AEROPORTO INTERNACIONAL DE SÃO RAIMUNDO NONATO NO PIAUÍ É CONCLUÍDO

O polêmico Aeroporto Internacional Serra da Capivara, construído na zona rural do município de São Raimundo Nonato, região sudeste do Piauí e distante 525 km da capital Teresina, está com suas obras finalizadas. A construção se arrastava por mais de uma década sendo alvo de inúmeras denúncias de irregularidades.

Com a conclusão dos trabalhos o terminal de passageiros e a pista de pouso e decolagem com 1.650 metros já estão recebendo voos privados e podem operar, inclusive, no período noturno.

Em visita ao local na última sexta-feira, dia 23, nossa reportagem constatou que toda a parte estrutural, hidráulica e elétrica, incluindo piso, revestimento, cobertura, forro, vidros, iluminação, portas, janelas, bancadas, área de quiosques e lojas, espaço para lanchonete, equipamentos contra incêndios, área para escritórios administrativos, base de apoio para empresas e funcionários, estacionamento, acesso, entre outros itens estão finalizados. Até mesmo o elevador interno já foi instalado.

No entanto, dentro do prédio faltam pequenos detalhes como o corrimão nas escadas de acesso ao segundo piso e nos corredores desse andar. A obra foi executada pela construtora Sucesso com recursos do Ministério do Turismo através de emendas parlamentares do deputado federal José Francisco Paes Landim (PTB) e apoio do Governo do Piauí. Informações repassadas pela empresa Esaero, que administra o local e mantém funcionários para auxilio aos passageiros e operação das aeronaves, confirmam que o aeroporto conta com sinalização horizontal na pista e no pátio de aeronaves, além de balizamento noturno que pode ser utilizado para pousos e decolagens durante a noite. A brigada dos Bombeiros que teve a equipe treinada em Natal (RN) e na Base Aérea de Alcântara (MA), já dispõe de uma viatura equipada para combate a incêndios mas ainda não recebeu nenhuma ambulância para atendimentos de emergência. Na parte estrutural falta a ligação da rede de água através da empresa de Águas e Esgotos do Piauí (AGESPISA), para que os banheiros, chuveiros do sistema automático contra incêndios e torneiras possam funcionar, além da operacionalização da "torre" de controle aéreo, a instalação do terminal de combustível e a construção do reservatório de água para o grupamento contra incêndios.

O impasse agora para seu pleno funcionamento parece se resumir as condicionantes apontadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), que esteve no aeroporto para uma vistoria oficial e encontrou algumas incorreções e falhas. Foram solicitados ajustes técnicos que o Governo do Piauí diz estar tratando diretamente com Brasília. Algumas semanas atrás o governador Wellington Dias (PT), esteve na capital federal em audiência com o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB), tentando agilizar os trâmites necessários para a homologação do aeroporto.

Segundo a vice-governadora, Margarete Coelho (PP), que desembarcou recentemente no aeroporto com uma comitiva internacional que incluía, entre outras autoridades, o embaixador da Alemanha no Brasil, Dick Brengelmann, a meta é viabilizar a operação regular de pequenos voos comerciais para que nos próximos anos ele se consolide como um pólo de transporte regional, desencadeando uma revolução na economia local com o incremento no fluxo de visitantes que chegam principalmente para conhecer os parques nacionais Serra da Capivara e Serra das Confusões, as duas maiores unidades de conservação do Nordeste. (André Pessoa).


INTERNACIONAL SÓ NO PAPEL

Apesar de ter sido batizado e planejado para ser um aeroporto internacional, existem algumas restrições que impedem que o local tenha capacidade para receber voos originários de outros países.

Para que isso fosse possível seria necessário uma série de ajustes no projeto que não foi executado completamente. Em primeiro lugar a pista que atualmente conta com 1.650 metros precisaria ser ampliada conforme o projeto original para 2.400 metros além de vários detalhes técnicos como a criação de unidades da Polícia Federal, Receita Federal, Alfândega, Vigilância Sanitária, Torre de Controle Aéreo com atendimento bilíngue, entre outros aspectos.

Enquanto a cidade não dispõe desses órgãos, a alternativa para que o aeroporto possa eventualmente receber vôos do exterior a médio prazo é ter as configurações da pista adequadas para suportar grandes aeronaves, assim os aviões de voos charters, como por exemplo os oriundos da Europa poderiam ser nacionalizados em qualquer aeroporto internacional do Brasil, fazendo com que os passageiros passem pela migração e alfândega e depois sigam na mesma aeronave para São Raimundo Nonato.


