do piloto, por ter feito uma tomada de pista muito curta, permitindo o toque no solo antes do início da área asfaltada. A quebra do trem de pouso e o fogo causado por vazamento de querosene viriam como consequências do erro humano.

Desembarque
Apesar das conclusões das investigações do acidente, foi a quebra do trem de aterrissagem que gerou o primeiro estrondo — relatado por todos — e impediu que o avião seguisse o curso normal. O Caravelle logo subiu alguns metros, atingiu de novo o chão com força e deslizou, desgovernado, para o lado esquerdo. O piloto tentou controlá-lo movendo a roda dianteira e usando os freios, mas a manobra revelou-se inútil: o aparelho seguiu derrubando as balizas laterais, saiu da pista e, já com fogo nos dois lados da fuselagem, parou a 800 metros do local em que tocara pela primeira vez o solo.

Dentro do avião, o tumulto era geral. Porém, segundo vários testemunhos, não havia pânico. Brizola levantou-se rapidamente, enquanto o secretário de Imprensa do Rio Grande do Sul à época, Hamilton Chaves, gritava para que o comissário de bordo abrisse a porta (leia depoimentos). A maioria dos passageiros escapou pela saída de emergência localizada sobre a asa direita (à esquerda, o fogo era mais forte). Os demais, pela porta dianteira. O então ministro da Saúde, Estácio Souto Maior, salvou documentos oficiais do órgão. E o deputado Josué de Castro ajudou uma passageira a desembarcar em meio às chamas.


Heróis
A fuga do avião não era mesmo fácil. Passando pela janela de emergência, o passageiro tinha de escorregar sobre a asa e, então, pular para o chão. Se tentasse deixar a aeronave pela porta da frente, a altura era maior. Quase todos chegavam ao solo e fugiam correndo, pois ouviam-se gritos de advertência: “Vai explodir!”. Depois, muitos acabaram voltando para auxiliar os demais.

Única mulher na tripulação, a comissária de bordo Therezinha Xavier Braga ficou até os últimos momentos para ajudar na retirada dos passageiros. Foi também a única ferida: sofreu queimaduras leves na mão e recebeu atendimento no Hospital Distrital de Brasília.

Segundo o Correio do dia seguinte, ela e o mecânico de voo Gaspar Baltazar Ferrario foram “os heróis do episódio”. Após ajudar vários passageiros, Ferrario certificou-se de que o avião estava vazio e tentou salvar os livros de bordo. Outro tripulante, o 1º comissário Siegfried Diefenthaeler, contou, em depoimento à Aeronáutica, que auxiliou diversos passageiros, entre eles uma mulher com uma criança. Depois, fez duas verificações em toda a cabine, inclusive nos lavatórios, para ter a certeza de que não havia mais ninguém no avião.

Espalhados pelas imediações da aeronave em chamas, passageiros e tripulantes assistiam à chegada dos bombeiros, em dois caminhões. A certa altura, parecia que eles tinham conseguido controlar o incêndio, mas logo as labaredas voltaram. Foi então que faltou pressão nas mangueiras de um dos veículos. Quando, afinal, o fogo acabou, já não adiantava: uma hora depois de tocar o solo, o Caravelle PP-VJD estava destruído.

fonte/foto/CorreioBrasiliense

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