AMERICANO CONTA EM LIVRO COMO SOBREVIVEU A QUEDA DE AVIÃO 30 ANOS APÕS O ACIDENTE

Norman Ollestad tinha só 11 anos quando viu seu pai e a namorada dele morrerem na sua frente, depois que a aeronave particular em que viajavam caiu nas montanhas de Los Angeles. Trinta anos depois do acidente - que também vitimou o piloto da aeronave -, o americano resolveu revisitar as lembranças e escreveu, com detalhes, como sobreviveu à tragédia.

Mais do que um relato da aventura em si, "Loucos pela tempestade", lançado no Brasil pela editora Record, retrata a especial ligação de Norman com seu pai, um aficcionado por esportes que desde cedo submeteu o filho a uma rotina de exercícios rígida. Uma rotina que salvou sua vida.
À primeira vista, o leitor pode ter a impressão de que o pai de Norman era um carrasco, daqueles que obrigam o filho a enfrentar o mar gelado para surfar contra a vontade da criança. Mas, na verdade, ele era uma figuraça: ao mesmo tempo em que trabalhava para o FBI, morava em Topanga Beach, uma praia de nudismo na Califórnia, ao lado dos melhores surfistas dos anos 70. 


- Meu pai tinhas múltiplas facetas. Ele podia ter conversas intelectuais com artistas ou ter discussões políticas ou ficar em torno de uma fogueira com surfistas. Ele amava a diversidade. Nada parecia amedrontá-lo - conta. 

Quando Norman nasceu, seu pai já havia deixado a agência americana. Revoltado com o que vira no gabinete de J. Edgar Hoover, ele resolveu escrever um livro denunciando casos de corrupção no escritório do chefe, chamado "Inside the FBI". O casamento dos pais também durou pouco: eles se separaram quando Norman tinha apenas 3 anos. Mas o pai morava do outro lado da rodovia e era figura presente na vida do menino: tirava-o da cama cedo para pegar onda e levava-o para esquiar nas montanhas mais íngremes.
- Meu pai não achava que estava sendo durão comigo. Ele estava agindo puramente com amor e por isso eu não tenho nenhuma mágoa pelo o que ele me fez passar. Eu o agradeço quase todos os dias por me mostrar o caminho para tanto prazer - diz Norman, hoje com 42 anos. 

No verão antes do acidente, o pai de Norman o levou a uma viagem de aventura que durou vários dias. Eles saíram da Califórnia de carro, alugaram um barco e foram até o México, visitar os avós, conta ele no livro. Cruzaram a selva, ficaram atolados nas estradas, surfaram e passaram por várias dificuldades.
- Aquela viagem ao México resumiu, em apenas alguns dias, o que era estar com o meu pai o tempo todo: uma louca e maravilhosa aventura. Não sinto como uma viagem de despedida. Sinto como a essência da relação que existia entre nós dois - diz Norman, que hoje faz com Noah, seu filho de 9 anos, as mesmas coisas que seu pai fazia com ele. 

Foi justamente a paternidade que o motivou a abrir u baú de lembranças, depois de tantos anos.
- Até eu me tornar pai eu não entendia a história toda do relacionamento com meu pai. Eu não estava pronto até começar a fazer com meu filho as mesmas coisas que meu pai fazia comigo. Foi quando eu entendi os dois lados da equação - observa o autor.
Para tal, ele voltou à montanha, escalou o terreno que teve de descer 30 anos antes por conta do acidente e tomou notas num caderno durante todo o percurso. 

- Achei pedaços do avião numa altura de 2,5 km. Ao tocar as mesmas pedras e passar pelas mesmas valas, tudo me veio à lembrança. As horas que passava escrevendo não foram tão dolorosas como as horas depois. Eu ficava muito cansado e tinha que me exercitar diariamente. Depois, dormia a tarde toda -conta Norman.

O sacrifício, pelo visto, valeu a pena: "Loucos pela tempestade" está há semanas na lista dos mais lidos no jornal "New York Times". Para Norman, o sucesso de seu livro deve-se ao fato de sua relação com seu pai ser universal. 

- As pessoas querem vivenciar as ligações entre as pessoas e os relacionamentos, e um livro é uma forma muito íntima de embarcar numa viagem. Além disso, meu pai é um personagem muito excitante para se acompanhar numa história - acredita o autor. 

fonte/OGlobo

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