MUSEU DA CAATINGA

A homologação do Aeroporto Internacional Serra da Capivara através da ANAC é pré-requisito para que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), libere as primeiras parcelas de um aporte financeiro de 13,7 milhões para Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), iniciar a construção do Museu da Natureza, na zona rural do município de Coronel José Dias, nas proximidades do principal circuito turístico do Parque Nacional Serra da Capivara, o Boqueirão da Pedra Furada (BPF).

Segundo a instituição financeira a operação acontece no âmbito do Programa BNDES para o Desenvolvimento da Economia da Cultura (BNDES Procult), com recursos não reembolsáveis do Fundo Cultural do Banco. A participação do BNDES corresponde a 68% do valor total necessário para viabilização do projeto. Localizado nas proximidades do Centro de Visitantes do Parque e de uma fábrica de cerâmica artesanal, o museu abrigará entre outras atrações uma coleção inédita de fósseis de animais da megafauna que ocupava a região e que entrou em extinção há cerca de 10 mil anos devido às mudanças climáticas ocorridas nessa parte do planeta.

Alguns fósseis são de espécies que até o momento só foram encontradas nessa área do Piauí e receberam nomes científicos que fazem referência a região. Com dois pavimentos e uma área construída total de 4 mil m², o museu terá espaço de exposição, restaurante, auditório, lojas, área reservada ao acervo, instalações administrativas e sanitários. Além dos objetos expostos, serão usados recursos de animação, fotografias, perspectivas digitais e interatividade, assim como projetores, computadores, sensores, telas de cristal líquido e plasma, instrumentos interativos, sonorização, iluminação e sistemas de automação. O projeto também contempla sistema de segurança, com iluminação de emergência, vigilância eletrônica, alarmes e extintores de incêndio. A obra deverá ser entregue em dois anos e o valor total do projeto é de R$ 20 milhões.

VISÃO DO FUTURO

O sonho que se materializa na construção do Aeroporto Internacional Serra da Capivara é o resultado da incrível trajetória da pesquisadora paulista Niéde Guidon, que completa 82 anos no próximo mês de março e que chegou na região de São Raimundo Nonato no começo da década de 1970. Nesses ininterruptos 35 anos de investigação científica e de um vasto legado de obras estruturantes, ela conseguiu projetar de forma positiva, mundo afora, um pedaço do sertão do Piauí desconhecido até então pelos próprios piauienses.

Niéde foi a protagonista da criação do Parque Nacional Serra da Capivara – declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco -, e da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) – que mantém laboratórios de alto nível e um museu que é referência mundial sobre a pré-história do continente. Também foi ela que sugeriu e lutou pela instalação da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) – que oferece cursos de graduação em Arqueologia e Ciências da Natureza no campus Serra da Capivara -, e agora deseja finalizar essa odisséia com dois novos projetos futuristas. Um deles, o Museu da Natureza, deve ser viabilizado nos próximos meses com apoio do BNDES. O outro, visto como a cereja do bolo de toda essa revolução cultural, econômica e social, seria a construção do resort Serra da Capivara numa área muito próxima ao parque nacional.

O projeto – que já teve incentivo fiscal aprovado anos atrás pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), e terras cedidas em regime de comodato pelo Governo do Piauí através de aprovação pela Assembléia Legislativa do Estado -, prevê a construção de um mega complexo hoteleiro de alto nível dotado de cinema, teatro, restaurantes e toda estrutura necessária para atender turistas do Brasil e do exterior, numa área conhecida como Serra Vermelha. Ao hotel se conecta uma espécie de disneylândia da pré-história, um parque temático onde os visitantes poderão participar de escavações arqueológicas, conhecer sítios históricos, interagir com espécies da fauna e flora da Caatinga, contemplar maquetes em tamanho natural dos animais da megafauna, entre outras atrações. O projeto ganhou o nome de Arkeópolis e está todo planejado pela arqueóloga e sua equipe que já adquiriu, inclusive, algumas áreas de interesse natural para a sua futura implementação. Agora é esperar os grupos econômicos que possam investir nos projetos acreditando no potencial de uma das mais importantes regiões naturais e culturais do planeta, berço de nossos antepassados e de um bioma exclusivamente brasileiro, a mítica Caatinga.

fonte/MeioNorte

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