SUSTO PARA UNS, ROTINA PARA OUTROS QUE VOAM

A informação chegou no início da semana passada, meio truncada e repleta de desconfiança. Uma passageira de um dos últimos voos programados para decolar do Santos Dumont na noite de sábado reclamava de ter sido obrigada a ficar aguardando na pista, aparentemente sem motivo algum, por longo tempo. Depois de um tempo sem respostas, o comandante informou do cockpit que o motivo da demora tinha sido um “pouso não autorizado” de uma aeronave no Santos Dumont, o que teria obrigado os operadores na torre a refazerem os planos de aproximação, pouso e decolagem das aeronaves já com autorização de operação. No recado que recebi, a indignada passageira queria saber quem teria tanto poder a ponto de poder parar a operação de um aeroporto por conta própria.

Intrigado, decidi apurar a história junto a fontes, digamos, não oficiais, já que não havia qualquer registro de incidente reportado em sites, ou seja, nada que fosse relevante ser noticiado num sábado à noite. Não é um grupo muito conhecido, mas os spotters– gente viciada em acompanhar, fotografar e comentar sobre aeronaves que pousam ou partem dos aeroportos – não estão sozinhos nessa vigília. Há quem goste, mais ainda, de observar como os ATCs conseguem sincronizar todas as aeronaves pelo radar. Alguns conseguem acompanhar as conversas de rádio entre a torre e os pilotos que entram na aproximação do SDU.

Uma dessas fontes me enviou uma gravação, elucidando o que havia ocorrido. Em vez de um pouso não autorizado, a história era um pouco mais dramática – porém considerada rotineira em uma pista com alto grau de dificuldade técnica como a do Santos Dumont, especialmente quando a final é a cabeceira 02, que dá para a boca da baía.

Pelo áudio, por volta de 21h30, o operador da torre de controle no Santos Dumont recebeu o chamado do piloto de um Cessna 172, aeronave pertencente ao Aeroclube Skylab e usada comumente para instrução.
O aparelho fica baseado em Jacarepaguá e estaria retornando de um voo quando reportou um problema mecânico.

É possível ouvir claramente o piloto informando estar em “pane real”, ou seja, avisava ao controlador que a situação de emergência era real. Não é fácil distinguir que tipo de problema o Cessna tinha, mas provavelmente falha de motor.

A consulta seguinte foi um pedido para que a aproximação emergencial fosse feita pela Lagoa, a fim de cortar caminho. A autorização não foi dada e o piloto então chamou pedindo o pouso para a cabeceira 02, na qual o piloto segue paralelo à pista do Galeão, a 1.500 pés e passa sobre Santa Teresa e Laranjeiras, alinhando pela boca da baía. Foi o momento mais crítico, já que na mesma comunicação ele informa que não conseguiria chegar ao aeroporto e tentaria um pouso na praia – provavelmente Copacabana.
– Na areia ou na água? – pergunta a controladora. – Na areia, – respondeu o piloto.

Ao mesmo tempo, o controle entrou em contato com a tripulação do TAM 3958, vindo de Congonhas, entrando na terminal em direção ao radiofarol Paiol (uma antena na Ponte Rio-Niterói), sobre o qual se desacopla o computador a 600 pés para finalizar o pouso via cabeceira 20. O jato recebeu comando para abortar e desviar para espera enquanto o Cessna manobrava e pousava, felizmente, em segurança. Enquanto essa operação se desenrolava, todos tiveram de esperar. Foi mais um dia comum na aviação.

fonte/JBOnLine

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