PRIMEIRO CONTROLADOR DE TRÁFEGO AÉREO NO PAÍS QUERIA SR MECÂNICO
Foto da turma dos primeiros controladores de vôo no país, de 1945; Francisco aparece deitado
Francisco Drezza, de 82 anos, se tornou controlador de tráfego aéreo por acaso. Um dos integrantes da primeira turma de controladores formada pela Força Aérea Brasileira, ele queria, na verdade, ser mecânico. Um exame psicotécnico para ingressar na escola militar, entretanto, mudou o rumo de sua vida e o levou às torres de controle, onde ele ficou por 28 anos, um mês e nove dias. Apesar da idade, ele lembra de todas as datas de sua carreira.
“Em 1944, ninguém sabia o que era (a profissão). Foi o começo. Por causa da guerra, o Brasil importou uma escola especializada em aviação. Mandaram muitos aviões para cá”, conta. Mecânico de formação, ele queria trabalhar em aviação, mas o exame de especialização apontou que ele seria um bom controlador.
Drezza concluiu o curso em 03 de março de 1945, com a maior nota da turma de 11 pessoas. “O nosso time era muito bom e, segundo o mestre americano Robert Behall, a nossa turma foi a melhor do mundo que ele encontrou”, lembra.
O primeiro trabalho surgiu com a inauguração da torre de controle de Congonhas, em 27 de maio do mesmo ano da formatura. Na época, o trabalho era feito de maneira precária. “Era feito através da radiofonia, a gente entrava em contato com o piloto”, conta. Mas os pilotos não gostavam de obedecer. “No começo, os pilotos estavam acostumados a fazer o que bem entendiam e não queriam controle nenhum.”
Um ano depois, Drezza testemunhou da torre em Congonhas um acidente com um bimotor, o mais grave de sua carreira. Era um modelo Loadstar que voava com apenas um dos motores. O piloto baixou o trem de pouso antes do previsto, o que desestabilizou o avião. “Ele baixou, bateu e matou toda a família”, conta, sem recordar ao certo quantas pessoas estavam na aeronave.
O pequeno tráfego aéreo da época, entretanto, fazia com que houvesse poucos acidentes. O controlador lembra que, nos primeiros anos, cerca de 30 aeronaves pousavam e decolavam de Congonhas, contra mais de 600 de hoje. “Hoje é mais difícil por causa do volume”, acredita Drezza.
Ele conta que já naquela época o estresse era um problema para os controladores de vôo, que faziam um turno de seis horas. “Se você não mantiver o bom humor, você fica estressado em dois tempos. Você tem responsabilidade por vidas. Muitos colegas morreram muito mais cedo por causa disso”, afirma.
Drezza está aposentado desde a década de 70, mas acompanha as notícias sobre a operação-padrão dos profissionais da área. “Essa crise está pondo em evidência o controle de vôo que era absolutamente ignorado. O mundo está sabendo que o controlador de vôo existe”, diz.
Outra crítica do controlador é em relação ao baixo salário, problema tão antigo na profissão quanto ele. Para sustentar a família, ele tinha que trabalhar também como desenhista. “(O salário) é terrivelmente pouco, obriga as pessoas a trabalhar em outras coisas”, conta.
Apesar disso tudo, ele não se arrepende da profissão que o exame psicotécnico o deu. “A profissão é maravilhosa, não é aquele arroz com feijão de todo dia. Faria outra vez com prazer.”
fonte/G1/arq2006
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