TU-144, O CONCORDE SOVIÉTICO





Em meados dos anos 60 acreditava-se que a próxima revolução no transporte de passageiros se daria através dos voos supersônicos, tal como havia ocorrido com a entrada em serviço dos primeiros jatos comerciais, nos anos 50. Começou então uma verdadeira corrida entre os maiores fabricantes da época para ver quem apresentava seu primeiro avião comercial supersônico.

No final da década, apenas três concorrentes estavam no páreo, todos com pesados investimentos dos governos de seus países enquanto a Guerra Fria comia solta. As três competidoras eram: a norte-americana Boeing, o consórcio franco-britânico formado pela Aerospatiale e pela BAC e a russa Tupolev.

A Boeing, com seu ousado Boeing 2707 de asas com geometria variável, acabou abandonado a corrida antes mesmo da conclusão dos protótipos devido a diversos problemas de engenharia, alto custo do projeto e atrasos consecutivos no cronograma. A Aerospatiale e a BAC apresentaram seu avião em 1969, o batizaram de Concorde, o colocaram em operação e o resto é história. No meio dessa história, houve o Tu-144.



Apesar de nunca ter tido sucesso operacional, o Tupolev Tu-144 projetado pelos soviéticos voou pela primeira vez em 1968, mais de dois meses antes que o Concorde. Trata-se, portanto, do primeiro avião de passageiros supersônico de fato. A nova máquina era tão acima dos limites que um dos protótipos chegou a ser equipado com assentos ejetáveis para a tripulação.

Maior e mais largo que o Concorde, tinha 65 metros de comprimentos e era capaz de transportar até 140 pessoas a Mach 2.0, equivalente a 2.142 km/h. Seu alcance deveria ficar entre 5 mil e 6 mil quilômetros, dependendo da carga. De aerodinâmica refinada, com nariz de incidência variável e canards (asas auxiliares dianteiras), ele também se valia da filosofia russa de projeto aeronáutico: com muita vodka e um motor forte o suficiente, qualquer coisa pode voar.



Apelidado de Concordski, devido à semelhança com seu concorrente do lado de cá do antigo muro de Berlim, o avião foi apresentado ao mundo no show aéreo de Paris de 1973. 

Durante um dos voos de demonstração, efetuou uma manobra mais brusca e foi ao chão, matando seis pessoas a bordo e mais oito no solo. As circunstâncias do acidente nunca foram completamente elucidadas, e as especulações variam entre uma manobra evasiva para evitar um Mirage, erro da tripulação ao tentar manobras de exibição (o Concorde, em estágio de desenvolvimento mais avançado, havia feito uma impressionante exibição no dia anterior), defeito da aeronave e até mesmo sabotagem e espionagem (Guerra Fria, lembra?

Apesar da tragédia presenciada por mais de 200 mil pessoas, o desenvolvimento da aeronave continuou, e em dezembro de 1975 o Tu-144 entrou em operação regular. Operado pela companhia estatal soviética Aeroflot, realizou apenas 102 voos comerciais até ser oficialmente retirado de serviço, em 1978, principalmente por causa da falta de confiabilidade e exagerada complexidade da aeronave. Um novo acidente fatal acabaria definitivamente com o programa, que numa análise econômica realmente não tinha como dar certo: enquanto no Ocidente haviam ricaços que faziam questão de pagar mais de dois mil dólares por um vôo entre a Europa e os EUA, o que ajudou a custear a operação do Concorde por quase três décadas, na comunista União Soviética esse tipo de público simplesmente não existia.



Mesmo não sendo mais utilizado para voos regulares, a produção desse caríssimo avião estranhamente durou mais seis anos, com um total 17 aeronaves construídas. Loucura dos russos? Na verdade, os Tu-144 continuaram desempenhando uma série de testes e desenvolvimentos que continuariam após o final da guerra fria, já com apoio americano. Com a definitiva falta de interesse por vôos comerciais, hoje ele pratica o mesmo tipo de atividade dos Concordes sobreviventes: o descanso.


fonte/Jalopnick/foto/Tupolev
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